Capítulo 7

28 2 2
                                    

É dia 22 de Dezembro,  o último dia do ano que vou estar com Dinis. Peguei na caixa e pus dentro da mala. O céu estava com algumas nuvens mas não chovia. Desci as escadas em direção ao parque. Estava quase a chegar ao telheiro quando reparo que o Dinis estava do lado de fora, perto de um lago.
- Boa tarde!
- Olá Dalila!
- Não estás a desenhar?  Que estranho!
- O dia está lindo, aproveitei para ver o lago.
- Em busca de inspiração?
- Talvez.
- Tenho uma coisa para ti! - Tirei a caixa da mala. - Toma, espero que gostes!
- Não era preciso....  Eu não te comprei nada...
-Não eras obrigado. Abre! - Ele envolveu o embrulho com as duas mãos e abriu a caixa.
- Muito obrigado! Vou usar já!
- Gostaste? Eu não sabia o que te dar então peguei isso meio as cegas...
- Adorei, obrigada!  - Ele abraçou-me, a cabeça dele encaixava-se na cova do meu pescoço por ser mais baixo que eu. Senti o seu cheiro, o cheiro era doce e jovial. Os meus pensamentos foram interrompidos por gotas de chuva a cair pesadas do céu.  O telheiro era um pouco longe, corremos para lá mesmo assim, chegando completamente ensopados.
- Vamos ficar doentes se ficarmos aqui molhados, vamos a minha casa?  Eu ponho as tuas roupas na máquina de secar.
- Tudo bem,  se não te importares. - caminha-mos até minha casa, a chuva tinha acalmado e só caiam gotinhas molha-tolos. Subimos pelo elevador e entramos.
- Casa fixe! - Disse Dinis, entrando descalço com o par de converse pretos nas mãos.- Tens uma iguana!? Brutal! Como se chama?
- Nietzsche. Tem 5 anos. Eu deixo-te pegar nele se quiseres. Mas vai tomar banho primeiro.
- Okay! - Ele foi em direção à casa de banho. Caminhei para o meu quarto e tirei duas toalhas e algumas roupas do armário. Bati à porta.
- Sim?
- Tenho aqui roupa e toalhas.
- Ok deixa do lado de fora, eu já pego. - Está bem. - Pousei no chão. Voltei para o meu quarto e peguei em roupa para mim.  Passaram-se uns minutos, poucos, e Dinis sai  da casa de banho.  Vestia a minha t-shirt e umas calças de fato de treino, tinha o cabelo molhado.
- Podes ir. - Disse, saiu com as roupas molhadas dele na mão. - A máquina?
- Na cozinha. Ali- apontei com o dedo a porta.
- Ok, até já. - Entrei na casa de banho.
A secar -me, ouço um grito masculino vindo da cozinha.  Saio da casa de banho embrulhada na toalha e corro até ao local. - Está tudo bem?  - Perguntei.
- Sim, só me assustei com o pássaro, não sabia que ele falava.
- Ahh o Freud,  ele não faz mal,  pois não?
- Freud é amigo! - Disse à catatua que abria o pote onde eu guardava frutos secos. 
- Ele é muito esperto!
- Sim, é um amor,  se ele fosse uma pessoa,  eu casava com ele. - Ri. - Vou me vestir.
Passado um tempo Dinis estava sentado ao lado da sacada, atrás de mim, a olhar para o exterior,  enquanto eu preparava um lanche para nós.
- Sabes Dalila... Eu acho que...
- Hum?- olhei para o rapaz com as minhas roupas
- Acho que te amo.
- Como assim?
- Como Romeu amava Julieta, ou Pedro amava Inês.
- Oh Dinis... Sabes que mesmo que quiséssemos muito não ia dar. Eu sou muito velha para ti.
- Idade não importa!
- Claro que importa!  Estavas tu a nascer e eu já andava na escola Dinis.  Tu és muito querido mas não vai dar...
- Então todos aqueles sinais...  Vais dizer que eu percebi mal!? - Ele levantou-se. - esquece!  Eu sou um idiota! Adeus e feliz natal.
- Dinis espera..! - Ele bateu a porta quando saiu. Sentei-me numa cadeira, na cozinha. Freud voou até mim e roçou a cabeça na minha mão, repousou a cabeça nos braços. Permaneci deitada daquela maneira uns minutos.
- Vou fazer alguma coisa produtiva que isto não é vida. - Levantei me é fui trabalhar na contabilidade da família.

As Flores De DalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora