Capítulo 22

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Anna

Eu estava bem. Estava salva. Repetia isso na minha cabeça a cada três segundos. Kelley me segurava firme e eu sentia sua respiração nos meus cabelos. Estávamos na estrada há dois dias. Pararíamos em breve para comer e pegar um quarto, agora que havíamos botado distância suficiente entre nós e o pesadelo.

- Tente descansar um pouco. – Sussurrou.

Mas eu não queria fechar os olhos. Se fechasse lembraria de tudo aquilo e eu não queria. Então virei a cabeça e fiquei o olhando. Seu rosto estava exausto e machucado. Preferimos não dar entrada no hospital, então Kelley tratou algumas de nossas feridas com algumas coisas que compramos na farmácia. De qualquer modo, não era nada tão grave assim. Na maioria, cortes, contusões e balas que passaram de raspão.

Algum tempo mais tarde, estávamos em Nevada. Pegamos dois quartos em um hotelzinho beira de estrada com uma das várias identidades falsas de Kelley. Eu estava exausta. Não havia conseguido dormir nada. Fechamos a porta da nossa suíte e eu praticamente corri para o banheiro.

- Vou comprar comida e algumas roupas para nós, certo?

Uma sensação de pânico me invadiu ao pensar que ficaria sozinha mas logo me acalmei. Eu estava bem, estava segura.

- Tudo bem!

Esperei a banheira quase transbordar de água escaldante e entrei. Caramba, como eu senti falta de um banho. Encarei minha pilha de roupas no chão. Ash havia pegado algumas coisas para a gente em uma lojinha que passamos, afinal não podíamos andar por aí com roupas ensanguentadas.

Fechei os olhos sentindo a água na minha pele. Esfreguei com a bucha para tirar toda a sujeira, passando por todos os machucados. Passei xampu nos cabelos e lavei pelo menos umas três vezes. Meus joelhos estavam ossudos, assim como os cotovelos e eu podia contar minhas costelas.

Estava submersa em pensamentos quando Kelley voltou. Ele parou na porta do banheiro e um olhar de dor passou por seu rosto.

- O que foi? – Perguntei.

Ele balançou a cabeça.

- Kell...

- Me desculpe.

Franzi a testa.

- O que?

- Me desculpe, Anna. Por tudo. Por não ter lhe tirado de lá antes. – Ele começou a chorar. – Por ter deixado levarem você.

Meu coração quebrou com isso.

- Venha aqui.

Em instantes Kelley se juntou a mim na banheira pequena, suas roupas emboladas junto as minhas no chão.

- Não foi culpa sua. Você me salvou. – Sussurrei.

Ele começou a negar com a cabeça, mas peguei seu rosto entre minhas mãos e olhei em seus olhos negros cheios de lágrimas.

- Você me salvou, meu amor.

- Você me salvou também. Como eu te amo, Anna. – Ele enterrou o rosto na curva do meu pescoço. – Deus, como senti sua falta.

Sua boca tomou a minha com o fervor de sempre e eu correspondi com a mesma necessidade. E ficamos assim até a água esfriar, lavando um do outro todo o sangue, toda a culpa, toda a dor. Tudo isso foi embora pelo ralo, para nunca mais voltar.

Sem perder tempo, fomos para cama. Enrolei minhas pernas em torno da sua cintura, agarrando seus cabelos. Suas mãos acariciavam cada parte do meu corpo e ele correspondia ao seu toque com um fervor que eu nunca havia sentido antes.

TentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora