Cap-5

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_ você está limpa, não está contaminada porém, identifiquei uma anemia média  no seu sangue por isso tente se alimentar com coisas com o máximo possível de ferro. Mas fora isso você está ótima ringer.

Ela se virou pegou uma prancheta escreveu algumas palavras e com um movimento rápido arrancou a etiqueta que estava no meu peito direito e colou outra no lugar que agora dizia ''RINGER-LIMPA''. Provavelmente limpa devia ser um tipo de código para eles identificarem os não infectados.

_ mas mesmo assim é bom andar com essas máscaras descartáveis, use só em lugares suspeitos como florestas, parques, lugares que tenham corpos e etc.

Ela me entregou algumas máscaras dentro de um envelope.

_ você está liberada, se quiser nós temos um refeitório, pode comer alguma coisa lá. É só chegar lá fora e perguntar para qualquer um que eles vão indicar o lugar.

Assim ela me acompanhou até a entrada que também servia de saída da tenda.

_ obrigada doutora.

_ nada ringer, se nos vermos outra vez gostaria que me chamasse de suzy.

Ela sorriu e voltou para dentro da cabana. Com isso também sorri ela era uma boa pessoa que não se deixou abalar pelas terríveis coisas que aconteceram, a admirava por isso, eu mesma não consegui fazer essa proeza.

Senti meu estomago reclamar e essa foi a deixa para começar a procurar pelo refeitório. Quando estava preste a perguntar para alguém, o mesmo senhor que me indicou para os exames esbarrou em mim.

_ ohh você esta limpa, bom saber.

_ também é bom saber.

Ele me olhou e fez a única pergunta que eu queria ouvir.

_ posso te ajudar?

Demorei um pouco para responder.

_ sim, eu preciso saber onde fica o refeitório.

_ahh sim, está vendo aquela barraca azul mais claro, você vira bem ali e segue. No canto direito estará escrito refeitório em uma placa. Ok?

Acenei com a cabeça quando localizei a tal barraca azul mais claro.

_ bom preciso ir.

Ele foi na direção contraria a minha e de repente sumiu em meio a multidão. Eu com muita fome me direcionei ao refeitório. Era talvez a maior tenda desse hospital improvisado, a comida era boa e quente e isso era reconfortante de certa forma.

Sai do refeitório satisfeita, e só agora percebi que já era noite. Passei pela guarita do exército e segui para a casa onde eu tinha deixado minhas coisas.

A minha cabeça estava latejando tudo isso era muito ruim, eu sinceramente não esperava por isso, milhões de pessoas morreram enquanto eu estava na estrada e eu só não fui contaminada por esse fato. Eu não sei se isso é sorte ou falta dela.

Cheguei na casa e estava escuro pela falta de luz da noite, mas ainda dava para localizar os móveis. Achei um castiçal em cima da mesa de jantar e fui direto em direção a grande cozinha para achar fósforos.

Meu deus, onde essas pessoas guardam o fósforo? Depois de alguns minutos encontrei uma caixa com apenas três palitos perdida em meio a vários utensílios de cozinha numa gaveta de um dos vários armários. Usei um palito para acender as duas velas, coloquei a caixa com os dois palitos restantes bem em cima da mesa de jantar, para não ter que procurar mais.

Enfim subi as escadas e fui para o quarto onde eu tinha guardado a minha mochila. Só agora percebi o quão grande e imponente esse cômodo era. Tinha uma grande cama de casal com lençóis em tons creme e branco, uma grande lareira que ficava de frente para a cama encostada na parede e também tinha uma grande janela no quarto em forma de arco que vinha com um sofá\ banco embutido também na cor creme. Um tapete enorme branco cobria praticamente o quarto todo. Ainda existia mais duas portas no quarto uma era um closet que a propósito era enorme e a outra era um banheiro gigantesco, com banheira, chuveiro e duas pias. Com isso me dei conta que esse devia ser o quarto de um casal.

