Capítulo 10

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"Cada sonho que você deixa para trás é um pedaço do seu futuro que deixa de existir" - Steve Jobs


- Quando eu tinha seis anos... - ele deu uma pausa e respirou fundo, apoiou os cotovelos nos joelhos, um cotovelo em cada joelho e entrelaçou os dedos - Meu pai tentou matar a minha mãe. Eu estava na casa dos meus avós na Flórida. Meu pai era meio obcecado demais pela a minha mãe, eles brigavam sempre. Ele bebia e se drogava, então um dia ele foi para um bar com os colegas de trabalho dele e bebeu muito. Quando ele voltou para casa, ele começou a brigar com ela, a xingar e tudo. Ele cismou que ela tinha outro homem.

- E ela tinha? - perguntei cautelosamente enquanto o olhava. O mesmo continuou na mesma posição (dedos entrelaçados e cotovelos nos joelhos) e desviou seu olhar para mim

- Não - ele disse num sussurro e depois voltou a olhar para a frente - Mas ele achava que ela tinha, então ele decidiu que naquele dia em diante ele não iria mais querer aquela vida. Nem para ela, nem para ele. Quando eu voltei da Flórida, eu notei que a nossa casa não era a mesma, então minha mãe me disse aquela era a nossa casa nova. Eu perguntei o porque, mas ela não me falava a verdade. Depois de uns dias, eu comecei a sentir falta do meu pai. Eu a perguntava onde ele estava, mas ela não me respondia.

- E até hoje você não sabe onde está seu pai? - perguntei passando a mão nas costas dele num gesto de consolo

- Hoje eu sei - ele disse ainda fixando seu olhar no nada - Quando eu estava com treze anos, eu descobri. Foi horrível... Naquela época, minha mãe estava grávida de Brandon de oito meses. Eu cheguei da escola e minha mãe estava sentada na poltrona da sala, ela parecia realmente perturbada. Foi uma cena muito estranha, ela estava se balançando para frente e para trás com os olhos cheio d'água enquanto olhava para o chão fixamente. Eu dei uns passos para frente cautelosamente, mas hesitei em continuar então me parei ali. A um metro e meio de distância dela. Parecia que ela estava prestes a enlouquecer. Ela começou a sussurrar coisas como "o incêndio" "seu pai". Era meio confuso, mas eu conseguia entender. Ela dizia que meu pai tentou matá-la enquanto eu estava na Flórida, ele tacou fogo na casa, mas ela conseguiu escapar e ele morreu sozinho queimado no incêndio. Ela disse que não aguentava mais...

- Se você quiser parar é só parar - Eu disse ao perceber que ele não estava bem

Diego tinha pouca idade, mas uma história de vida que poucos tem. Quem olha para ele acha que é só mais um rebelde sem causa, mas eu estou começando a ver que não é bem assim. Sei que toda essa valentia e arrogância pode ser apenas parte da personalidade dele, mas toda sua história de vida só alimenta isso cada vez mais.

Ele começou a chorar e eu não consegui acreditar no que eu estava vendo. Diego chorando? Como assim?

- Ele pediu para eu fechar os olhos e tapar os ouvidos. Eu sempre obedeci a minha mãe, então fiz o que ela pediu - ele disse enxugando com o braço as lágrimas que estavam caindo - Mas quando eu abri os olhos, ela estava deitada no chão com a arma ainda na mão e tinha uma poça de sangue enorme saindo da cabeça dela. Eu comecei a gritar e minutos depois a ambulância chegou lá em casa. Acredito que alguém tenha escutado os gritos e os tiros e já ligaram para a ambulância porque aqui nos Estados Unidos é assim. A porta principal de casa estava aberta, então um homem negro chegou perguntando se estava tudo bem. Eu disse que não, que minha mãe tinha morrido, então logo eles entraram numa rapidez, com maca e isso é tudo que eu me lembro.

- Meu Deus, Diego... Eu sinto muito - eu disse em choque enquanto o abraçava

- Mas sabe qual é a melhor parte disso tudo? - ele disse com a cabeça apoiada no meu ombro ainda dentro do meu abraço - Brandon está aqui comigo e eu vou dar a melhor educação possível para ele e lutar por ele enquanto eu ainda puder

- E quanto aos seus avós?

- Morreram uma semana depois do meu aniversário de dezoito anos - ele disse numa naturalidade enquanto se soltava do meu abraço - Mas eu já não sofro tanto por causa da morte deles. Eu sei que era a hora, isso acontece. O importante é que eles viveram bastante e me deram uma base para recomeçar, sabe? Quando eles morreram eu vendi a casa na Flórida e voltei pra Chicago com Brandon. Eu tive que abandonar o meu maior sonho depois que eles faleceram.

- E qual seria seu maior sonho? - perguntei curiosa

- Ser jogador - ele disse e deu um leve sorriso - Jogador de futebol americano

- Diego! - eu exclamei - Você não pode simplesmente largar seu sonho assim, menino. Você com certeza deve ter uma certa capacidade

- Eu sei, Amanda! - ele disse me olhando - Mas é complicado, um dia você vai entender melhor, você ainda tem muito o que aprender

- Como assim? - eu perguntei assustada. Ele tem a minha idade e fala como se tivesse sessenta anos, pelo amor

- Nós temos a mesma idade, mas eu tenho muito mais experiência na vida do que você, fique sabendo disso

E lá voltou o arrogante do Diego... Eu não disse que isso faz parte da personalidade dele?

[...]

- Bom dia, bebê - eu disse enquanto acordava Brandon

O menino deu um sorriso gostoso enquanto esfregava os olhinhos

- Bom dia, bebê

Eu tinha vontade de apertar as bochechas dele toda vez que ele me chamava de bebê com aquela vozinha linda de criança

Deixei Brandon no quarto dele e fui até a cozinha fazer nosso café da manhã

- Bom dia - eu disse ao ver Diego de costas lavando a louça

- Bom dia - ele disse friamente

Cheguei no lado dele e comecei a enxugar os pratos que ele tinha acabado de lavar:

- Voltou a ser o que era antes? - Perguntei ao lembrar da última noite e do modo como ele estava se comportando

- Nunca deixei de ser o que sou - ele disse tirando a espuma dos copos que ele acabara de lavar

- Estou falando sobre a última noite

- Como você é trouxa, Amanda - ele disse e deu um sorriso irônico. Benditas covinhas! - Só falar direito com você uma vez na vida que você já acha que a pessoa mudou

Que garoto dos infernos.

Parecia que ele vivia embaixo de uma proteção vinte e quatro horas por dia e que ás vezes tira aquela proteção toda e se torna uma pessoa mais amável e depois coloca de novo. Tipo amostra grátis de perfume. Uma delicia, mas acaba logo.

- Mas você é muito otário mesmo, né?! - disse estressada - Qual é a sua dificuldade em tratar as pessoas bem pelo menos uma vez na vida?

- Te tratei bem ontem - disse suspirando - Não trato mais.

Desgraçado esse Diego Halstead...

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Olá, amores! Tudo bem? Esse capítulo não ficou tão bom quanto o outro, mas esperamos que vocês gostem ;)

Deixem um votinho aí embaixo caso gostaram do capítulo. Beijos <3

Babygirl (COMPLETO EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora