Capítulo Cinco

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    A minha cabeça dói mais que nunca. Hoje, quando eu pensei ter me encontrado, me senti ainda mais perdida...

Vitima das minhas inconsequências, dos traumas e da dor de ser solitária, de sozinha colher os frutos dos erros, hoje eu descobri que não sou histriônica, sou limítrofe. Palavras estranhas para quem não conhece a realidade de perto. Quantas vezes em minha vida eu ouvi dizer, no regionalismo cearense, que eu estava botando boneco.

Isso para nomear crises que me faziam, entre choro e riso que saem da alma, cair em estertores onde eu estivesse.

Então, segundo o que eu pesquisei me enterrando na internet, sendo histriônica eu teria um comportamento caracterizado por um padrão de emocionalidade excessiva e necessidade de chamar atenção para mim, incluindo a procura de aprovação. Dentro de tal quadro, eu seria vívida, dramática, animada e flertadora, alternando meus estados entre entusiásticos e pessimistas.

Ser também inapropriadamente provocativo sexualmente, expressando emoções de uma forma impressionável e sendo facilmente influenciados por outros, parecia ser o meu retrato falado. Assim eu poderia me sentir apenas ridícula. Mas eu sabia que poderia ser pior.

Uma corda sintética guardada, um local escolhido e a vontade constante de me suicidar começavam a apontar outro transtorno. A personalidade limítrofe. E sendo ainda paciente de CAPS, não mais do CAPS AD, eu levantei a possibilidade de ter esse transtorno, ao que eu tinha resposta imediata que não era.

Até que ontem, depois de uma consulta, eu recebi o diagnóstico pelo messenger de um facebook. Por sofrer grande instabilidade emocional, desregulação afetiva excessiva, sentimentos intensos e polarizados do tipo "tudo ótimo e tudo péssimo" ou "eu te adoro e eu te odeio", angústia de abandono, entre outros, por comportamentos impulsivos perigosos como tentativas de suicídio e sentimentos profundos de vazio e tédio, eu fui diagnosticada com Transtorno de Personalidade Borderline.

O termo Transtorno de Personalidade Borderline. em 1884, designava um grupo de pacientes que vivia no limite da sanidade (daí o termo limítrofe), ou seja, na fronteira (borda, borderline) entre a neurose e a psicose. Alguns autores da época usavam esse diagnóstico quando havia sintomas neuróticos graves. Foi só na década de 1980 que o diagnóstico da doença se tornou mais preciso. Até então, muitos médicos acreditavam, equivocadamente, que a personalidade de uma pessoa era imutável. Eu ainda penso que a minha é imutável sim. Eu não acredito na mudança do ser humano. Acredito na frase de Oscar Wilde que diz "Dê ao homem uma máscara e ele mostrará quem realmente é".

Assim sendo, eu sou um verdadeiro vulcão pronto a explodir a qualquer instante. Por apresentar alterações súbitas e expressivas de humor e minhas relações interpessoais serem intensas e instáveis, é muito difícil conviver comigo. Eu causo sofrimentos nas pessoas que se aproximam de mim. Na realidade, eu temo o abandono e vivencio um sentimento crônico de vazio.

Meu comportamento traz um sofrimento enorme tanto para mim, como para os que comigo convivem. E palavras mal colocadas e a situação inesperada do diagnóstico pela internet, me levaram a um acesso de raiva e ódio que deveria ser de poucas horas, mas dessa vez não vai passar. Talvez eu não saiba lidar com o êxito. Assim, abandono meu tratamento. Eu sou apenas um border. Sozinha e me negando a ser tratada, porque agora, além de ridícula eu sou limítrofe, eu quero, eu devo morrer. Nada mais a fazer aqui.

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ROAD WOMAN A Vida de Uma ProstitutaOnde histórias criam vida. Descubra agora