Nada de Pena

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Ficamos até que Mônica saia da igreja, tenho segurado a mão do Sávius desde que voltamos pra dentro da igreja, ele parece mais calmo mas duvido que esteja longe disso, ele não queria ter voltado, contudo sei que é o melhor, o melhor pra ele.

Consigo ver também o homem com quem ela casou, um gordinho ruivo de olhos esbugalhados e nariz feio, olho umas três vezes pro noivo, e em seguida pra Sávius.
Engulo a vontade de rir...

--sério?

--olha como fala do CEO da Macbannett.

Macbannett é uma gigante de construção da cidade mas eu nunca havia conhecido o dono antes.

--ela casou com ele por dinheiro?

--ele anda.

Estreito os olhos pra ele e Sávius sorri.

--o que?

--eu não te trocaria por um cara com nome de cachorro e branco como uma vela.

--isso é reconfortante.

Acabo por rir.

Esperamos a massa de pessoas saírem, escuto o som de gritos e felicitações, aplausos, esse casamento com certeza será noticiado na tv, acho que sou bem desligada mesmo pois não lembro de nenhuma atleta com nome de Mônica.

--ela é o que?

--ginásta.

--ah!

Sávius me encara de um jeito curioso, e já sei que ele quer saber o porque.

--não te imagino com uma ginasta.

--por que não?

--sei la, você parece gostar de coisas antigas, filmes, música e livros, como eu.

--apenas era o sonho dela ser ginasta, é o que ela gosta de fazer.

--e você?

--eu sempre gostei de números... e você?

--também mas também gosto de trabalhar com pessoas, minha infância foi meio vazia.

--sério?

--é, eu cresci em internatos, ia pra casa apenas nas férias, meus pais morreram quando eu era bebê.

Tenho problemas em falar sobre isso com as pessoas, não conheci a minha mãe nem o meu pai, gostaria muito de lembrar deles, eu os conheço apenas por fotos, isso me machuca as vezes, bastante, os meus irmãos até mesmo o Alê tem lembranças da mamãe, eu não, era bebê quando ela morreu, sinto falta dela, do meu pai, foi algo de difícil compreensão pra mim e ainda é. 

--entendo que seja difícil, meu pai morreu quando eu tinha doze anos.

--sinto muito.

--mamãe não quis casar, em parte por que quando ele se foi também o meu irmãozinho se foi, Isac, ele tinha apenas cinco meses, ambos pegaram tuberculose, foi uma enorme perda pra mamãe e eu, depois que eles morreram viemos pra cá.

Estou triste e chocada com a revelação, vejo em seus olhos tanta tristeza, não lembro de ter visto um menino pequeno nas fotos na casa dele.

--mamãe tenta superar até hoje, sofre muito sabe.

--eu... eu... nem tenho palavras Sávius.

--foi rápido, papai pegou e logo Isac pegou, éramos muito pobres, ah, e aliás eu sou polonês, morávamos na Polônia, nas terras do meu avô paterno, era muito longe da cidade, tive sorte de não pegar, mamãe me mantinha longe de ambos, papai faleceu e logo um mês após sua morte Isac também se foi.

Diga NÃO  Ao Amor - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora