O mensageiro

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Chegou em casa bastante abatido, Afonso já havia se deitado. Colocou seus objetos sobre a escrivaninha e foi até a janela; de lá olhava pelo vidro e pensava no acontecido. Olhando para a rua deserta desejava que aquilo não houvesse acontecido, preferia não ter encontrado aquela garota ao alimentar uma esperança incerta. O fato fez com que ele pensasse em sua vida, se perguntava por mais quanto tempo iria viver, se martirizava por esta dúvida, poderia viver por apenas mais alguns dias ou durante os próximos séculos; o que sentia era que não suportaria por muito mais tempo, a ideia de que Deus havia lhe esquecido vinha à sua cabeça, chegava a pensar que a morte seria uma benção e pedia por ela.

De repente uma voz sonolenta o surpreendeu.

- O que houve? - Perguntou.

Era Afonso. Havia acordado ao ouvir o barulho do carro, achou estranho não ouvir os passos de Mikhael até o quarto, então resolveu ver o que estava fazendo.

- Estou sem sono. - Respondeu.

- Há alguma razão para isso? Pois me parece estar cansado.

- Realmente estou. Mas mesmo que eu dormisse durante várias noites, não me sentiria melhor.

Afonso sempre ouvia com atenção as histórias que Mikhael lhe contava, sabia que ele se sentia desconfortável com sua vida, se sentia desambientado por julgar que estava fora de seu tempo, que seu lugar era o passado, e a única forma que encontrou de recuperar parte de sua identidade foi dar aulas sobre o assunto; mas às vezes parecia não ser o bastante.

O rapaz olhou com agonia a tristeza de seu suposto pai, não foi a primeira vez que isto aconteceu, sabia que não poderia ajudar, portanto se retirou apenas desejando que ele estivesse se sentindo melhor ao vê-lo pela manhã.

O final de semana chegou. Afonso planejou ir a um churrasco em um sítio com os novos amigos, saiu no sábado logo pela manhã e voltaria apenas na tarde de domingo. Mikhael aproveitou a folga para cuidar do jardim. Pouco antes do meio dia de sábado o telefone tocou, atendeu pensando que seria Afonso e teve uma surpresa.

- Com quem estou falando? - Perguntou uma voz de mulher.

Não parecia ser estranha, no entanto não reconheceu, portanto respondeu e retrucou a pergunta. Ela então respondeu:

- É Melissa. Liguei para saber se está melhor.

- Como?

Ele não entendeu o propósito da ligação, afinal não havia estado doente, esteve presente em todas as aulas da semana, não imaginou o motivo que a levou a pensar que não estaria bem. Ela explicou:

- Falei com seu filho ontem, ele disse que você andava meio abatido.

- Não se preocupe. - Disse ele. - Não era nada que merecesse atenção.

- Então talvez possamos nos encontrar.

Novamente foi pego de surpresa. Sua reação foi completamente instintiva.

- Sim; claro.

Marcaram hora e lugar; ele parecia ainda meio confuso, mas, por outro lado, ela se mostrava bastante determinada.

Ele chegou pouco antes, não tinha nada a fazer; após alguns minutos ela apareceu, estava linda. Naquele momento ele passou a observá-la melhor. Os longos cabelos castanhos claros caídos pelos ombros e um lindo olhar de mulher pareciam provoca-lo. Ela o cumprimentou e se sentou de frente a ele. O lugar era bastante simples, um restaurante onde se via variados tipos de gente, não estava cheio, mas apresentava um bom número de pessoas.

- Deseja fazer o pedido agora? - Perguntou ele.

- Não estou com fome. Quero apenas beber algo.

Quem quer viver para sempre?Onde histórias criam vida. Descubra agora