Chamada Direta

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Como de custume, tirei o carro da garagem às seis horas da manhã, um dia chuvoso, comum nestes dias de verão e igual a todos os outros...
Bem, seria um dia igual, mas, a vida de taxista não é nada fácil como parece ser.
Ao sair de casa, não sei precisar para onde vou, nem sei calcular que horas voltarei hoje e mais ainda, nem sei se eu voltarei vivo.
Tudo bem, estou acostumado com este ritmo de trabalho, esta profissão é viciante, pois afinal, quem não gosta de ganhar dinheiro, levar uma vida melhor e dar uma boa vida para sua família?
Moro em uma cidade com aproximadamente setecentos mil habitantes, uma cidade do interior de São Paulo, conhecida como a capital do avião, bem arborizada, limpa e florida, com uma mobilidade urbana ainda tranquila, apesar da hora de saída das fábricas, que soltam seus funcionários no mesmo horário e aí a coisa fica feia.
Tenho sessenta anos de idade, nem sempre fui taxista, trabalhei na multinacional General Motors, a famosa GM, durante toda a minha vida e quando me aposentei, há mais ou menos trinta anos, vim trabalhar como taxista; conheço cada lugar da cidade onde trabalho, também conheço bem São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais e outros lugares.
Ao sair de casa hoje, senti um ânimo revigorado, apesar de ser um sábado e normalmente os sábados são bem tranquilos, aproveitamos para dar um trato nos carros...colocar os assuntos em dia.
O rádio da Rádio Táxi estava mudo, apesar de agora recebermos as corridas por um aplicativo, que chamamos de pda, do qual vem os dados do cliente, tais como o endereço, telefone, nome, forma de pagamento e algumas vezes até mesmo o destino do passageiro.
Mas, desta vez foi diferente...
Um pouco antes de chegar ao ponto de origem, fui chamado pelo rádio, ouvi o operador modular (falar):
- "Carro quatro três dois! Carro quatro três dois! Carro qutro três dois! Copia a central!"
É desta forma que a central de rádio comunica com os motoristas, por códigos, assim foi.
Como não estamos mais acostumados a ouvir o rádio, que nem percebi que a chamada era para mim, assim que eu percebi, peguei a portadora e logo respondi, dizendo:
- Qap central, quatro três dois na escuta! Positivo?
A central em seguida respondeu:
-"Positivo quatro três dois, uma cristal solicitou seu trabalho, reportou ser uma chamada direta, qsl?"
Chamada direta, é quando um passageiro entra em contato com a nossa Central e quer que tal motorista o atenda, informa o prefixo dele e aguarda a central chamar e confirmar com o motorista a corrida.
Normalmente são pessoas conhecidas que nos chamam para uma corrida.
Disse a central:
- Positivo central, pode passar o endereço do qth da cristal.
Após a central ter passado o endereço da passageira, anotei rapidamente e disse:
- Qsl total central, tks. Estou em qti. Bom dia e bom batente.
Pensei que a central não tinha mais nada para me dizer, mas ela continuou:
- Quatro três dois, a cristal reportou ser botina branca, qsl?
- Qsl, tks.
Respondi.
" Botina branca " quer dizer que é médico, ou seja, é urgente e deve- se ir o mais rápido possível.
A central então:
- Tks quatro três dois, bom batente.
Agradeceu- me e desejou um bom trabalho.
Dalí eu parti para o endereço anotado em meu carderninho de anotações o mais rápido.
O nome da passageira era Wilma.
Confesso que eu não me lembrava de nenhuma Wilma, muito menos associando o endereço com o nome, mas, segui com o qtc.
O endereço era no final da rua, uma rua solitária e aparentemente com poucos moradores por alí, uma rua sem saída num bairro chamado Jardim Pararangaba, zona Leste de São José dos Campos- SP.
Ainda não me recordava da passageira...
Ao chegar próximo do número reportado, não consegui visualizar o número, por esta razão, tive que voltar para o início da rua, e assim quando eu cheguei em um número da casa que poderia ser, por dedução, reparei a porta entreaberta e estacionei de uma forma em que a dona Wilma poderia entrar e assim, poderíamos seguir a corrida.
A casa era meio sombria, parecia abandonada, sem cuidados de manutenção. Como isso era comum, não consegui perceber nada de anormal.
Parei o carro sem desligá- lo, liguei o taxímetro, abri a porta e fiquei em pé esperando a dona Wilma.
