O anoitecer

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Rapidamente começaram as reformas, algumas partes da vila haviam sido prejudicadas com os conflitos. Os moradores trabalhavam felizes, por saberem que construíam um futuro melhor. Mikhael continuava instalado na taberna. Recebeu um pedido de Rubens para ser capitão da guarda do castelo e ainda estudava a proposta, neste meio tempo ajudava nas reformas da taberna e nas casas de algumas famílias. Ele desejava ver toda aquela gente vivendo de uma forma decente, porém sabia que logo teria que partir, pois se sentia como se não fizesse parte daquele lugar.

Após algumas semanas a vila já estava toda reconstruída, o povoado estava em festa. Nos últimos dias Mikhael e Marilucia ficaram muito amigos. Aquela garota de longos cabelos cacheados passou a influenciar bastante na decisão dele sobre partir. Eles eram vistos juntos boa parte do dia, afinal moravam sobre o mesmo teto, onde seus quartos se dividiam apenas por uma fina parede. O pai dela começava a perceber o envolvimento dos dois e consentia, pois apreciava o rapaz. Porém, Mikhael nunca havia se envolvido com alguém antes, não saberia como dizer o que estava sentindo, portanto levou algum tempo até que as coisas começassem a acontecer.

Marilucia era uma garota linda, possuía um corpo de dar inveja a qualquer outra mulher, olhos castanhos escuros, uma voz suave e o rosto de um anjo. Uma garota que, apesar de sua aparência frágil e delicada, às vezes se mostrava muito pouco vulnerável. Sua mãe faleceu em sua infância, e desde muito cedo começou a ajudar o pai. Mesmo com uma personalidade de mulher, também nunca havia se envolvido com um homem, seu pai sempre lhe dizia que deveria escolher o homem certo, que a acompanhasse pelo resto de sua vida. Ela seguia atentamente os conselhos de seu pai e começou a pensar que sua procura havia terminado.

Havia se tornado um costume, após fecharem a taberna, se sentavam em uma mesa e conversavam até tarde, em certos momentos um silêncio se fazia presente, qualquer pessoa poderia ver que teriam algo a dizer um ao outro, mas não conseguiam. Erik já notava aquela situação há muito tempo, afinal muitos haviam notado. Ele e Mikhael se tornaram muito amigos e, por possuir uma certa experiência no assunto, tentou ajudá-lo de alguma forma. Os dois se encontraram e, caminhando pelas ruas, falaram sobre o assunto:

- O que está havendo entre você e Marilucia? - Perguntou Erik.

- Não está havendo nada. - Respondeu.

- Mas tu sentes amor por ela. Está em teus olhos. Qualquer pessoa pode ver, até ela mesma.

- Não posso negar, mas não sei o que fazer. Passei minha vida inteira aprendendo a lutar e estudando sobre armas, não sei o que dizer a ela.

- Às vezes não é preciso dizer nada, basta tomar a atitude.

- O que queres dizer?

- Quando surgir a oportunidade beije-a. Ela saberá tudo que tens a dizer. Marilucia é uma garota pura, deve estar sentindo o mesmo que tu. Se continuarem assim, não chegarão a lugar nenhum. - Explicou Erik.

- Não achas que seria atrevimento de minha parte?

- Seria, se ela não sentisse o mesmo por ti, mas acredito que não corre este risco.

Logo chegaram na taberna, era hora do jantar, os dois amigos se sentaram e em seguida Marilucia lhes trouxe um prato de comida. A taberna estava cheia, ela mal pode dar atenção a eles, mas ainda assim às vezes apresentava um olhar nada discreto para Mikhael.

A taberna fechou bem tarde, o pai dela não se conteve e rapidamente foi se deitar, como de costume ficaram a sós no salão, enquanto ela fechava as janelas ele terminava de beber sua caneca de vinho. Ele, de pé, com os cotovelos apoiados sobre o balcão, de braços cruzados e olhando para o resto de vinho que ainda havia na caneca, pensava no que iria fazer. Ela veio até ele e, percebendo sua distração, perguntou:

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