"...um recado..."

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Twitter: ISBB5H


Narração: Camila

Miami Beach – 08:45

Passos lentos, quase arrastados, me trouxeram até a praia. Nesta manhã, apesar do brilho intenso do Sol, uma ventania fria e incomum abraçava a porção sul de Miami. Meus cabelos voavam por sobre os ombros e meus olhos quase fechados tentavam evitar que os grãos de poeira e areia me machucassem. A mesma camisa de Lauren ainda amassada em meu corpo e a mesma calça de moletom me cobrindo as pernas, enquanto uns e outros paravam para me observar. A estranha garota de pijama. Sabia que ao meu redor aproveitavam e se divertiam várias pessoas, mas som algum era capaz de penetrar meus ouvidos.

Foi no limite exato onde as primeiras ondas alcançavam que sentei-me de pernas e braços cruzados, a observar o movimento constante do mar. O oceano que já me levou tantas coisas. O oceano que já me trouxe tantas outras. Águas tão salgadas quanto as minhas lágrimas.


Início do flashback

Cojímar – Cuba – 13 anos atrás

– Hija, suas coisas estão prontas? – Minha mãe passou pela porta do quarto e me encontrou escondida debaixo das cobertas. – Hija, Camila! O que ainda está fazendo aí embaixo? Levante-se! Sofia já está pronta e logo os pais de Veronica chegarão para buscá-las. Se apresse, se apresse!

– Eu não vou! – Declarei sem me mexer. Tão logo as grossas mantas me foram puxadas, exibindo minha silhueta fina encolhida sobre o colchão.

– Que bobagem é essa? Você e Sofia estiveram animadas sobre a viagem com Vero durante toda a semana.

– Apenas não quero ir mais.

Pacientemente minha mãe sentou-se à cama e pousou as duas mãos sobre meus cabelos. – Eles crescem rápido. Sempre cresceram. – Referiu-se aos longos fios castanhos. – Podemos cortá-los em algumas semanas, o que acha? – Concordei em silêncio e agora com os olhos fechados. – Quer me dizer porquê desistiu de um final de semana de pura diversão?

– Papa.

– Qual o problema com seu velho papa?

– Ele não estará aqui. Ouvi vocês conversando e ele disse que iria pescar com os amigos de novo. Papa te deixará sozinha e eu não posso ir.

– Hija...

– É melhor que eu fique. Sofia precisa de mais diversão do que eu. Posso ficar e fazer companhia à senhora.

– Minha querida, não será preciso. – Sorriu-me com carinho e admiração. – Posso sobreviver sozinha a dois curtos dias.

– A senhora esteve doente por toda a semana, madre. – Me lamentei. – Não me parece certo.

– Mila, Mila, Mila! – Minha mãe gargalhou da voz estridente de uma Veronica afobada que vinha ganhando as escadas com pressa. Cedo demais sua cabeça apontou através da porta. Tinha o desespero estampado no rosto. – Você não irá conosco? Meus pais estão lá embaixo e, e Sofia disse à eles que você não irá conosco, e agora ela também não sabe se quer ir, e...

– Veronica, acalme-se. Respire criança. – Minha mãe esticou a mão para afagar-lhe a cabeça.

– Mila, você tem que ir! – Choramingou. – E então Sofia também irá, e será tão divertido! Por favor, por favor, por favor... Diga a ela tia Sinu. Diga a ela para ir!

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