Capítulo 3

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Saí do bar com a Amanda perto da meia noite, procurámos o carro dela, um Renault Clio de 2010 em tom azul escuro, num estacionamento que ela o tinha deixado. Olhei o céu escuro, tinha algumas nuvens, é possível que chova amanhã. Tirei os meus óculos de aros de ferro redondos e limpei as lentes finas ao tecido da minha camisola.
- Dalila? - Ouço chamar.
- Hm? - Olho em volta.- Diz Amanda.
- O que?
- Não me tinhas chamado?
- Não, nem ouvi nada. - Será que estou mesmo louca?
Encontramos o carro e ela levou-me a casa. Subi para o quinto andar do meu prédio, de elevador, que estava vazio e os corredores escuros e silenciosos. Entrei no apartamento e caminhei em direcção da cozinha, olhei para a gaiola do Freud (leia-se fróid) , a minha cacatua, tenho-o desde os 12 anos e sempre foi um dos meus melhores amigos.
- Boa noite Freud.
- Olá Dali. - Ele abriu a gaiola com as patas e voou até à mesa ficando ao meu lado. Passei o dedo nas penas amarelas que tinha na cabeça algumas vezes. Ele apontou com um dos dedos para o pote onde eu guardava frutos secos. Levantei-me e peguei em duas nozes e uma amêndoa. Ele abriu a noz com o bico e deu-me para eu comer, enquanto tratava de abrir os outros frutos para ele. Cacatuas são muito inteligentes mas sinto que o Freud é estranhamente esperto demais. Voltei a levantar-me em direção à sala e peguei em Nietzsche (leia-se nitxe),do seu terrario que ocupava grande espaço do cómodo, ele é uma iguana de 5 anos. Tem cerca de 1,50m da cabeça à ponta da cauda. Peguei nele e sentei-me no sofá com Nietzsche ao colo, obviamente ele não fala. Freud voou até à minha localização e na mesinha se centro ligou a televisão pelo comando pondo num canal de filmes. Por sorte estava a dar um dos meus preferidos, Pulp Fiction de Tarantino, 1994.

Tirei os ténis, eram umas adidas clássicas super velhas e gastas, mas que me recusava a pôr fora porque tenho uma conexão emocional muito forte com elas. Encostei-me para trás e pus os pés em cima de uma almofada na mesa de centro. Bebi um gole de um whisky bourbon que o meu pai tinha deixado lá em casa. Baloicei o líquido âmbar no interior do copo hipnotizada pelo movimento. Nietzsche subiu pelo meu peito até chegar ao encosto do sofá, onde permaneceu estático pondo a língua para fora de tempo a tempo.
Passou-se uma hora e senti os meus olhos a querer fechar, peguei na iguana e coloquei-o no terrário, acendendo a luz ultra violeta. Freud podia ficar solto pela casa, ele sabe ir para a gaiola. Caminhei para o meu quarto no fundo do apartamento, acendi a luz que refletiu nas paredes cinzentas escuras. Olhei em volta, podia dizer-se que o meu quarto era a reflexão da minha pessoa, quatro paredes básicas sem nada fora do comum, uma estante de ferro e madeira, cheia de livros de todos os tamanhos, mas que eu fiz questão de organizar por género. Passei os dedos na minha secretária fria, onde jazia o meu computador, mais uns livros e uma tábua com três vasos com um cacto cada. A minha cama estava desarrumada, era uma cama torta por natureza, a cabeceira também era uma estante, pequena, onde guardava uns peluches que guardei da minha infância na casa dos meus pais, outra cacto, um despertador do Totoro e sim, mais livros. Olhei para a sacada que dava para a varanda onde tinha o meu telescópio empoeirado.
Tirei a roupa e limpei a cara, deitei-me a adormeci passado uns minutos.

As Flores De DalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora