More Than Words | Part Of Me Project ʚĭɞ

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A lua brilhava no céu, há muito tempo que seu reinado começara; naquela noite ganhando mais atenção que o habitual, principalmente por estar cheia e ainda mais bela que o normal. Alguns diziam que ela via e ouvia os segredos de todos, sussurrados ao vento; sabia tudo o que contavam e o que não contavam, era porto seguro das almas reféns da noite e a protetora de mentes solitárias.

Naquele momento, se tais pensamentos forem verídicos, ela, junta de muitas estrelas, provavelmente temia pela chegada de Leon em casa com segurança.

O loiro estava bêbadao, por sinal. Sozinho e cambaleando pelas ruas mal iluminadas da cidade. Não era como se ele costumasse fazer isso, beber no conforto do seu apartamento era sempre a melhor escolha, mas naquela noite não parecia uma opção, a quietude daquele lugar parecia alta demais.

— Que merda de férias... — A voz de Leon estava embargada pelo álcool. Um pouco longe de casa, só precisava de mais alguns passos... — Que merda de lugar...

Riu amargo das próprias palavras arrastadas até uma náusea o cortar; a cabeça começou a latejar de dor, a sensação forte de queimação indo do peito até a extensão da garganta, o estômago se revirou e ele sentiu um bolo amargo manifestar-se em seu âmago, se forçando a sair.

Era seu corpo avisando que ia vomitar ali mesmo, no meio da rua.

E não pôde segurar, apenas deixou o efeito colateral do álcool agir, inclinando o corpo para frente em reflexo. Sentiu todo o bolo subir pelo esôfago, sentiu o caminho por onde passava ficando ácido e o odor forte demais queimando seu nariz e olhos. Lágrimas brotaram e derramaram das íris azuis, porém à medida que se intensificavam, ele já não tinha mais tanta certeza se ainda eram somente pela ressaca e o ardor crescente na garganta.

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Ada caminhava pelas ruas já desertas da cidade, aproveitando a brisa suave da noite. Havia acabado de terminar um trabalho exaustivo e estava ansiosa para chegar no hotel e relaxar na banheira pelas horas de descanso que ainda lhe restavam. Teria que ir para um país na América Latina no dia seguinte — missões de última hora, ela odiava — e por hora estava fazendo escala em Washington.

Seus planos eram apenas uma noite tranquila no hotel, mas uma parte de si a fez desviar o caminho, rumando até a rua próxima e tão bem conhecida que cercava o apartamento de um certo loiro que ela não via há meses. No entanto, algo no beco escuro agora à sua frente a chamou atenção. Ela ouviu murmúrios abafados e decidiu investigar, uma das mãos automaticamente buscando pelo canivete suíço em sua bolsa.

Com passos cautelosos, Ada se aproximou e viu uma figura quase familiar sentada no meio fio, curvado contra o próprio corpo. Estreitou os olhos, forçando-os mais através da pouca luz e seu coração se apertou ao confirmar que era ninguém mais, ninguém menos, do que...

Leon? — chamou, em uma mistura de preocupação e descrença.

Leon ergueu a cabeça lentamente, seus olhos ainda molhados encontrando os dela. Seu rosto estava pálido, os lábios secos, tremendo como um cachorrinho de rua e o cheiro de álcool impregnava o ar ao seu redor.

— Ada...? — ele murmurou, a voz trêmula e arrastada. — O que você tá fazendo aqui?

— Eu poderia fazer a mesma pergunta — retrucou, uma pontada de reprovação em sua voz — Você tá completamente bêbado, Leon. O que aconteceu?

Ela se aproximou com cautela, sentindo a súbita necessidade de envolvê-lo em um abraço protetor ao notar as íris azuis refletirem em lágrimas não derramadas sob a luz fraca. Leon tentou se levantar, mas seus pés pareciam não obedecer, quase fazendo-o cair. Ada agiu rapidamente, segurando-o para evitar sua queda iminente.

Red Line • Aeon One-ShotsOnde histórias criam vida. Descubra agora