Capítulo II

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"O que foi?", perguntei a ela enquanto arrumávamos as coisas.

"Nada..."

"Sarah, eu te conheço. Se fosse nada você não estaria com essa cara."

"É sério, Josh, não é nada. É só que..."

"Que...?"

"Esse lugar tá me dando arrepios. Eu tô com um pressentimento ruim. Vamos embora?!"

"Chegamos a quanto tempo mesmo? Umas meia hora... É, eu sabia que não ia durar mais que isso!"

"É sério, Josh! Não zomba de mim!"

"Desculpa!", levantei as mãos em defesa. "Relaxa, okay?! Vai ficar tudo bem."

Ela cruzou os braços, fechando a cara.

"Sabia que até de cara feia você é linda?!", me aproximei dela, acariciando seu rosto.

"Elogios não vão me fazer ficar melhor!"

"Amor...", ela me encarou. "Eu tô aqui com você, não precisa ter medo."

"Eu não tô com medo. Tô com arrepios, é diferente..."

"Pode ser frio", e passei as mãos em seus braços para aquecê-la.

"Talvez."

Me aproximei mais dela, a beijando. Deslizei minha boca até o seu pescoço, apoiando minha mão em sua nuca, andei novamente com a minha boca, dessa vez até a orelha de Sarah, mordiscando-a.

"Tá fazendo o quê?", ela perguntou entre risinhos tímidos.

"Te aquecendo, ué!", sussurrei pra ela. "Só que de um jeito bem gostoso...", e voltei a beijá-la.

Sarah correspondeu ao meu beijo, puxando meu corpo contra o dela. Peguei ela no colo, colocando suas pernas em volta da minha cintura, andando em direção a cama. Deitei meu corpo por cima do de Sarah, tirando seu casaco e logo em seguida o meu. Nossas respirações começaram a acelerar e os corpos a se esquentarem.

"Para... Para, Josh!", ela cortou o clima, me empurrando. Fiquei de joelhos na cama, encarando-a.

"Qual o problema?"

"Eu não tô no clima."

"Jura? Mas é nosso aniversário!"

"Eu sei, amor!", ela se sentou. "É que esse lugar... Eu não tô me sentindo bem. Desculpa!"

"Pode ser que tenha algo na recepção, sabe, pra te deixar mais à vontade", ela deu de ombros. "Vou lá dar uma olhada, então", dei um beijo rápido nela. "Já volto!"

"Vai me deixar aqui sozinha?", ela perguntou aflita, segurando meu braço.

"Ei... Fica calma! Eu prometo que não vou demorar."

"Tudo bem", ela soltou meu braço.

"E, amor?", a chamei da porta.

"Fala."

"Fica dentro das cobertas, assim o bicho papão não puxa o seu pé!"

"Vai a merda, Joshua!", ela gritou e me jogou uma almofada, antes de eu sair da cabana.

*

"Oi, tudo bom? Sou eu de novo", disse ao homem da recepção. "É que minha namorada tá com uns probleminhas... Ela não tá conseguindo ficar... animada, sabe", ele permanecia com os olhos no jornal. "Sabe como são as mulheres, elas precisam de todo um clima, uma frescura básica, ou alguma outra coisa que...", ele nem sequer olhava pra mim. "Você não se importa, não é?", ele negou com a cabeça, confirmando o que eu dizia. "Foi o que eu pensei...", murmurei um tanto irritado. "Enfim... Tem aí alguma coisa que possa ajudar? Pra... esquentar as coisas", ele apontou em direção a uma estante no canto da parede, sem nem levantar os olhos. "Obrigado!", esquisito...

Caminhei até a estante e a fitei. Várias prateleiras cheias de DVDs. Milhões de filmes do topo até embaixo.

"A hora do pesadelo, não. Sexta feira treze, não", eu lia as capas. "Titanic? Urgh...", me virei novamente para o homem da recepção. "Só tem filme antigo?", ele confirmou com a cabeça. "Maravilha...", murmurei.

Fiquei alguns minutos passando os olhos pela estante. Até que vi algumas capas pretas, sem identificação, na parte mais alta da estante. Alcancei e puxei uns três DVDs. Os abri e estavam em branco. Nenhum título, nada. Já sabia exatamente o que era. Eu só precisava de um, acho que a Sarah não ia gostar de assistir três seguidos. Quando me estiquei pra colocar os DVDs no lugar, senti meus dedos encostarem em algo frio e rígido. Me afastei um pouco da estante, tentando ver o que era. Algo de madeira, um pouco grande. Não me lembrava de aquilo estar ali quando peguei os DVDs da prateleira. Talvez estivesse distraído e por isso não vi antes. Me aproximei novamente da estante e fiquei na ponta dos pés, tentando alcançar o objeto. Quando consegui pegá-lo, puxei-o para fora da prateleira. Era um tabuleiro, numerado de 0 a 9, com o alfabeto e as palavras "sim", "não" e "adeus". Eu já tinha visto uma daquelas porcarias antes, nesses filmes bobos de terror. Se não me engano o nome era Ouija, usado para se comunicar com espíritos. Mas faltava o ponteiro. Me estiquei novamente perto da estante, e passeei a mão pela última prateleira, até que finalmente achei o ponteiro, uma espécie de triângulo de madeira, com um buraco perto da ponta. É claro que eu ia levar pro quarto e zoar com a cara da Sarah!

"Não me odeie por isso, amor!", desejei em voz baixa. "Posso levar qualquer DVD pra cabana?", perguntei quando passei novamente pelo balcão. O esquisitão balançou a cabeça afirmando. "Eu achei esse jogo aqui também, posso levar?", ele fez sinal com a mão indicando que eu levasse, sem nem ver o que era, já devia estar de saco cheio de mim. "Obrigado, mais uma vez!"

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