Quem quer viver para sempre?

Reencontrar alguém

Dormiram durante toda a noite, acordaram tarde, estavam exaustos da viagem. Já era hora do almoço quando alguém bateu na porta. Responderam apenas para dizer que haviam acordado, se vestiram e desceram para a primeira refeição do dia, a segunda para outros.

Havia uma única mesa, enorme, com apenas dois bancos que iam de uma ponta a outra de cada lado dela. Algumas pessoas já se encontravam comendo, se acomodaram na ponta mais vazia, bem distante dos demais. Por mais que tentassem evitar, já haviam se acostumado a se isolar do resto do mundo. Um homem de meia idade lhes serviu os pratos. Atacaram a comida como dois esfomeados, às vezes passavam dias sem comer, haviam se acostumado por não sentirem fome, mas quando surgia a oportunidade de uma refeição era muito bem vinda.

Não estavam tão próximos, mas poderiam ouvir nitidamente sobre o que os outros integrantes da mesa falavam. Discutiam assuntos ligados ao suposto Messias, falavam sobre suas bênçãos, um deles comentou sobre o milagre que Jesus havia feito limpando o corpo de alguns leprosos.

Mikhael, discretamente, dava total atenção à conversa, Mateus, embora tentasse não mostrar, às vezes desviava sua atenção para o mesmo rumo.

À tarde andaram pelas ruas da cidade. Admiraram diversas estruturas, exuberâncias construídas pelo homem, seguiram a caminhada durante todo o dia, se empenharam em conhecer aquela bela cidade. Andaram pelas feiras de comércio e compraram algumas roupas. O sol já estava se pondo quando voltaram para a hospedaria.

Planejavam o dia seguinte, a intenção era saírem de manhã, julgaram que permanecer em Jerusalém seria em vão. Antes de dormir arrumaram as coisas para a viagem.

Acordaram com o brilho do sol entrando pela janela, levantaram e logo em seguida estavam de partida. Seguiram rumo ao por do sol, o tempo e a distância não os abalava, tinham todo tempo do mundo. Para Mikhael era um objetivo a ser alcançado, para Mateus ainda era somente algo com que pudesse se ocupar em uma vida sem objetivo.

- Até quando pretende insistir nesta ideia? - Perguntou Mateus.

- Por que pergunta? Está livre para ir quando quiser. - Estou cansado de não saber quem sou, ou o que sou. Eu busco uma razão para estar aqui e sei que devo encontrá-la. Não vou desistir e viver por centenas de anos uma vida sem sentido. Fui criado para grandes missões, sei que há um grande motivo que ainda me mantém neste mundo.

Acomodaram-se na sombra de uma árvore, Mateus então falou:

- Admiro seu raciocínio, gostaria de pensar da mesma forma, o que me impede é saber que seria em vão. Nossas leis sempre foram bem claras, sabe que não podemos lutar contra elas. Mesmo se tentássemos jamais poderíamos vencê-las.

- Não me incomodo com as leis, em momento algum me importei com elas. Faço o que penso estar certo e sempre farei.

- Como se apaixonar! - Afirmou Mateus de modo sarcástico. - E tentar salvar pessoas sabendo que nunca poderá. Tenho um pressentimento que sei o que você procura,...está tentando encontrar uma forma de voltar a ser mortal. Lamento dizer que isso jamais será possível, você está condenado a viver esta vida infeliz por dias incontáveis, chegará o dia que verá as coisas da forma que vejo, irá perder as esperanças, como eu perdi.

- Não é este o futuro que vejo, meu amigo, - olhou para as montanhas - não pretendo seguir sua forma de pensar, mas sim te fazer mudar de opinião.

- Então caminharemos juntos durante o tempo que nos resta e veremos quem de nós está certo.

Chegaram em um povoado. A vila era bastante pequena, Mikhael se lembrou de Vila Gutiérrez. Estava anoitecendo, procuraram uma hospedaria, mas não encontraram, teriam que acampar nas redondezas. Amarraram os cavalos e foram até a taberna que encontraram aberta, escolheram uma mesa e pediram vinho. Não era tarde, havia um grande número de pessoas no lugar. Tomaram muito vinho, o fato de serem imortais não evitou a embriaguez, saíram de lá bastante afetados pela bebida, tanto que Mikhael teve que dar auxilio a Mateus para que pudesse andar.