"...cada pequeno sinal..."

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Twitter: ISBB5H


Narração: Camila

Flórida – 09:30 – Dias atuais

– É a sua família, gata. – Mani se aproximou tomando para si a tarefa de me ajudar com o pequeno corte. – É a sua família que me deixa assim tão maluca. – Preparou-se para deixar o cômodo. – A propósito... Eles estão procurando por você.

Concluímos o curativo em poucos minutos e tendo ainda Normani tagarelando ao meu lado, descemos as escadas em direção à sala de estar, onde para a minha surpresa o barulho já não era tão intenso. A procura dos "recém chegados" fui até a cozinha. – Despachei a turminha para a varanda, Dona Camila. Para que não sujassem a casa com essa bendita areia. – Disse Suzane. Sorri agradecida e ansiosa girei sobre as pontas do pés tomando o acesso dos fundos para chegar a área externa da casa, mas assim que meus castanhos se ajustaram à toda aquela claridade, todo o resto, toda a paisagem e o mundo pareceu desfazer-se diante de minhas vistas e todo o brilho que eu enxergava emanava do belo par de olhos, do enorme sorriso e da aliança dourada, exatamente igual a minha, agora a curtíssima distância.

[...]

6 anos antes

Narração: Camila

Miami – South Beach – Posto da Guarda – 11:35

No intervalo de um ano vidas podem se transformar. No período de um semestre uma paisagem crua pode se converter em verdadeira floresta de flores e pequenas árvores e em um único mês dezenas de fios brancos podem surgir em uma cabeça. Entre a manhã de um domingo e a noite do sábado seguinte há tempo que basta para um coração quebrar-se e remendar-se, e dentro do limite de vinte e quatro horas percebe-se o céu mudar suas cores uma, duas e três vezes. Ou mais.

Não é sobre o tempo. Não é o tempo que me chama a atenção, mas as vidas que se transformam, as paisagens que se convertem, os fios que crescem e os corações que mais parecem quebra cabeças. É sobre o céu também. E sobre tudo, cada respirar, cada passo, cada amigo feito ou esquecido, cada amor desfeito ou conquistado. Cada criança que nasce e sorriso velho que se perde.

É sobre perceber e valorizar cada pequeno sinal recebido. Cada pequeno sinal de que ainda há tempo para mudar, de que ainda é tempo de melhorar, de que existe cura para todas as almas e novas esquinas para serem desbravadas. Novas pessoas para amarmos e prazo para reconquistar aqueles que nos escaparam. Cada pequeno sinal que grita: ainda estamos vivos.

– Você deve prometer guardar segredo e... – Abri a porta do Posto empurrando-a com força e Normani calou-se de repente. Fitei-a com desconfiança enquanto analisava cada mínimo movimento feito. – Dinah, eu te ligo depois, tudo bem? – Murmurou baixo e guardou o pequeno aparelho em seu bolso traseiro. – Olá pequena bunduda. – Acenou com um sorriso nervoso e meu rosto endureceu em resposta. Cada mínimo aspecto do dia de hoje parecia me irritar profundamente e o comportamento suspeito e volátil de minha amiga piorava tudo.

– Segredinhos com Dinah, é? – Perguntei.

Mani abriu bem seus olhos escuros e os lançou sobre meu corpo. – Isso te incomoda?

– Não. – Forcei o som.

– Sei. – Zombou antes de se aproximar. Sentou-se ao meu lado e passou um dos braços por cima dos meus ombros. – Qual o problema, gata? Por que essa carinha emburrada?

– Você esteve fugindo de mim durante toda a manhã.

– Que mentira absurda! – Rebateu sem me convencer. – Agora me diga qual é o verdadeiro problema. Quem eu preciso matar dessa vez?

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