"...Lauren e Sofia..."

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Twitter: ISBB5H


"As pessoas acham que a alma gêmea é o encaixe perfeito, e é isso que todo mundo quer. Mas a verdadeira alma gêmea é um espelho, a pessoa que mostra tudo que está prendendo você, a pessoa que chama a sua atenção para você mesmo para que você possa mudar a sua vida. Uma verdadeira alma gêmea é provavelmente a pessoa mais importante que você vai conhecer, porque elas derrubam as suas paredes e te acordam com um tapa." (Elizabeth Gilbert)


Narração: Camila

Miami – 22:30

– Porra! Qual o seu problema?! – Gritei pela dor do choque e ergui a cabeça procurando o culpado. – Merda... – Disse ao encontrar ali, estendendo-me as mãos, a última pessoa que seria capaz de imaginar. As lágrimas desciam rápidas e grossas pelas minhas bochechas e limpá-las era um esforço inútil. Durante alguns segundos considerei o atual leque de opções que incluíam rolar para o lado e deixar que passasse por mim como um rolo compressor, ou talvez tentar me erguer sozinha, embora a dor fosse um lembrete constante dos meus ferimentos e da minha incapacidade de fazer grandes esforços. Eu poderia ainda gritar por socorro e com sorte alguém se sensibilizaria o bastante para me ajudar a ficar de pé.

– Aceitar a minha ajuda não vai te matar, Camila. – O par de mãos continuava imóvel. No mesmo lugar. Apenas me esperando ceder. – Vamos, aceite e acabe logo com isso. – Sem mais alternativas de escape o fiz sem deixar de demonstrar o meu total desacordo. O levantar foi lento. Terrível e exigiu mais esforço do outro corpo que do meu próprio, mas não ouvi nenhuma reclamação, o que me deixou não somente surpresa, como também apreensiva pelo que viria a seguir. – Devo assumir que acabou passar por uma crise de choro, ou desenvolver uma hipótese de uso de drogas? Tenho problemas em definir qual é o seu caso. – Virei o meu rosto escondendo-o na sombra. Humilhada, era bem como eu me sentia. – Talvez a primeira opção. Vou agora um pouco além e dizer que você e Lauren andaram discutindo. Correto?

Talvez fosse apenas a minha impressão, mas de repente a noite de Miami deixou de ser fresca para tornar-se fria. Gelada até. – Algo assim. – Murmurei assistindo minha mochila ser coletada do chão e entregue à mim em seguida. – Preciso ir. – Não que eu lhe devesse alguma explicação, mas me pareceu o mínimo a ser dito.

– Assim? – O dedo indicador me mediu de cima a baixo. A expressão de deboche misturada a incredulidade criavam todo um ar de nojo, e era dessa mesma forma que eu me sentia em relação à mim mesma. Enojada. Nada respondi envergonhada demais. – Está usando pijamas. De péssimo gosto, devo acrescentar. – Se referiu a minha calça de moletom e ao grande casaco que me envolvia. – Seu rosto está inchado, o choro persiste, mal consegue andar quando manca dessa forma, e a julgar pela mancha de sangue em sua blusa eu diria que um dos seus curativos acabou de se abrir. – Pausou me desafiando a discordar. – Provavelmente com a queda.

No mesmo instante olhei para baixo procurando pela tal mancha e praguejei infinitas vezes quando a vi tão vermelha e nítida no tecido. – Droga, droga, droga!

– Posso perguntar para onde exatamente você pretende ir? Nesse estado?

– Não lhe interessa! – Vociferei tentando erguer a blusa para encontrar o curativo aberto.

– Certamente que não. O meu interesse em você é mínimo. – Riu sem humor. – Contudo, conheço algumas pessoas que muito se interessariam e por essa razão torno a perguntar. Para onde pretende ir neste estado?

– Para qualquer lugar bem longe daqui! – Meus músculos exaustos pelo menor esforço. – Eu só preciso sair daqui. – Forcei minhas pernas em direção à praia espiando o corte por baixo da blusa na intenção de me certificar que o meu andar não piorasse a ferida.

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