Hold On

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Naquela noite, ela viera o ver.

Não era algo incomum mas, naquela noite em especial, Ada estava diferente. Leon podia jurar que ela tinha uma expressão mais exausta que o normal e tudo o que falava parecia soar como uma despedida.

Suas suspeitas de que algo estava realmente errado aumentaram quando ela enterrou a cabeça em seu pescoço e pediu para que ficassem assim. Ele obviamente não recusou. Prendeu-a em seus braços e deitaram na cama.

Se havia uma coisa que o loiro sabia, era que não adiantava perguntar o que estava havendo para a asiatica; ela nunca respondia. Sentia-se inútil por não poder fazer nada e odiava essa "mania de independência" típica que ela tinha, mas a compreendia e não hesitava em abraça-la e — tentar — fazê-la se sentir melhor.

Mas, naquela noite, foi diferente.

Ficaram horas daquele jeito. Leon afagava os curtos cabelos negros e hora ou outra trocavam beijos e poucas palavras. Ada vestia uma das camisas do agente — por pura insistência do mesmo — e mantinha os olhos fechados, aproveitando as caricias do homem a sua frente. Por que não podia ser sempre assim?

02:15h da manhã.

O loiro já dormia tranquilamente, enqaunto a chinesa saia de seus braços com todo o cuidado do mundo para não acordá-lo. Encarou o rosto sereno e sorriu sem humor.

— Obrigada por acreditar em mim quando nem eu acreditava — sentiu lágrimas acumularem em seus olhos conforme seus dedos tocavam o rosto alvo, gravando cada minimo detalhe em sua mente.

Ela se sentia fraca e odiava isso, mas não aguentava mais.

Olhou mais uma vez para o homem que dormia tranquilamente. Leon era sua salvação, seu pontinho de sanidade e ele sabia disso. Mas era cruel demais para ela saber que a culpa de todo — ou quase todo — o sofrimento do loiro era sua. Sempre foi. Desde anos atrás, desde Raccon. Tudo a fazia se sentie culpada, inútil e suja. Estava cansada.

Ada enfim levantou-se da cama, pegando a bolsa que trouxera consigo e começando a caminhar em direção ao banheiro. Não queria fazer isso ali, mas precisava vê-lo pela última vez e sentia que não tinha mais forças para ir até outro lugar.

Girou a chave e quando finalmente se viu trancada sozinha naquele cômodo, escorregou pela parede até tocar o chão e se permitiu chorar tudo o que segurou durante anos de sua vida.

02:45h da manhã.

Leon acordou sentindo o vazio ao seu lado na cama. Sabia que ela provavelmente já teria ido embora, mas, como sempre, procurou-a pelo quarto na esperança de ainda encontrá-la ali.

Um sorriso bobo brotou em seus lábios ao notar a luz passando por debaixo da porta do banheiro. Ada ainda estava ali, afinal. Caminhou a passos lentos sem conseguir conter a felicidade por conseguir vê-la ao acordar.

— Ada? — bateu na porta — Achei que ficar depois das 2h era contra seu "regulamento" — riu brevenente.

Suas mãos pousaram sobre a maçaneta no intuito de abri-la, mas estava trancado. Franziu o cenho.

— Hey, abre a porta — pediu, batendo novamente — Ada? Sei que você está ai.

Bateu mais algumas vezes, sem nenhuma resposta. O loiro sentiu uma sensação sufocante o atingir. Sem pensar duas vezes, jogou seu corpo contra a porta, usando seu peso para quebrar a tranca e abri-la.

O longínquo barulho dos carros que vinha de fora pareceu cessar. Um aperto agonizante formou-se no peito do Kennedy, e sentiu como se fosse explodir.

O corpo de Ada, mais pálido que o habitual, estava deitado no ladrilho frio do ambiente. Ao verificar ao redor da mulher, o Scott fixou o olhar em cartelas vazias diversas de remédios perto da bolsa a qual ela havia trazido.

Não... Não, não, não...

Leon se acomodou ao lado da morena e tocou relutantemente o pulso da mesma. Nada. O loiro queria gritar, mas a sua voz sequer saía. Os olhos azulados tornaram-se como o mar e logo o Kennedy se afogou em lágrimas.

— Não faz isso comigo, Ada, por favor... — suplicou em um fio de voz.

O loiro puxou o corpo frio para si e o envolveu com seus braços. A face pálida da Wong fora umedecida pelo choro do homem.

— Eu preciso de você... Não me deixa... — continuou a chamá-la e clamar seu nome, em vão.

Com as mãos trêmulas acariciou as madeixas emaranhadas e aproximou os lábios secos de Ada dos seus, até que enfim se encontraram. Um forte nó na garganta do loiro fora formado ao perceber que estava a beijar um cadáver, não a mulher que há uma hora ainda iria correspondê-lo.

— Por que você me deixou? — o questionamento desesperado saiu como um sussurro. A respiração do loiro falhara a cada vez que os olhos fechados de Ada ainda pareciam vê-lo.

Mas ele sabia a resposta.

Todos tem um limite, e o limite de Ada Wong já havia sido ultrapassado há tempos. E Leon sabia disso.

Red Line • Aeon One-ShotsOnde histórias criam vida. Descubra agora