Tão logo eu estava em pé, a dona Wilma apareceu:
- Bom dia, senhor Sérgio Cabral, tudo bem com o senhor?
Ouvi uma voz rouca e cansada, parecia de uma senhora de uns oitenta anos, mas, ao me virar, para minha surpresa, era uma moça de uns trinta anos de idade, loira dos olhos claros, magra, com um aspecto de sem cuidados, estava com vestido amassado, sandálias do tipo rasteirinha, não portava malas, apenas uma pequena bolsa.
A dona Wilma chegou cumprimentando- me com um grande sorriso.
Assim que ela terminou de falar, eu respondi:
- Bom dia, dona Wilma?
Ela continuou a sorrir e disse:
- Sim e muito obrigada por vir. Posso viajar no banco da frente?
- Sim, claro.
Respondi e abri a porta da frente. Ela pediu me que se podia viajar no banco da frente, por que eu tinha aberto a porta de trás...
Como bom motorista e profissional que sou, gosto sempre de fazer a gentileza para os meus clientes, abrindo a porta e muitas vezes auxiliando- os na entrada do carro, normalmente a pessoa viaja atrás, só que a dona Wilma preferiu ir na frente. Isso também é possível, tem passageiros que preferem ir na frente ao invés de irem atrás.
Bem, ainda não me apresentei, me chamou Sérgio Cabral, mas, o meu apelido é Jacaré, quase todos na praça do táxi tem apelido e isso não seria diferente comigo.
Tenho dois filhos, os quais são casados e me deram três netos, posso dizer que sou uma pessoa realizada, que amo a minha esposa, os meus filhos e netos, no meu trabalho faço o melhor que posso e procuro viver da melhor forma possível com todos do meu convívio social.
Fechei a porta e dei a volta, o dia estava meio cinzento, escuro e assim que eu entrei, sentir um frio, um arrepio tomou conta de mim, mas, engatei a primeira marcha e começamos a nos deslocar, aí veio a minha pergunta clássica:
- Para onde a senhora quer ir?
Como motoristas, a resposta desta pergunta é sempre esperada que seja para longe, assim já garantimos uma boa parte da renda diária.
E para a minha alegria ela disse, assim que ela colocou o cinto de segurança:
- Vamos para Piranguinho, no estado de Minas Gerais, o senhor conhece?
Normalmente, as pessoas perguntam o valor, mas, como ela não perguntou e eu já tinha ligado o taxímetro, continuei com ele ligado, só atualizei para bandeira dois.
Respondi rapidamente:
- Conheço sim, é uma pequena cidade da região de Itajubá, passa por Paraisópolis, pelo bairro de Cruz Vera, depois Brasópolis e logo chega em Piranguinho, vocês tem o orgulho da cidade ser conhecida como a capital do pé de moleque.
Ela estendeu a mão e me entregou um papel de pão, escrito o endereço onde ela queria que eu a levasse.
A escrita estava um pouco apagada, mas, dava para ver, com um pouco de esforço o endereço, número e cidade.
Ao pegar o papel de sua mão, pude notar que ela estava com frio, neste momento eu disse:
- Nossa, você está fria e não trouxe agasalho, você quer o meu paletó preto?
Ela simplesmente concordou com a cabeça e eu parei o carro no acostamento, liguei o pisca alerta, fui atrás do carro e peguei no porta malas o meu paletó que eu já ando com ele, que por ventura eu possa precisar, se eu for viajar para algum lugar frio ou de madrugada...
Peguei- o, dei uns tapas para tirar qualquer poeira que houvesse, fechei o porta malas com uma certa delicadeza e voltei para o banco do motorista e estendi em seu ombro, que a acolheu e pude ainda sentir um frio vindo dela.
Eu a ouvi dizendo, enquanto eu colocava o paletó...:
- Muito obrigada, senhor Sérgio, é um homem muito gentil, não é à toa que deve ter muitos clientes...
Eu sorri e retruquei:
- Imagina mesmo, apenas faço o meu trabalho, procuro sempre ter um diferencial, para me manter no mercado.
Dona Wilma, olhou para mim e falou, com cara de quem iria pedir algo, dizendo:
- Senhor Sérgio, vou precisar de um favor do senhor, posso contar com a sua ajuda?
Eu continuei a olhar para frente e disse com um sorriso nos labios:
- Claro que pode contar comigo, estou aqui para lhe ajudar no que for preciso.
Fiquei esperando o favor que ela precisava que eu fizesse.
Ainda estávamos na Rodovia Presidente Dutra no quilômetro 121,5, entre Caçapava e Taubaté, eu olhei meio que de lado, só movendo os meus olhos, sem ao menos virar a cabeça, pude observar, ela olhando para a janela em busca de algo ou alguém.
Logo depois desta minha observação, dona Wilma me disse:
- O senhor poderia, por gentileza, entrar nesta estrada e seguir até aquele casebre lá na frente?
Ela continuou:
- Preciso que o senhor desça e pega o meu filho que está lá e já faz algum tempo, na verdade, eu vim aqui com esta missão, de buscá- lo e levá- lo para Piranguinho.
Conforme ela ia falando, observei que havia realmente uma casa ao longo de uns duzentas metros, uma casa velha, mas, com vestígios de pessoas morando lá, havia roupas no varal, inclusive de criança, uma antena parabólica, com uma chaminé soltando fumaça, ao chegar mais ou menos vinte metros, ela pediu:
- O senhor, pode pegar ele para mim, ele se chama Caíque e as pessoas já estão sabendo que o senhor vai pegá- lo, já estão te aguardando.
Apenas balancei a cabeça, concordando.
Normalmente, os motoristas não fazem isso, apenas param o automóvel e esperam as pessoas fazerem o resto, mas, eu não sou assim, penso que eu devo ser sempre diferente, é uma forma de me destacar entre os meus " colegas ".
Pisei no freio, desliguei o motor, tirei a chave do contato, ainda pairava um frio dentro do carro, havia uma chuva fina, mas, quando eu saí, apesar da chuva, lá fora estava mais quente do que dentro do veículo.
Caminhei lentamente até a porta do casebre, passei entre as roupas no varal, faltando uns três passos para eu chegar até a porta, parei e bati palmas e disse, com uma voz calma e serena:
- Bom dia pessoal!
Não demorou nada, a porta se abriu bem devagar, logo meus olhos vêm uma senhora, com os cabelos ainda sem pentear, mas, com rosto aparentemente de uma pessoa do bem, que disse ao me ver ali em pé perante ela:
- Bom dia! Senhor Sérgio?
Eu sorri e disse ao estender a minha mão direita para cumprimentá- la:
- Bom dia! Sim, sou o senhor Sérgio, muito prazer em conhecê- lá.
Ao pegar em sua mão, senti que estava um tanto gelada, mas, trabalho com muitos idosos e sei que eles sentem mais frio do que os mais jovens.
Depois de me cumprimentar, ela continuou a falar:
- Que bom que o senhor veio, eu estava te esperando há algum tempo. O Caíque está aqui, pronto para o senhor levá- lo, pode entrar por favor, só não repare na bagunça, sou uma senhora com poucas forças para a realização dos trabalhos domésticos.
Ao entrar, disse observando o interior:
- Não se preocupe, eu entendo.
Sua casa, era na verdade muito limpa, mas, era uma casa sem cores, era escuro e fria, apesar de estarmos vivendo o verão de dois mil e quinze, um cheirinho de café fresco e uma mesa posta com pães caseiros, chimia de morango, bolo de fubá, ao olhar para um pouco mais a frente, vi o Caíque. Um menino lindo, loiro e calmo, estava vendo desenho na TV.
A senhora me falou:
- Sente- se e tome café, como eu tinha dito, estava te esperando e sei que vocês farão uma viagem um pouco longa, então preparei este café reforçado para o senhor, Caíque já tomou o café e têm alguns lanches para ele e para o senhor na mochila dele.
Esfreguei as duas mãos e assoprei entre elas, meus olhos brilharam ao ver um café feito com tanto carinho e capricho, que não resisti.
Puxei uma cadeira de madeira maciça, sentei e a senhora me disse:
- Pode comer a vontade, não precisa fazer cerimônia, eu já me alimentei e este café é para o senhor mesmo.
Que bondade emanava desta senhora, com um semblante sereno e muito tranquilo.
Após ter terminado o café, ela me convidou:
- Vem aqui para conhecer o Caíque.
Eu me levantei e fui em direção de onde estava vindo o som de sua voz, ao chegar, vi o Caíque todo arrumado e ela em pé do lado dele, disse apontando para mim:
- Caíque, este é o nosso amigo que veio levar você para a sua avó lá em Piranguinho, obedeça ele, ele é uma pessoa do bem e veio para nos ajudar.
