Capítulo Seis

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Discordo rasgadamente do termo psico, relacionado à psiquê (alma) e que é usado para designar os profissionais que "cuidam" da mente de seus pacientes. A alma de cada um esconde um universo difícil de ser entendido. Então, penso que cada profissional se cansa dos problemas de seus pacientes.

E no CAPS AD, eu revelei quem era o homem misterioso, sob sigilo de consulta... Sigilo que foi quebrado, pois na próxima sessão com a psicóloga ela me disse que havia levado a situação ao conhecimento da esposa do prefeito, que era psiquiatra e que uma mesa redonda seria feita.

Fiquei assustada com a perspectiva, porém ela me disse que a questão seria tratada sob o ponto de vista de que um profissional de saúde estava se encontrando em um prédio público, com uma paciente deprimida. Então, fiquei mais tranquila.

Eu usava o pretexto de que ele deveria levar outras pacientes para lá, o que descobri ser verdade, e que uma delas poderia estar em estado mental pior que o meu e chegar ao suicídio. Na realidade, eu queria mesmo era dar o troco a ele, pelo desprezo que eu estava recebendo. E então, me vi na tal mesa redonda.

Nela estava a esposa do prefeito, que no momento não exercia cargo público, o coordenador do CAPS, o Secretário de Saúde, a psicóloga, a terapeuta, o técnico e eu. E fui chamada de paciente delirante pelo técnico.

Então eu descrevi a sala da coordenação em detalhes. E me perguntaram se usávamos uma rede para os encontros, pois sempre encontravam a tal rede lá. Respondi que não, os encontros eram no chão. A rede deveria ser para outras pacientes.

Perguntaram o porquê de eu me encontrar com ele no CAPS. Respondi que no primeiro encontro eu não sabia das pretensões de usar o CAPS como motel, mas que com auto estima baixa como eu me encontrava quando cheguei ali, se ele me chamasse para a calçada do prédio, eu teria ido.

Na próxima sessão com a psicóloga, o técnico havia sido demitido. Porém, com boa lábia e tendo sido técnico de enfermagem no Hospital Mental da capital, rapidamente ele encontrou trabalho.

Era ano político e o prefeito era candidato à reeleição. Eu, claro, votei nele. Depois da posse, a surpresa... Fui chamada para ouvir que eu estava desempregada. Desci a escada da Secretaria de Saúde aos prantos. Um único ser humano se preocupou comigo e me perguntou como eu iria para casa.

Talvez eu tenha sido ríspida quando respondi que ninguém se preocupara se eu tinha três filhos para criar e estava desempregada.

Peguei a moto que havia comprado com parte do dinheiro do trabalho e que faltava muito para pagar e sai chorando. Passei no CAPS e as pessoas estavam assumindo novos cargos comissionados. A terapeuta ocupacional era a nova coordenadora. Olhou para mim e disse que tinha usado os próprios métodos. Ainda ouvi da psicóloga que o técnico estava trabalhando em uma cidade vizinha e se eu quisesse, ela me forneceria o endereço. Eu respondi que ele não valia o dinheiro da passagem de ida e vinda. Na realidade, nem dinheiro pra essa tal passagem eu tinha. Sai disposta a não ir mais ali.

Restava a sujeira política, as dívidas...

E depois eu soube que restava a estrada.


ROAD WOMAN A Vida de Uma ProstitutaOnde histórias criam vida. Descubra agora