Capítulo 4

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Acordei às 10:30 da manhã, dirigi-me à cozinha, Freud estava a olhar para o exterior pela janela.
- Bom dia Freud.
- Bom dia Dali.- liguei a máquina do café e pus duas fatias de pão de forma na torradeira. Fui pegar o Nietzsche ao terrário e trouxe-o para a cozinha, pousando-o na mesa. Descasquei uma maçã e uma manga e dei-lhe um pouco em pedaços. Peguei em uns frutos do potinho e dei ao Freud. Tirei o pão da torradeira e tomei um café preto puro. Voltei a pôr a iguana no aquário e fui me vestir. Hoje vou procurar trabalho!
Peguei na minha pasta de currículos, pu-la juntamente com o telemóvel e as chaves na mala e saí.
- Até logo Freud! Diz "boa sorte"!
- Boa sorte! Xau Xau.
Entreguei o meu currículo em duas empresas e fui para a biblioteca.
- Bom dia Paula. - Comprimentei a bibliotecária.
- Bom dia Dalila. - Ela sorriu e voltou a organizar uns livros do carrinho. Subi as escadas e procurei um livro que me chamasse à atenção, peguei "A Arte Da Guerra" de Sun Tzu, já o li, mas é sempre bom recordar e consolidar. Sentei-me numa cadeira e apoiei o cotovelo na mesa enquanto lia.
- A habilidade de alcançar a vitória mudando-se e adaptando-se ao inimigo é chamada de-
- Genialidade.
- Muito bem, já chegaste a essa parte do livro? - levantei a cabeça e olhei para o homem à minha frente.
- Eu já o li.
- Ah, é um dos meus livros preferidos!
- Também gosto.
- Chamo-me Marcos. - Parei para analisar a figura diante de mim. Ele parecia um pouco mais alto que eu, tinha os cabelos escuros e apanhados em um coque na nuca, e os olhos num tom castanho-acizentado.
- Dalila.
- Foi um prazer conhecer-te Dalila, espero ver-te aqui mais vezes!
- Hmm... - Ele continou a andar, levava o carrinho da biblioteca carregado de livros. De trás via-se o avental verde musgo da biblioteca amarrado num nó desleixado. Nunca o tinha visto lá, e vou à biblioteca bastantes vezes. No entanto, não dei muita importância e voltei à leitura.
Deixei um currículo no balcão e saí, começou a chover então esperei que acalmasse no exterior da biblioteca, que tinha uma espécie de telheiro.
- Olá outra vez. - Marcos apareceu atrás de mim.- O meu turno acabou, queres ir tomar um café?
- Pode ser. - Ele abriu um guarda chuva e pôs-se junto a mim. Fiquei com o corpo tenso e tentei afastar-me um pouco.
- Desculpa. - Ele disse. Começamos a andar, a chuva caía forte, estava completamente abrigada pelo guarda-chuva azul escuro. Andamos uns cinco minutos até chegarmos a um café, entrei à frente dele pois ficou a sacudir o guarda-chuva no exterior, Marcos entrou logo a seguir, escolhi uma mesa perto dos vidros que tinham vista para o exterior. Ele sentou-se à minha frente.
- Estás todo molhado. - Ele realmente tinha metade do corpo encharcado.
- Ah não há problema, normalmente nao uso guarda-chuva. Diz-me Dalila, o que fazes da vida?-
- De momento, nada, infelizmente. Estou à procura de emprego, acabei o meu curso há um tempo. - Pousei uma mão no tampo da mesa fria, tinha um porta guardanapos e uma jarra com umas flores, eu não sabia o nome, mas eram lindas.
- São hibiscos. - Disse ele com um sorriso, como é que ele sabia que eu estava a pensar nas flores?- São muito bonitos mesmo. Que curso tiraste?
- Economia.
- Hm, para ser economista não é preciso só ter facilidade com números mas também gostar muito de ler.
- Exato.
- Eu tirei um curso em história. Só para dizer que tenho para ser sincero, não me vejo como professor. Já faço o que gosto com muito carinho. Adoro ler e escrever, a biblioteca é a minha segunda casa. - a voz dele tinha um timbre reconfortante, ele transmitia calma e paz. Sentia harmonia na sua presença.
- Qual é o teu apelido?
- Marcos Leonel. - Ele coçou a barba com a mão esquerda. Entretanto chegou a empregada.
- Boa tarde! - Boa tarde? Olhei rapidamente para o meu relógio de pulso e já passava das 13:00.
- Boa tarde, Marcos, importas-te que eu almoce?
- Claro que não, pretendia fazer o mesmo. Boa tarde menina, o que tem para o almoço? - Ele tinha um jeito encantador e educado.
- O prato do dia é prego no prato... Tem pizza e hambúrgueres também.
- O que vais querer Dalila?
- Acho que pizza, tem de atum?
- Tem sim menina, e você?
- Quero a de ananás. - Ele esboçou um sorriso a mostrar os dentes direitos e brancos. A empregada foi embora.- Ahh não é nada romântico comer pizza no primeiro encontro, se soubesse que já era tão tarde levava-te a um restaurante melhor. - Disse abanando a cabeça com um sorriso. - Desculpa ahaha.
- Isto não é um encontro.
- Calma, estou a brincar, eu sei que não é. - Ele desviou o olhar. Passaram
uns cinco minutos e já comecei s ficar impaciente por as pizzas estarem a demorar tanto, involuntariamente, comecei a bater os dedos na mesa. - Hm o Outono está quase a acabar...
- Sim. Ainda falta um mês quase.
- Acaba dia 20 ou 21 de Dezembro?
- 21 se não me engano, é quando entra o sol em capricórnio.
- O meu pai era capricórnio. Ele era um pouco rígido, não sei se era do signo ou ele mesmo é que era um pouco severo...
- Eu sou capricórnio. - Ele olhou para mim como se tivesse posto a pata na poça. - É um signo complicado mesmo. Somos conhecidos por não ter coração.
- Por favor, por mais fria que seja a pessoa, no fundo há sempre uma luz. Nem que seja necessário ser alguém a acendê-la.
- Se o dizes. - Ele riu-se com a minha resposta. - Disse algo engraçado?
- Sim, o facto de não acreditares que consigo acender essa luz, dá -me tempo.
- Sem pressões. Não te preocupes com isso.
- Estás a dizer que não sou bom o suficiente?
- Estou a dizer que eu sou uma perda de tempo. Mas pronto se queres segue as tuas ambições, quem sou eu para te dizer que não?

As Flores De DalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora