A Revelação

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Não fui à cadeia de Itajubá, até que se completassem dois dias que ele estava lá, então, criei coragem e fui, deixei o meu filho com os meus pais e resolvi ir sozinha, tinha que ouvir da boca dele aquelas coisas, queria ver se ele era homem o suficiente para falar na minha cara que ele havia estuprado e matado aquelas mulheres.
Ao chegar na delegacia, que também eram colocados alguns presos, antes de irem para o CDP, minhas mãos suavam frias, o meu coração batia descompassado, cada passo em direção aonde ele estava era uma grande tortura para mim, busquei forças do céu, o carcereiro me conduziu à sala, onde na parede havia um vão de aproximadamente cinquenta centímetros de altura para um metro e meio de comprimento, com grades de ferro grosso, com um vidro que separava o visitante do visitado, no vidro havia uns pequenos furos, por onde se podia falar e ouvir.
O lado que eu estava era bem iluminado, porém, o lado que ele apareceria, era com pouca luz, cheirava mal.
Me sentei em uma das cadeiras que haviam ali, um guarda estava na sala, eu estava morrendo de vergonha por estar ali.
Logo começaram aparecer mais pessoas para visitar os presos, me sentia mais idiota ainda, queria sumir dalí, mas, ao mesmo tempo precisava falar com ele cara a cara.
Mais alguns minutos de tortura, ouviu- se um barulho de porta de ferro se abrindo, o guarda gritou:
- Dez minutos e mais nada!
Nós, os visitantes levantamos e apareceu alí na minha frente, o homem em quem eu amava, a quem eu dediquei a minha vida, depois que nos conhecemos, mais eu já não sentia mais amor e sim ódio, nojo daquele porco desgraçado.
Assim que ele me viu, me disse, em voz bem alta, pois aqui todos falavam ao mesmo tempo e quase não dava para entender direito, mas, eu entendi perfeitamente o que ele disse:
- Meu amor, que bom que você veio me visitar, me tirar daqui, eu sabia que você iria vir para me buscar, me diga quando o advogado disse que vai me tirar daqui, aqui não é vida para ninguém...
Neste momento se houvesse contato físico, eu levantaria a minha mão e com muita força daria um soco bem dado naquela cara dele mal lavada.
Olhei profundamente em seus olhos e disse:
- Escuta, só vou perguntar uma vez e veja bem o que você vai me responder. Você fez aquelas barbáries com aquelas mulheres mesmo?
Ele respirou e disse, com cara de inocente:
- Eu sou inocente, eu não fiz nada daquilo que eles estão me acusando e você sabe disso que sou inocente...
Ele disse estas palavras, sem ao menos olhar para os meus olhos e neste momento eu percebi, nitidamente que ele era culpado sim daquelas monstruosidades, então sem titubear, disse:
- Você é um monstro mentiroso, adeus!
Quando eu me virei para sair, dei dois passos e parei ao ouvir ele gritando:
- Wilma meu amor, pelo amor de Deus, não me deixe aqui!
Assim que ele terminou a frase dele, continuei a andar.
Sai dalí, com os passos largos, decidida a me divorciar e ao chegar lá fora respirei fundo e aliviada, sabia sem sombra de dúvidas que ele havia feito tudo aquilo mesmo.
Parecia que havia tirado um peso das minhas costas, sentir que ele havia mesmo de fato feito tudo aquilo e que não era mentira, pois até então, precisava ver em seus olhos a verdade, e vi.
Ao chegar em Piranguinho, fui direto ao advogado e pedi para ele fazer o meu divórcio, não posso mais um dia tê- lo como meu marido.
Após ser instruída pelo meu advogado, fui para casa abraçar meu filho e minha família e contei tudo para eles, estávamos aliviados, porém, apreensivos e com medo de algum coisa acontecer...
Logo o tempo passou e o dia da transferência chegou e antes mesmo dele ser transferido, o advogado foi até a cadeia com a autorização do juiz e o Jorge assinou o nosso divórcio, confesso que esta situação me deixou muito abalada, mas, após o divórcio, comecei a viver, tanto comecei a viver, que eu tive uma brilhante ideia.
Dois dias depois do meu divórcio, fui à delegacia e quis saber quem eram as famílias que haviam sofrido com as brutalidades e que eu queria fazer alguma coisa para que se possível ajudar a amenizar um pouco a dor destas pessoas.
O delegado me orientou que, se eu quisesse fazer alguma coisa por elas, eu primeiramente, teria que tentar abrir uma ONG, aí sim, seria liberado os contatos das vítimas para mim.
Voltei à Piranguinho e busquei ajuda de todo mundo e todos estavam dispostos a me ajudar, sendo assim, trinta dias depois do meu divórcio, eu estava com ONG já com as portas abertas e é bem organizada, com presidente, vice presidente, com advogados, psicólogos, assistentes sociais, com creche e um lugar muito moderno e espaçoso, bem apropriado para dar o maior apoio e salvar vidas.
Para a minha maior surpresa, dois dias depois de ter aberto a ONG, eu estava chegando em casa, ao mesmo tempo chegou uma correspondência em meu nome, quando eu vi de quem que era, eu simplesmente não acreditei, era do Jorge, eu corri para o meu escritório aqui em casa e abri com muito cuidado e muito pensativa, fiquei curiosa para o que ele tinha a me dizer ainda, depois de tudo isso que tem acontecido...
Nesta altura dos comentários de dona Wilma, eu estava olhando com outros olhos para ela, pude observar que ela é uma pessoa que apesar dos pesares, não se deixou abater com todos estes problemas, ela sempre foi mais adiante, onde o mal chegava, ela procurava sarar as dores dela e as dores alheias...
Não a interrompi de maneira alguma, estava curioso para o que poderia acontecer, então ela continuou a falar dizendo:
- Abri lentamente, milhões de coisas passaram pela minha cabeça, ao abri estava escrito assim:
Para meu grande e único amor,
Wilma.
Quando eu li isto, eu pensei- pronto, lá vem ele pedir perdão, dizendo que está arrependido e que quer o meu perdão.
Na verdade, não é meu perdão de quem ele precisa, se é que isso é perdoável, ele precisa falar com as famílias que ele arruinou, com as pessoas que ele tirou a vida, com as pessoas que ele tirou a paz e prazer de se viver, não é comigo propriamente dito.
Será que ele queria ver o meu filho, ou até mesmo me ver, se estas eram a sua intenção, com certeza eu não podia fazer absolutamente nada, pois, estas coisas não estavam ao meu alcance e somente estaria com as famílias que ele havia cometido as suas barbaridades...
Não, ao invés disso, ele conta os seus dias na cadeia, mas, sem ao mínimo de arrependimento e ele começa dizendo assim:
" Preferia estar morto do que estar vivendo isto, sei que fiz coisas horríveis, com pessoas inocentes e o que estou passando aqui é apenas um pouco das dores das pessoas que eu violentei, direta ou indiretamente.
Sei que pedir perdão para as oito vitimas, não vai ajudar em nada as dores que elas têm passado.
Quero relatar um pouco do que eu tenho passado aqui e quem sabe eu possa ajudar algumas pessoas a não cometer as mesmas atrocidades que eu cometi perante pessoas inocentes.
No dia que eu cheguei aqui, todos da " família " estavam sabendo dos meus crimes e ao passar pelos corredores sem fim e estreitos, malcheirosos, com pessoas super lotando as celas, estavam amontoados um em cima do outro literalmente, eu ouvi eles gritando e ao mesmo tempo chacoalhando as grades das celas, estavam enfurecidos:
- Oh florzinha, não vejo a hora de te pegar e ser o seu marido, eu estava precisando de carne fresca mesmo no meu pedaço, hoje a gente se encontra, seu filho da puta, espera só para você ver!
Eu só olhava para os lados, não tinha nenhuma opção, o carcereiro me empurrava em direção a cela que ia ficar, o " seguro ", onde os estupradores ficam, o corredor era extenso, era tão estreito o corredor que ao passar eles quase conseguiam me pegar com seus braços esticados, não sei o que poderia ser de mim, se eles conseguissem me pegar, muitos palavrões eu estava ouvido dos caras, quando eu cheguei na cela que eu ia ficar, não era o " seguro " e sim, na cela dos " dentistas " o guarda me empurrou na cela e trancou a grade, me puxou e tirou as algemas dos meus pulsos, que estavam inchados e doloridos, mas, isso não era nada do que eu ainda ia passar.
Assim que os " dentistas me viram entrar e as algemas foram soltas, o inferno começou, todos sem exceção, cuspiram na minha cara, quando consegui dar dois passos, o meu rosto estava encharcado de cuspe, catarros e também jogaram merda na minha cara, o irmão chefe da cela ordenou:
- Vai lavar esta cara nojenta, seu imundo!
Misturado a tudo isso, eu não aguentei e indo ao banheiro, eu fui vomitando, meti a minha cabeça de baixo da água, o vômito descia constantemente.
Após ter lavado, o líder me jogou uma toalha e eu me enxuguei, mal terminei de me enxugar, um outro irmão me puxou, fazendo eu me sentar em uma cadeira, colocado uma mão no meu queixo e a outra na minha testa e pressionando o meu queixo para baixo e a minha testa para cima, fez com que eu abrisse a boca, mais aberta possível, logo surgiu um pequeno cabo de vassoura que foi colocado atravessado na minha boca,o mesmo irmão que estava me segurando, ficou por de trás de mim segurando o cabo de vassoura, com as mãos e com o joelho apoiado na minha cabeça, forçando eu manter continuamente a boca aberta, as minhas pernas foram amarradas nos pés da cadeira e minhas mãos nas costas da cadeira e em seguida o irmão chefe, olhou para um papel e diase após voltar os olhos para mim:
- Foram oito vítimas no total... sendo duas mortes...para cada vítima você vai extrair um dente e para cada morte mais um dente, sendo no total, dez dentes... engole o choro!
Após ter dito estas palavras, veio com um alicate e começou a arrancar cada dente, o sangue corria pelo meu peito, o sofrimento era intenso, para cada dente arrancado, era uma eternidade de dor, parecia que não ia ter mais fim.
Após terem arrancados os meus dez dentes, o irmão chefe, me ordenou:
- Conta aí, em voz alta, vai!
Com o sangue correndo que nem uma bica d'agua, contei em voz alta do primeiro ao décimo dente:
- Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez!
Cada número pronunciado por mim, sangue espalhava por todo canto, um outro irmão da família, trouxe uma caneca cheia de água e mandou eu tomar tudo, quando comecei a tomar, logo percebi que era água com sal, o que fez queimar a minha boca, inchando ainda mais e deixando a minha boca latejando.
Assim que essa tortura acabou, o irmão chefe da cela, bateu com o alicate nas grades e logo apareceu um carcereiro que, ao chegar perto, o irmão abriu a mão e mostrou os dez dentes, ele então abriu a cela e antes mesmo da minha saída, o carcereiro entregou um pacote de maços de cigarro Hollywood para o irmão chefe, em seguida me levou para o " seguro ".
Antes de me colocar no " seguro " o carcereiro me perguntou:
- Gostou da pequena recepçãozinha para você? Seja grato por não ter sido nada pior, para alguns pedimos para os irmãos quebrarem as pernas, para outros os braços, para outros enfiam cabo de vassoura no irmão novato, para outros cortam o pênis e costuram na boca...dar se por feliz que a sua recepção foi branda.
Quando eu fui tomar banho, percebi que eles tinham arrancado os meus dentes com intervalo, tirou um e pulou um, tirou outro e pulou um e assim por diante até totalizar uma quantidade de dez dentes.
Eu estou ridiculamente ridículo, sem os meus dentes que eu cuidei a minha vida toda...
Agora porém, não estou preocupado com os meus dentes, aqui no " seguro " como o próprio nome diz, eu estou seguro, porém, está correndo um " salve " que vai ter uma rebelião aqui na casa dos irmãos e normalmente, quando isso acontece e o PCC abaixa a bandeira, os primeiros a morrerem são os segurados e eu não sei por quanto tempo eu viverei aqui..."
Aí senhor Sérgio, ele finalizou a sua carta, dizendo o seguinte:
" Quero que saiba, que quando eu fazia estas coisas, eu pensava no quanto eu te amava e na verdade eu queria fazer estas barbaridades com você, mas o meu amor por você não permitia que eu fizesse e por isso buscava mulheres parecidas com o seu perfil e no momento que cometia o crime, isso eu associava idealizando você, mas, quando eu chegava em casa eu te via linda, sem ferimentos, aí o meu " eu " acalmava, até que o meu ódio chegava novamente e aí eu saía em busca da sua pessoa e quando eu encontrava o seu perfil, eu não conseguia enxergar mais nada e só via você nas outras pessoas, mas, como elas reagiam, eu as machucava e por isso que duas eu as matei, pois, não saíram conforme eu planejei...
E sabe de uma outra coisa também? Elas gostavam que eu fizesse aquilo com elas, elas sentiam prazer em serem violentadas...
Após a dona Wilma ter terminado de dizer estas palavras, ela começou a chorar, mas, chorar de soluçar, como se ela tivesse toda culpa do Jorge ter feito aquilo tudo.
Eu então disse algumas palavras, pra ver se eu a conseguia animá- la:
- Dona Wilma, sei que parece que a culpa é toda da senhora, parece que o Jorge estava com um ódio mortal da senhora, mas, isso não tem nada a ver, se ele estava com algum tipo de ódio ou rancor por algum motivo, isto ele estava com a senhora e não com as vítimas e estas pessoas que nem sabiam da existência do Jorge.
Dona Wilma parece que deu uma acalmada e foi parando de chorar e após ficar um pouco pensativa, voltou a falar e disse:
- Sei que não era minha culpa diretamente, mas, em partes fazia sentido. Mas eu não me deixei a abalar, assim que li aquela carta, na hora eu entrei em choque, tive um forte desejo de ir à cadeia e com minhas próprias mãos, assassiná- lo lá mesmo, mas, depois eu pensei muito e cheguei a uma conclusão que se eu fizesse isso, eu estaria me igualando a ele, seria uma assassina e assassina eu não sou e nunca serei, posso ter os meus erros, mas, não serão nunca neste nível.
Dona Wilma estava inconformada com tudo isso, assim já estávamos chegando em Santo Antonio do Pinhal, uma cidade com uma beleza natural incomparável, com comidas típicas, um povo agradável....
Santo Antônio do Pinhal é um município brasileiro do estado de São Paulo, na Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, microrregião de Campos do Jordão.
Localiza-se a uma latitude 22º49'38" sul e a uma longitude 45º39'45" oeste, estando a uma altitude de 1.080 metros.
Sua população estimada em 2004 era de 6.827 habitantes. Santo Antônio do Pinhal foi elevado a freguesia em 1861 pelo presidente da província de São Paulo, Antônio José Henriques.
Ficaram fazendo parte da nova freguesia as fazendas de Manoel Antonio dos Santos, Francisca de Paula Oliveira Godoy e Gregorio José de Oliveira Costa.
Estância turística é um título concedido pelo governo do estado de São Paulo a municípios que apresentem características turísticas e determinados requisitos como: condições de lazer, recreação, recursos naturais e culturais específicos.
Devem dispor de infra-estrutura e serviços dimensionados à atividade turística.
Os municípios com este status podem receber suportes financeiros específicos para incentivo ao turismo.
Santo Antônio do Pinhal é um dos 12 municípios paulistas considerados estâncias climáticas pelo Estado de São Paulo, por cumprirem determinados pré-requisitos definidos por Lei Estadual.
Tal status garante a esses municípios uma verba maior por parte do Estado para a promoção do turismo regional.
Também, o município adquire o direito de agregar junto a seu nome o título de Estância Climática, termo pelo qual passa a ser designado tanto pelo expediente municipal oficial quanto pelas referências estaduais.
Os municípios limítrofes são São Bento do Sapucaí a norte, Campos do Jordão a nordeste, Pindamonhangaba a leste, Tremembé a sul, Monteiro Lobato a sudoeste e Sapucaí-Mirim (MG) a noroeste.
O clima de Santo Antônio do Pinhal é o tropical de altitude com inverno seco e verão temperado,
Foi nesta cidade muito agradável, que fizemos a nossa primeira parada, eu sugeri parar na padaria que há no centro da cidade, mas, a Dona Wilma não quis descer, porém, eu fiz questão, pois, estava com muita fome, já era por volta das nove horas da manhã.
Antes de sair olhei para o Caíque e vi que ele estava em um sono profundo e não quis acordá- lo.
Como a dona Wilma não quis sair, fui até a padaria e tomei um café reforçado e não demorei nada e voltei para seguirmos a viagem.
Ao chegar no carro, a dona Wilma estava do mesmo jeito que eu deixei e o Caíque ainda dormia.
Ao entrar no carro comentei:
- Tudo bem com vocês, vamos seguir para Piranguinho?
Ela olhou para mim e me disse:
- Não vejo a hora de chegarmos, há muitas pessoas esperando por mim, já faz um bom tempo que estou esperando para me encontrar com os meus familiares e amigos, no entanto, somente hoje é que os astros estão ao nosso favor.
Após ter ouvido estas palavras, liguei o carro, e seguimos o nosso caminho.
Aí eu fiz uma pergunta que estava engasgada aqui na minha garganta e disse:
- Senhora Wilma, sabe qual foi o motivo que levou o senhor Jorge a ter um ódio mortal da senhora?
Ela pensou um pouco e respondeu:
- Olha, para esta sua pergunta eu não posso dar a resposta, mas, eu posso garantir que os meus pais a esta altura estão sabendo e eles poderão te dar detalhes sobre este assunto.
Ela continuou a falar:
- Na verdade, existem muitos assuntos que, se o senhor se interessar, somente eles poderão te dar estas informações, a mim não é permitido falar de tudo, apenas algumas coisas.
Quando ela disse isso, eu fiquei mais confuso ainda e mais curioso, mas, se ela disse que os pais dela poderão me falar, aí eu fiquei mais tranquilo neste assunto.
- Tudo bem...
Disse eu:
- As vítimas e seus familiares, como ficaram?
Eu quis saber para que eu pudesse entender as duas partes, os dois lados da moeda.
Ela começou a falar, respondendo a minha questão:
- Bem, depois de ter lido aquela carta, confesso que eu fiquei atordoada, muitas dúvidas vieram a minha mente, mas, não tinha resposta para nenhuma delas...
Será que o Jorge estava tentando colocar a culpa em mim?
Ela pensou um pouco e disse:
- Eu cumpria com meus deveres de esposa e mulher, sempre mantive o nosso lar limpo, suas roupas sempre bem passadas, e era uma mulher econômica, amorosa, disposta a amar o meu marido, defendia- o, brigava com minha família por causa dele...
Sinceramente eu não entendi o por quê ele agiu desta forma e disse aquilo para mim, dizendo que era o ódio que ele tinha por mim?
Depois de muitas perguntas sem respostas, guardei a carta na minha gaveta, fechei com a chave e fui tomar um banho merecido, entrei na banheira, após me despi, liguei a água e deixei ser inundada com aquela água quente e cheirosa, olhei para mim neste instante e pensei:
- Ainda sou jovem, não tenho nada a ver com os crimes do Jorge, o que ele fez ele está pagando e provavelmente pagará com a sua própria vida, tenho que parar de me perturbar com esta carta, pois, é isto que ele quis ao me mandar estas palavras, direcionei os meus pensamentos ao meu filho Caíque, a quem realmente precisa de mim e muito, ele sim, é inocente nesta história toda, ele precisa de cuidado e de ser blindado o tempo todo, ele precisa do meu carinho e amor, minha atenção e respeito...
Após o meu banho e ter me alimentado, fui dormir e no dia seguinte, fui à cede da nossa ONG, ao chegar, notei que estava uma mulher bonita, com um lenço na cabeça, a me esperar, ela tinha dito a recepcionista que queria falar comigo e assim que cheguei na minha sala, pedi para ela que entrasse por favor, ao que ela fez sem muita demora.
Assim que ela entrou na sala, notei que de fato era uma mulher muito linda, com aparência física parecida com a minha, com um perfume de fragrância de rosas maravilhoso e bem vestida.
Assim me levantei e fui ao encontro desta mulher que me aguardava, eu a abracei demoradamente e olhando em seus olhos, que mais pareciam duas pedras turmalina verde, disse com um sorriso nos lábios:
- Sente- se, por favor, no que posso te ajudar?
Eu puxei a cadeira para ela se sentar e após ela se acomodar, disse com os olhos cheios de lágrimas:
- Eu preciso muito de ajuda, não estou vivendo mais, não tenho estrutura mental e nem física para continuar a viver, me ajude por favor!?
Eu peguei em suas mãos, notei que estavam geladas, peguei um corpo com água e a entreguei, o que ela tomou lentamente e logo se acalmou um pouco.
Eu perguntei para ela:
- Quem é você e como soube da nossa ONG?
Ela abaixou a cabeça de vergonha e disse, respondendo a minha pergunta:
- Eu me chamo Samanta e sou uma das vítimas de estupro do homem que estava aterrorizando a nossa região e fui visitada por uma mulher que disse que era psicóloga da ONG recém formada de vocês.
Nós decidimos, que não iríamos falar que eu era a ex esposa do estuprador e por isso esta mulher não sabia de nada, apenas que estávamos lá para ajudá- la no que fosse necessário a recuperação total de sua vida abalada pela brutalidade de um criminoso.
- Muito bem Samanta...
Comecei a falar:
- Você fez bem em vir aqui, vamos te dar todo apoio que você precisa para se restabelecer na sociedade novamente.
Na verdade, eu já tenho o seu caso em minhas mãos e vou te dar umas considerações, antes mesmo de você me contar o seu caso.
Primeiramente você não teve culpa.
Não caia, jamais na conversa de que você teve culpa.
O machismo faz com que as pessoas pensem isso, inclusive a sua família.
Respire fundo, ignore e busque ajuda externa. Vai dar tudo certo. Você está no caminho certo, lembre- se que estamos aqui para te ajudar, temos todo mecanismo para você voltar a sorrir e ser feliz
Veja bem, quero que você leia sobre violência de gênero e machismo.
Você não teve culpa do que aconteceu. A culpa é do estuprador. À medida que você for estudando vai ver que o seu caso é efeito de uma cultura machista que precisa ser mudada. Lutemos para mudar isso!
Você está fazendo o certo, buscando ajuda entre pessoas feministas na sua cidade e quero que fale sobre o que aconteceu.
Organizadoras da ONG sempre estarão dispostas a ajudar você a encontrar ajuda psicológica e legal.
Seremos suas amigas para toda a vida!
Considere receber ajuda psicológica. Isso é importante para você. As vezes a gente acha que está bem, mas não está.
Se não pode pagar por uma terapia, procure clínica-escolas de Psicologia em Universidades públicas e pagas - geralmente são serviços muito bons.
Você vai se recuperar e superar o que aconteceu. Não é impossível. Pense em você, nos seus sonhos e no que quer realizar. Você tem muitas coisas lindas para viver e conhecer!

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" Pessoas fortes, não têm passados fáceis.
Feche suas feridas, cure as suas dores e jamais se envergonhe de suas cicatrizes.
São elas que mostram que, de um jeito ou de outro, você sempre sabe como se refazer. "
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Os Segredos Por Trás Dos VultosOnde histórias criam vida. Descubra agora