Capitulo 71 ∆ Do you like art?

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SEG / 21 / SETEMBRO / 2015

Três meses se passaram e tudo continua igual, como se um novo ano letivo não estivesse prestes a começar.
Aqui estou eu à frente do portão da minha nova escola a tentar perceber que tipo de pessoas é que eu vou encontrar aqui.

Nestes três meses, tal como eu disse, nada mudou, este foi apenas mais um verão. Sem amigos/colegas, festas, praia, tudo aquilo porque um adolescente espera nesta época do ano. Já se percebeu que eu sou diferente neste aspeto.

Agora estou perante o que vou enfrentar durante os próximos nove meses, sem ter uma pequena ideia do que poderei encontrar. Confesso que me encontro um pouco nervosa, pois não quero que a experiência do ano letivo anterior se repita.

Respirei uma última vez fundo e depois de ajeitar a mala no meu ombro, decido dar um passo e entrar finalmente naquilo que mais temi encontrar neste verão: edifício escolar.

Mal entrei vi adolescentes a andarem pelos corredores, uns para reencontrarem os seus amigos, outros para se dirigirem a determinados locais da escola, e inclusive, uns a andarem de maneira a não quererem ser vistos, quase como se desejassem a invisibilidade, como eu.

Fui até à minha mala e tirei de lá umas folhas que iriam ser úteis para este primeiro dia nesta escola nova. Procurei pela folha onde dizia qual deles seria o meu cacifo e assim que encontrei comecei a dirigir-me para lá. D14 era o número do meu cacifo e assim que o encontrei abri novamente a minha mala e, ao mesmo tempo que olhava o meu horário, colocava os poucos cadernos que tinha na mochila e que não iriam ser necessários para este dia.

Depois de fechar o cacifo, comecei a andar pelos corredores ao mesmo tempo que organizava as folhas que tinha nas mãos, até sentir um encontrão nas minhas costas, o que me fez deixar o monte de folhas cair para o chão.

"Desculpa." Ouvi uma voz atrás de mim ao mesmo tempo que me baixava para apanhar as folhas.

"Tudo bem." Falei e assim que tinha o monte novamente organizado nas minhas mãos, levantei-me e virei-me de seguida para ver quem tinha sido o inteligente que tinha ido contra mim.

Deparei-me com um rapaz, um pouco mais alto que eu, moreno e de olhos castanhos.

"Tu és nova, certo? Caloira?" Engoli seco e ajeitei o que tinha nas mãos.

"Sim, é o meu primeiro dia nesta escola."

"Então já foste buscar o teu guia?" Olhei-o confusa.

"O meu guia?"

"Sim, todos os anos, alunos do último ano, ficam responsáveis por acompanhar os caloiros no primeiro dia de aulas. Ajudam em tudo o que precisarem e dão todas as indicações necessárias para encontrarem as salas, bar, cantina, biblioteca, etc." Encolheu os ombros. "Mas pelos vistos tu ainda não encontraste o teu." Neguei.

"Eu não sabia de nada disso." Acabei por admitir.

"Então vem comigo que eu mostro-te onde podes encontrar." Ele fez sinal para eu o seguir e assim o fiz. "Então vieste para esta escola para seguir o quê?" O rapaz moreno falou de forma a afastar o silêncio.

"Humanidades." Respondi. "E tu, também és caloiro ou já estás aqui há algum tempo?"

"Eu sou do último ano." Olhei-o certamente espantada. Ele aparenta ser mais novo do que aquilo que realmente é. "E estou a tirar artes plásticas."

"Interessante." Falei ao mesmo tempo que continuávamos caminho.

"Tu gostas de arte?"

"Não é que perceba muito, mas até gosto de observar." Confessei.

"Bem, já eu não gosto muito de letras, nunca gostei muito de escrever." Eu apenas soltei uma leve gargalhada. "Mas respeito todos aqueles que o fazem para se sustentarem."

"Bem, eu não vou muito pela parte da escrita..." O rapaz moreno que eu ainda desconheço o nome, olhou-me confuso.

"Então se vais estudar humanidades, vais mais pelo quê?"

"Humanidades não é necessariamente letras. Não só pelo menos." Expliquei. "História, eu vou mais pela história."

"História?" Eu assenti. "Bem, isso ainda é pior que as letras." Eu ri-me, sendo acompanhada pelo rapaz do último ano. "A sério, quer dizer, quem se interessa por algo que já aconteceu, onde a maior parte deles já está mais que enterrado."

"Eu percebo." Encolhi os ombros. "Também não compreendo aqueles que se interessam por uns simples rabiscos numa tela branca e fazem disso o resto da vida." Falei sem o olhar e assim que acabei percebi que ele tinha deixado de andar ao meu lado. Quando me virei vi-o parado a olhar para mim com um sorriso brincalhão na cara, o que me fez retribuir.

"Sabes uma coisa, sabichona, não são apenas rabiscos, são histórias contadas através de imagens desenhadas com a própria mão." Ele falou num tom de brincadeira.

"Bem, também não são apenas corpos debaixo da terra, são pessoas que nos fazem evoluir de dia para dia." Falei no mesmo tom e, mais uma vez, o rapaz deu-me um sorriso brincalhão. De facto, eu estava a gostar de ter esta conversa com ele, nunca tinha "discutido" com ninguém antes.

"Muito bem..." Ele falou ao fim de alguns segundos calados. "Ganhaste!" Sorri vitoriosa. "Mas... não penses que esta conversa acaba aqui, porque não acaba." Eu apenas sorri e assenti em seguida.

"Tudo bem." Levantei as mãos em forma de rendição. "Continuaremos esta conversa quando quiseres." Propus.

"Perfeito, hoje há noite."

"Hoje há noite?" Perguntei um pouco confusa, nunca pensei que ele planeasse conversar comigo logo que tivesse hipótese.

"Sim, hoje há noite. Há um café bastante sossegado e no início da semana costumam ter música ao vivo. É algo mais familiar percebes? O ambiente é muito fixe e dá para passar um bom tempo." Eu sorri.

"A que horas devo estar nesse café com música ao vivo no início da semana?" Ele deu-me um sorriso amigável.

"Pelas nove." Ele falou e eu assenti. "Prometo que não ficamos até muito tarde porque amanhã é um novo dia."

"Muito bem, rapaz responsável." Sorri e ele soltou apenas uma gargalhada leve.

"Bem, e que tal irmos à procura de um guia para ti? Caso contrário vais chegar ao final do dia sem conhecer nada, a não ser um rapaz perfeitamente bonito e inteligente..." Eu apenas ri-me.

"Eu acho que prefiro ir à procura de um guia." Ri-me quando começámos a andar e ele fez-se de magoado.

Dating Text, AGAIN ∆ H.GOnde histórias criam vida. Descubra agora