Desde o meu último encontro com Marcos, tenho-o ido visitar todos os dias à biblioteca, temos falado bastante e ele provou não ser apenas só mais um. Ele é culto e educado, além de pagar sempre a conta quando saímos, algo que eu prezo muito. Agora pensam: será que a jovem Dalila está apaixonada? Não, não estou, o Marcos é um amigo, nada mais.
Estava na sala a passar a ferro enquanto via televisão. Freud brincava com uma bolinha em cima da mesa e Nietzsche repousava no seu terrário. Suspirei, estava cansada de estar em casa, queria sair! Olhei para a janela e o céu tinha poucas nuvens e as folhas das árvores dançavam com o vento. Guardei a tábua e o ferro na cozinha, peguei no casaco e saí pela porta. O prédio onde vivia situava-se numa zona habitacional que tinha um parque, que não era muito conhecido ou popular, muito menos tinha história, só um pequeno parque que ficava lá. Decidi ir caminhar por lá. Estava frio, então pus as mãos nos bolsos do casaco preto.
Olhei a vegetação, tinha arbustos por podar com pequenas gotículas de água nas folhas amareladas, umas flores brancas estavam espalhadas no outro lado do carreirinho de tijolo, que separava o caminho de terra batida do jardim de plantas. Passei por um banco de madeira que estava visivelmente molhado. De repente, sinto chuviscos na minha cabeça a começar a cair cada vez mais fortes. Corri para um telheiro de madeira que tinha lá. Tinha um rapaz lá sentado no meio do banco de pedra. Ele desviou-se para me sentar.
Olhei para a figura ao meu lado, ele não tinha mais de 15 anos, tinha o cabelo loiro escuro e vestia uma camisa xadrez verde e uma gabardina azul escura. Ele estava a desenhar num pequeno caderno, não reparei o que era. Sinto o meu telemóvel a vibrar repetidamente, no bolso, atendo:
- Sim?
- Dalila? - Reconheci a voz da minha mãe.
- Diz mãe.
- Queria saber se sempre queres ir à herdade no Alentejo, no fim de semana que vem. Se quiseres o teu pai e eu passamos aí para te pegar. - Pensei em que dia da semana estávamos. - Hoje é terça.
- Acho que posso. Eu depois confirmo mãe.
- Está bem. Vou desligar.
- Ok.
- Beijos filha.
- Até depois. - Acabei a chamada. Olhei para o rapaz e cruzei as pernas.
- Vives aqui na habitação? - Perguntei.
- Não, venho a este jardim porque, normalmente, não costuma ter ninguém.
- Ah sim...
- A senhora vive?- Senhora?!
- Senhora? A senhora está no céu!
- Desculpe, não quis insinuar nada.
- Eu estou nos vinte.
- 1920 ahahahaha - Ele começou a rir, parei para analisar o seu rosto, era bem defenido e o corte há anos 90 assentava-lhe bem. - Desculpa, o meu nome é Dinis.
- É um prazer Dinis. - Parou de chover.- Eu vou indo.
- Até amanhã.
- Até amanhã. - Voltei para casa, abri a porta e atirei-me para o sofá abraçando uma almofada. Suspirei, senti o telemóvel a vibrar outra vez e atendi sem ver quem era.
- Olá Dali!
- Boa tarde Marcos.
- Queres ir jantar hoje?
- Estou um pouco cansada.
- Eu pago.
- A que horas?
- Passo aí as 20h30?- olhei para o relógio.
- Pode ser. Vamos aonde?
- O que te apetece?
- Estou a sentir um mexicano.
- Mexicano seja. Até logo. Beijinhos.
- Até.
Desliguei a chamada e fui tomar banho. Senti a água quente a tocar cada centímetro da minha pele branca, toquei com os dedos a cicatriz que tenho na barriga da apendicite que tive há uns 3 anos atrás.
No fim do banho enrolei-me numa toalha e fui em direção ao meu quarto. Vesti um vestido justo ao corpo, de manga curta em azul escuro, da Lacoste, procurei um casaco que ficasse bem e acabei por pegar um cinza rato pelas coxas, era um casaco desportivo, calcei as mesmas adidas clássicas velhas e penteei o cabelo, passei perfume nos pulsos e por trás das orelhas, fiz uma maquilhagem básica e vi as horas, 20h10, aproveitei para encher o pratinho do Freud e pra por água ao Nietzsche. Ouvi a buzina do carro do Marcos lá fora.
Entrei no carro.
- Estás linda.
- Obrigada. - Olhei para ele,vestia um blazer cinza com uma camisola branca e umas calças pretas.- Estás apresentável, ainda não me habituei a te ver sem avental.- fomos jantar, a um restaurante que não tinha muita gente mas tinha um ambiente acolhedor.
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As Flores De Dalila
RomanceA história de "As Flores De Dalila", decorre no ano de 2016, em Lisboa, onde a personagem principal, Dalila Salazar, de 24 anos, vive sozinha. Dalila vive de objectivos, "Okay, já tenho casa, um carro, acabei a faculdade e já estou orientada para ar...