Capítulo 18

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Anna

 Frio. 

 Muito frio. 

 Foi a primeira coisa que pensei enquanto recobrava a consciência lentamente. Minhas costelas doíam, como se um urso pardo obeso tivesse caído em cima de mim. Até respirar doía.Rastejei lentamente até a parede, segurando as pernas contra o corpo. 

 Respire, está tudo bem. Está tudo bem. 

 Kelley viria me buscar, eu confiava nisso. 

 Ele viria. 

 Então a porta se abriu e tudo recomeçou, mas eu  já tinha me desligado. 

  - Ande duas casas. - Eu disse. 

 Kelley e eu estávamos jogados na varanda, em um dos meus dias de folga, jogando Jogo da Vida. Havíamos achado no porão, em uma das nossas "saídas para namorar". 

 - "Parabéns, seu filho nasceu, receba os presentes" mas que porra! Nós nem somos casados ainda! - Seus olhos negros se voltaram para mim, divertidos. 

 - Ahhhh tome, coloque o bonequinho azul no teu carro. 

 - Precisamos de um nome para ele. - Seus dedos batiam de leve nos teus lábios, sua testa estava franzida em uma expressão pensativa. - Que tal Annelley? 

 - Annelley? - Comecei a gargalhar descontroladamente, até minha barriga doer e parecer que estava imitando um porco, o que Kelley achou muito engraçado, fazendo-o rir também. 

 Estávamos parecendo dois idiotas quando Phil saiu. Eu estava com a cara vermelha e chorando de rir. 

 - Atrapalho algo? - Perguntou com um sorriso. 

- Não. 

- Sim. 

- Kelley! - Repreendi. 

 - Estávamos escolhendo o nome do nosso filho. 

 Phil se engasgou com o ar.

 - O quê?

 - Não! - Guinchei. 

 - É, pensamos em Annelley, o que acha tio?

 Eu mataria Kelley. Com minhas próprias mãos. Mas depois que eu risse mais um pouco porque a simples menção do nome já me fez cair na gargalhada. 

 - É... Peculiar. 

 - E não, não estou grávida. - Consegui dizer.

 - Isso é bom, eu acho. - Phil disse depois que se recuperou do choque. - Bem, estou saindo. Divirtam-se, meninos. 

 Depois que ele se foi e eu e Kelley encerramos o jogo, me aconcheguei ao seu lado nas escadas vendo o sol se pôr, tingindo o céu de rosa e laranja. 

 - Talvez um dia. 

 - Oi? - Perguntou distraído. Seu lindo rosto se virou para mim, o cabelo caindo por cima dos olhos, o olhar sereno. 

- Filhos. Talvez um dia.

Ele pensou por um momento antes de responder. A ponta de um sorriso repuxou seu lábios. 

- Sim. - Disse dando um beijo no topo da minha cabeça. - Um dia. 

Kelley

Seu túmulo estava no topo de uma colina, com seu nome gravado em mármore. Havia uma árvore perto, cheia de flores roxas, e as pétalas que caim voavam para sua lápide. Phil teria gostado. 

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