Enquanto ela dizia estas palavras, foi abaixando até ficar da altura do menino, ele a abraçou, deu um beijo e veio até a mim, me deu a sua pequena mão e antes de sairmos eu comentei:
- Muito obrigado pela café da manhã, estava divino, obrigado pela confiança depositada em mim.
Ela me abraçou e disse:
- Nós que somos muito gratas a você, não foi por um acaso que você foi chamado, você é um ser muito especial, por isso esta missão lhe foi dada. Boa viagem e que tudo ocorra da melhor forma possível.
Sorri e ao mesmo tempo, haviam lágrimas em meus olhos, eu e o Caíque nos despedimos e saímos do casebre, fomos rapidamente para o carro.
Dona Wilma, estava aguardando- nos, enquanto corríamos para o carro, pude ver o sorriso dela ao nos ver, ao chegar no carro, abri a porta de trás e coloquei o menino dentro, sentado no banco e passei- lhe o cinto de segurança sobre o seu ombrinho.
Após ter fechado a porta, observei que ela conversou um pouco com Caíque, dei a volta no carro e entrei, coloquei a chave no contato, liguei e perguntei:
- Tudo certo, podemos seguir viagem ou a senhora quer ir em outro lugar?
Quando começamos a sair, a senhora da casa, foi lá fora e acenou com a mão para nós, eu gentilmente levei a mão na buzina, dando um pequeno toque, o suficiente para ela ouvir.
A dona Wilma me disse:
- Bem, eu te passei o endereço final onde o Caíque vai ficar, mas, quando chegarmos lá, mostrarei ao senhor um lugar que preciso passar antes do senhor chegar ao destino, tudo bem para o senhor?
Neste momento pegamos a Dutra novamente, aí eu respondi:
- Para mim está tudo certo, a senhora me deu um café reforçado e foi muito bom, dá para tocar direto para lá.
Eu me lembrei de uma coisa e comentei:
- Nossa, eu fui muito grosseiro com aquela senhora.
Dona Wilma arregalou os olhos e perguntou, assim que ela ouviu o meu comentário:
- Uai! O quê aconteceu?
Eu respondi:
- Eu me esqueci de perguntar o nome dela e ela já sabia o meu...eu acho que fui grosso com ela e ela tão gentil comigo.
Ah pode ficar tranquilo, a tia Lourdes é assim... Quando ela bate o olho, ela sente se a pessoa é gente boa ou não. Garanto que ela gostou de você. A tia Lourdes e eu não nos vemos já faz uns dez anos.
Eu fiquei pensativo e curioso com o porquê elas não se vêem há dez anos, mas, antes mesmo que eu formulasse a pergunta, ela foi dizendo:
- Desde quando eu levei o Jorge para apresentar a minha familia, quando ela olhou para ele, saiu da sala, nem quis cumprimentar o meu futuro namorado e marido, aí desde então, não nos vemos, ela falou que o Jorge não seria um bom marido, que não seria um bom pai, na época eu era bem mais nova e quando somos mais jovens você sabe como é, achamos que sabemos tudo e não damos a devida atenção no que os mais velhos falam.
Eu estava dirigindo e pensando no que ela estava falando, olhei para o banco de trás e lá estava o Caíque olhando para a fora da janela, todo atento para tudo o que via.
Disse para dona Wilma:
- Entendi, mas, você se casou com o Jorge e como ele era?
- O Jorge...
Ela começou a falar, depois de suspirar:
- Ele era um homem que todas as garotas da cidade queriam ter como namorado, era loiro, tinha os olhos azuis, musculoso, muito exibido, mas, também era carinhoso e romântico, me trazia flores todas as semanas, me tratava como uma rainha ou melhor, me tratava como uma princesa, era assim que ele me via e eu adorava o jeito que ele era para mim.
Ela ficou como se estivesse se lembrando para poder me falar, então, voltou a falar do amor da vida dela, o jorge:
- Acredito que ele me amava muito mesmo, logo depois que nos casamos, ele percebeu que eu não tinha estudado nenhuma faculdade, que gostaria muito , mas, não tinha nenhuma condição, ele foi lá e me matriculou na faculdade que eu queria muito, comprou um carro zero para eu poder ir para a faculdade.
Mas, um pouco antes da minha formatura, eu descobri que ele estava saindo com uma mulher, aí o meu amor por ele foi por água abaixo, mas, mesmo não nos dando bem, ele continuou a morar em casa, aí eu me lembrei que a minha tia Lourdes tinha dito, quando ela o conheceu, que ele não seria um bom marido.
Passamos uns quatro meses só falando um com o outro quando era realmente necessário...
Depois dos quatro meses, fizemos as pazes, fomos para um motel bem chique para comemorar o nosso retorno, passamos a noite toda fazendo amor, pedi ao Jorge um filho, ao que ele gostou muito da ideia.
Passaram- se uns dias, procurei um médico e foi confirmado que estava grávida mesmo.
O Jorge não sabia onde colocar tanta felicidade, minha família estava radiante de alegria, mas, eu estava muito triste...
Passaram se os nove meses e o Caíque, uma criança maravilhosa nasceu.
Todos estavam muito felizes com a chegada do Caíque, ele de fato trouxe alegria e paz para a nossa família, mas, eu no fundo não estava nada contente com aquela situação.
A vida foi seguindo o seu caminho, os anos foram passando, a minha tia Lourdes, nunca acreditou no Jorge e olha que eu nunca contei para ninguém sobre a traição dele, mas, no entanto, a minha tia tinha razão nos pensamentos dela...tia Lourdes foi embora da cidade, não nos falamos mais...Não nos vimos mais...
Eu quis saber:
- E como você reagiu a traição, ou suposta traição do Jorge, seu marido?
Dona Wilma parou um pouco de falar, olhou para longe pela janela do carro, como se estivesse buscando mais recordações e continuou a falar, sem tirar os olhos da janela:
- O Jorge na época que a mulher ligou no celular dele, perguntando se ele estava bem, ele jurou de pés juntos que não tinha nada a ver, era apenas uma amiga lá do trabalho dele e eu fiquei furiosa, mas, como uma pessoa traída fica com a fragilidade em alta, era assim que eu me sentia.
Enquanto dona Wilma dizia estas palavras, eu fiquei me colocando no lugar do Jorge, será que ela nunca se colocou na pessoa do seu marido?
Ela estava tão empolgada com o seu relato, que nem me atrevi a tirar a minha dúvida e esperei o momento certo.
Assim, ela continuou a falar:
- Agora o Jorge, pode até ser verdade da parte dele, que era uma amiga do trabalho, mas, eu fui mais a fundo...
Em algum ponto de sua conversa, me parecia que ela estava ocultando alguma coisa, algo que ela não se senti a vontade em falar para mim, mas, eu era um desconhecido e talvez isso estava deixando ela empolgada para poder falar e se desabafar...
Ela finalmente parou um pouco de falar, me dando a oportunidade de poder perguntar:
- Dona Wilma, permita- me tirar uma dúvida?
Ela olhou para mim, com uma certa atenção e disse:
- Sim, senhor Sérgio, pode me perguntar o que o senhor quiser.
Eu lancei a pergunta:
- A senhora já tentou se colocar no lugar do Jorge, quando ele te jurou de pés juntos, como a senhora mesma disse?
Ela pensou um pouco mais, limpou a garganta e respondeu a minha pergunta:
- Bem, na época que isto aconteceu, para te falar a verdade não, nem pensei nesta possibilidade. Eu estava muito furiosa, lembro que neste mesmo dia, eu disse a ele: "- Puta que pariu, viu! Eu fui fiel todo este tempo, aí vem uma biscate, você cata ela e sabe lá quanto tempo isso está acontecendo?! Eu sou muito burra mesmo!"
Ao ouvir estas palavras de fúria, olhei para ela e vi a sua artéria crescer de uma certa forma, que eu pensei que ela ia ter um enfarto do miocárdio.
Mas, logo ela voltou ao normal. Ela estava apenas se desabafando...
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Na vida, penso eu, devemos nos preocupar com as coisas que dependem de nós, o que não está ao nosso alcance, devemos deixar de lado.
Muitas vezes, perdemos muito tempo com coisas que não estão ao nosso alcance e falta tempo para as coisas importantes, as que ninguém pode e vai fazer por nós.
Por isso, vamos fazer o nosso dever e deixar o que é dos outros para eles fazerem.
Lemmbre- se:
Quem mata o tempo, está se suicidando lentamente.
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