Broken Home

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Domingo, 17 de maio de 2015

Hey mom, hey dad when did this end?
When did you lose your happiness?
I'm here alone inside of this broken home

Michael pagou o motorista do convencional carro amarelo com certa tristeza. O caminho do aeroporto até havia sido resumido apenas em Clifford escrevendo letras de músicas que há algum tempo insistiam em rondar sua mente. Aquilo estava aliviando-o, o fazendo se esquecer de tudo que o esperava, porém nada nunca seria o suficiente para manter sua mente tranquila e todo o seu ser longe de problemas.

Ele sentiu seus lábios tremerem assim que colocou seus pés no asfalto, ouvindo o táxi se afastar em velocidade mediana. Michael encarou a casa simples a sua frente, respirando fundo e deixando que a realidade o atingisse.

Ninguém nunca imaginaria que, naquela casinha bonita, com paredes rosa e janelas brancas, onde Michael havia passado toda a sua infância e adolescência, tudo se escondia debaixo das cortinas. Aquela típica aparência de casa de bonecas não era nada mais nada menos que uma máscara, onde um lar quebrado escondia-se em um manto de sorrisos forçados e amores falsos.

Os Clifford, desde que Michael podia se lembrar, eram uma família alimentada por mentiras. Todos que os viam pensavam estar olhando para o retrato da família perfeita. Um filho que certamente havia sido bem educado, o orgulho dos pais, estes que eram os melhores, os mais compreensíveis, que haviam lhe ensinado todos os verdadeiros valores da vida; era isto que seus sorrisos brancos, suas roupas bem passadas e cabelos impecáveis mostravam.

Claro que todos pararam de pensar desta maneira quando Michael resolvera revoltar-se e mostrar como realmente era: um adolescente que gostava de usar camisas de bandas de rock, cabelo colorido e uma personalidade um tanto quanto estranha aos olhos alheios.

Crescer em New York não havia sido uma experiência muito boa. Não era nada com a cidade, mas sim com sua família. Michael amava sua mãe, não a julgava, mas se tinha uma pessoa que ele odiava com todas as suas forças, esta pessoa certamente era seu pai.

Michael nem sabia se podia chamá-lo de pai. Aquele homem possivelmente havia desencadeado seus problemas psicológicos, como a depressão e a baixa autoestima. Daryl Clifford era um ser humano desprezível; tudo era um jardim de rosas antes de Karen engravidar, dando a luz a Michael. Ele estava certo de que aquele filho não lhe pertencia, então, a seu ver, não devia trata-lo como tal.

Daryl sempre tratou Michael da pior maneira possível, xingando-o sempre e fazendo de tudo para que ele, ainda garoto, nunca se sentisse bem consigo mesmo. Como se já não bastassem as humilhações verbais para com ele, o homem ainda gastava seu tempo livre embebedando-se no centro da cidade, apenas para voltar para casa e descontar suas frustrações em Karen, quem sempre acabava com alguma marca por algum lugar de seu corpo, onde ninguém poderia ver ou sequer imaginar.

Eles berrariam. Eles gritariam. Eles estavam brigando. Michael assistiria o pesadelo vigorando, as paredes desmoronando, tudo aquilo escondido, chorando baixinho ao presenciar a cena que já havia se repetido várias vezes. Ela esperaria. Ela rezaria. Ela já sabia que iria acontecer. Michael também sabia.

Mas é claro que aos olhos alheios eles continuavam sendo a família perfeita, com sorrisos falsos e poses ensaiadas para quem ninguém suspeitasse de nada.

Michael apertou a alça da mochila, pegando as duas malas que o acompanhavam e caminhando em vagarosos e hesitantes passos para o interior daquela casa que lhe trazia apenas lembranças ruins. Ao rodar a maçaneta e entrar, fechando a porta atrás de si com o mínimo barulho possível, ele caminhou sem olhar para os lados em direção ao seu antigo quarto, no fim do corredor, ouvindo apenas sua respiração e as rodinhas das malas contra o piso.

sounds good feels good • mukeOnde histórias criam vida. Descubra agora