Peguei a chave no meu bolso e abri o closet tamanho extra GG, tinha roupas femininas e masculinas. Nas gavetas cheguei a achar joias lindas por sinal, mas não mexi aquilo não me pertencia. Na verdade toda essa casa não me pertence, os donos de tudo isso morreram nas ondas ou não quiseram ficar para arriscar. Mesmo que eu fique nesse lugar e utilize ele como abrigo não me dá o direito de simplesmente levar, mexer ou desrespeitar as coisas dos outros. Fechei a gaveta e procurei uma roupa que eu pudesse usar para dormir achei um moletom cinza que serviu em mim.

Fui até o banheiro testar se havia água ainda. Uma coisa que eu aprendi nesse tempo sozinha é que sempre é bom testar as bicas para ver se ainda existe água. Tudo bem, que não temos mais água encanada mas as vezes a casa ou o lugar tem seu próprio reservatório e correr risco de não testar é correr o risco de ficar sem água. Para minha surpresa a casa ainda tinha água, enchi a banheira, não até o topo só o necessário para me lavar.

Tirei minhas roupas e minhas botas, assim que entrei na banheira vi que nem lembrava qual foi a última vez que tomei um banho. Fiquei horas na banheira a sensação da água no meu corpo era ótima, acho que devo ter ficado enrugada, mas com certeza eu estava melhor, muito melhor. Sai do banheiro enrolada numa toalha com os cabelos pingando atrás de mim. Me enxuguei e rapidamente coloquei o moletom que me esquentou quase que instantaneamente. Penteei meu cabelo com os dedos e voltei ao banheiro para escovar meus dentes.

Eu estava renovada. Mas alguma coisa ainda me incomodava eu tinha a sensação de que ainda teria mais que esse vírus pela frente. Alguma coisa me dizia que isso não seria a a última cartada deles. Afinal eles queriam dizimar a raça humana e não tinham conseguido, ainda. Resumindo o meu pensamento era '' aqueles babacas vão continuar ferrando a gente ''.

Tentei limpar minha mente e me concentrar em relaxar, fui em direção a cama e só agora vi que existia um pequeno criado mudo com duas gavetas. Sentei na cama e abri a primeira, tinha alguns papeis, alguns remédios, cremes e etc. Já na segunda gaveta tinha quatro livros todos tinham gêneros diferentes. Um era sobre a revolução francesa, outro era de poesia, também tinha um que falava sobre a fome na áfrica e por último não menos importante falava sobre a fome no mundo. Escolhi para mim o menos interessante para pegar rapidamente no sono. Abri a primeira folha e começo a ler.

'' Durante a nossa vida:

Conhecemos pessoas que vêm e que ficam,

Outras que vêm e passam.

Existem aquelas que,

Vêm, ficam e depois de algum tempo se vão.

Mas existem aquelas que vêm e se vão com uma enorme vontade de ficar...''

_Charles Chaplin

Quase que automaticamente me lembro das pessoas que um dia fizeram parte da minha vida e se foram.

Mesmo com um gosto amargo na boca continuo a leitura que por incrível que pareça me acalma.

''A vida é uma tragédia quando vista de perto, mas uma comédia quando vista de longe.''

_Charles Chaplin

Essa me fez rir, talvez Charles tenha razão mais no momento a vida de todos na face da terra é uma grande tragédia e não há data prevista para virar uma comédia.

''Chega um momento em sua vida, que você sabe: Quem é imprescindível para você, quem nunca foi, quem não é mais, quem será sempre!''

_Charles Chaplin

Não posso negar que Chaplin é genial, mas me pego pensando se a opinião dele sobre o mundo e a vida não iria mudar se ele estivesse passando por isso, um ataque alienígena. Sendo as únicas opções lutar ou morrer e para muitos se esconder ou morrer. Talvez ele continuasse a enxergar as coisas do mesmo modo, mas algo lá no fundo me diz que definitivamente comédia seria a última coisa que ele veria.

Me cobri e tentei fechar os olhos, minha respiração se normalizou e senti minhas pálpebras fecharem cada vez mais, até que a escuridão total atingiu meus olhos e me deixei levar pelo cansaço.

5° onda (Ben e Ringer)Onde histórias criam vida. Descubra agora