A ruína das conquistas

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Mateus não havia passado a noite em casa. Mikhael constatou o fato ao ver que ele não se encontrava, e não havia sinais em sua cama. Em seguida saiu, talvez o encontrasse pelas ruas, ou então estaria em casa quando voltasse, o que ele queria mesmo era encontrar um trabalho.

Durante vários dias andou por toda vila, viu que não seria tão fácil, muitos trabalhavam somente em família, outros não o aceitavam por ser um estranho. O muito do dinheiro que tinha havia dado como pagamento em sua casa, o pouco que restava logo acabaria, sua única esperança eram as lavouras. Lembrou-se que a família de Maria possuía uma fazenda. Voltou para casa, mais tarde falaria com ela. Seu amigo já não aparecia há dias, aparentava não estar na vila, porém suas coisas ainda se encontravam em seu quarto; de qualquer forma iria voltar.

No dia em que tomou a decisão de falar com Maria, ele voltou para casa e encontrou Mateus, estava abatido, sentado no chão de seu quarto, de cabeça baixa. Entrou lentamente e perguntou:

- Está tudo bem?

- Não. - Respondeu, e soluçou.

Estava chorando. Um fato intrigante, em todos os anos juntos Mikhael jamais o viu chorar.

- Me conte o que houve!

Entre soluços ele falou:

- Desde que chegamos aqui, eu vinha sentindo coisas estranhas; não me importei, acreditava que nada poderia me atingir, afinal éramos imortais. - parou por um instante e continuou. - As condições impostas pelo feitiço nunca me incomodaram; jamais acreditei que poderia chegar este dia.

- O que está dizendo? - Perguntou o outro, ansioso.

Como se ignorasse a pergunta ele continuou sua história:

- Nos últimos dias procurei saber o paradeiro daquele que dizia ser o filho de Deus. Alguns diziam que ele passaria por aqui, então eu voltei, mas no caminho de volta recebi a notícia; não há mais esperanças.

- Que notícia? - Mikhael estava confuso. - Por que foi à procura dele?

- Me disseram que ele curava as doenças. Que curava a lepra, era o único que poderia me salvar. Mas agora não há mais esperanças.

Mikhael arregalou os olhos, nada estava muito claro em sua cabeça, mas percebeu que algo terrível estava acontecendo. Abaixou-se e perguntou novamente:

- O que está havendo com você? Pensei que jamais acreditaria que esta história fosse verdade.

- Não tive escolha. - Lentamente ergueu sua cabeça; a fraca luz do pôr-do-sol ainda penetrava pela janela, desta forma Mikhael pode notar algo assustador.

- O que é isto?

Apesar de longos anos caminhando pelo mundo, nenhum deles, em momento algum, se interessou por sintomas de doenças, Mateus também não saberia dizer o que seria se não lhe fosse dito.

Mateus apresentava uma enorme queda de cabelos e algumas pequenas manchas pelo corpo. O rapaz jamais tinha visto algo parecido, não soube nem o que dizer, olhou aquela cena deplorável por algum tempo; logo, em um ato instintivo, levou sua mão à frente. Foi apenas um leve toque, mas Mateus reagiu de tal modo que parecia ter sentido uma imensa dor.

- Não toque em mim! - Alertou Mateus. - Você pode contrair esta peste. Esta é a lepra.

- O que podemos fazer? - Perguntou de modo aflito.

- Não há nada que se possa fazer. O único que poderia me ajudar agora está morto.

- Quem está morto?

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