A escuridão da vida

65 2 0
                                    

A disputa pela terra gerou uma guerra entre dois povos. Uma disputa que atravessou décadas, deixando sua marca de morte e destruição por gerações. Muitos morreram durante ela e outros muitos nasceram nela, crianças se tornavam adultos e lutavam apenas para vingar os muitos que morreram, e assim continuava a guerra. Um conflito interminável cuja vingança vinha se tornando o mais forte motivo.

Um dos povos, os chamados Ostendríacos, era um povo trabalhador e grandes produtores de alimentos, porém seus inimigos, os Kamares, possuíam uma terra rica em minério e eram conhecidos pelo vasto conhecimento em produção de armas.

No início do século IV a.C. começou a grande batalha. Os Kamares pretendiam tomar grande parte das terras produtivas dos Ostendríacos, a fim de alimentar seus soldados e seu povo. Com toda aquela destruição o alimento havia se tornado insuficiente para os Kamares, e mesmo com todas suas armas não conseguiriam vencer a fome. Kamar era uma terra de superfície montanhosa, o alimento produzido não conseguia mais sustentar sua população crescente. Enquanto Ostendria possuía terras planas de um solo fértil, onde se plantava com fartura.

Os Kamares viam seu líder mandar soldados aos campos de batalha enquanto seus filhos choravam de fome, tristeza essa que poderiam não aguentar por muito tempo. Boris, líder dos Kamares, prometia a seus súditos que a fome iria ter fim, mas as famílias apenas recebiam os corpos de seus amigos, pais, maridos e filhos mortos em guerra.

Para os Ostendríacos aquela guerra se tornou uma forma de defender o que possuíam. As famílias sofriam as mesmas perdas, e se indignavam por estarem lutando para defender suas posses: sem nada a ganhar, somente a perder.

Em meio a toda aquela ignorância e sede de vingança havia pessoas que lutavam apenas para viver em paz. Pessoas que sonhavam em constituir uma união entre os povos, quando poderiam compartilhar o que suas terras pudessem oferecer e trabalhar em conjunto. Suas intenções eram valorosas, porém, eram apenas um pequeno grupo diante da multidão enraivecida. Esta minoria era formada por Ostendríacos e Kamares. Entre eles não havia fome e o trabalho em conjunto deu origem a uma pequena vila chamada Vila Gutiérrez, onde todos viviam em paz. Mas não era o suficiente, eles queriam acabar com a guerra entre seus povos. Sem mortes, sem domínio de posses, apenas esquecer o passado e começar um novo futuro. Um sonho tão longe da realidade que exigia grande esforço para sequer continuar a sonhar.

Entre os Kamares havia um numeroso grupo de bárbaros: homens dispostos a fazer de tudo para vencer aquela guerra, os chamados Argeus. Um grupo que se uniu pela sede de vingança: filhos que perderam os pais, homens movidos pelo ódio. As atrocidades cometidas por eles ultrapassavam os limites e chocava até mesmo sua própria gente.

Pelo caminho dos Argeus havia somente rastro de morte e destruição. Saiam em caravanas para o que chamavam de "justas", destruíam vilas inteiras, pilhando e matando. Todas as vilas de Ostendria temiam a repentina chegada destes bárbaros.

No entanto, os habitantes de Vila Gutiérrez procuravam não trazer o pânico para seu grupo, ao contrário das crianças nascidas da guerra, as crianças em Vila Gutiérrez cresciam em um ambiente de grande harmonia. Muitos nascidos lá já haviam se tornado homens e mulheres. Alguns procuravam levar a vida em paz no pequeno mundo que formaram, outros herdavam de seus pais o sonho de trazer a paz e poder viver uma vida sem fronteiras.

Para garantir a segurança de seus habitantes Vila Gutiérrez mantinha postos de vigilância ao redor da vila e faziam visitas aos povoados mais próximos. Estas visitas tinham como objetivo negociar parte de sua produção em roupas e outros produtos que não podiam produzir e também saber fatos sobre a guerra.

No final de mais uma safra Vila Gutiérrez estava em festa, a produção tinha sido ótima, o inverno iria chegar, mas haveria alimento para todos e iriam estar bem aquecidos com as vestimentas e mantimentos que iriam receber. Uma caravana foi organizada para a viajem de dois dias até o povoado mais próximo. Levariam o excedente de sua produção e trariam o necessário para passar aquele inverno.

Quem quer viver para sempre?Onde histórias criam vida. Descubra agora