Capítulo 7

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Fui o caminho todo de volta para casa calada. Hora ou outra olhava para a janela do carro semiaberta e me olhava no retrovisor, com uma cara péssima, e me sentia mais péssima ainda. Ao chegar em casa, não quis almoçar. Subi logo correndo as escadas e me tranquei no meu quarto. O meu celular não parava de tocar e eu não sabia como encararia o fato de que quebraria o coração já quebrado de Victor Breviglieri. Eu não suportaria olhar para aqueles olhos esverdeados e dizer que não fui a pessoa que ele esperava que eu fosse. Por outro lado, o resto da escola viu tudo acontecer ao vivo e à cores. Seria melhor ele saber por mim, não?

Abri minha mochila para tirar alguns cadernos para estudar. Ao abrir o meu caderno de física, um pedacinho de folha de caderno caiu, com a seguinte frase escrita:

"Eu não sei o que fiz para te merecer, mas a cada momento que passo com você parece que você dá um jeito de me mostrar que nós pertencemos um ao outro"

Eu quis sorrir, mas pensar que não honrei a chance que recebi me quebrou por inteira. Fui fraca e injusta com os sentimentos de Victor e dessa vez acho que, por mais que ele me ame, não haveria como me perdoar.

Ainda sem almoçar, desci as escadas e pedi à minha mãe que me levasse a casa de Victor. Ela entendeu que eu não queria explicar o porquê, só pegou a chave do carro em cima do móvel de madeira da sala e as chaves de casa em cima da mesa de jantar e fomos caminhando até a garagem.

Fiquei quase uma hora parada em frente à porta branca da casa de Victor. Era outono, estava frio nas ruas e eu continuava parada, pensando se deveria realmente fazer o que pretendia. Minha mão, tremendo, foi até a campainha e a pressionou. Nenhuma resposta. Pensei que não havia ninguém em casa e me sentei no primeiro degrau da escada de madeira branca que fica em frente à porta principal.

Escutei um barulho vindo de trás da casa e pensei que alguém, como a casa é grande, poderia não ter escutado o barulho da campainha. Dei a volta na casa e encontrei o portão da garagem aberto. 

– Victor? – perguntei, tentando encontrar alguém na garagem, que estava vazia. A porta que dá acesso à casa estava aberta e, timidamente, entrei. – Tem alguém em casa? – perguntei mais uma vez.

A sala estava uma bagunça, parecia que não vivia ninguém ali por meses. Me assustei quando ouvi passos no andar de cima, em direção à escada. Era Victor, em prantos, com as bochechas rosadas de tanto chorar. Eu subi correndo as escadas e o abracei forte, querendo consolá-lo mesmo sem saber o que havia acontecido.

– A garagem está vazia – ele disse, enxugando suas lágrimas enquanto me abraçava. – Levaram.

– O quê? – perguntei, confusa, virando para trás e fitando a garagem.

– A caminhonete. Meus pais se desfizeram dela – Victor explicou, e eu passei as duas mãos pelos seus cabelos lisos e bagunçados, enquanto encostávamos nossas testas uma na outra. 

Ele foi andando para seu quarto e eu fui atrás, preocupada. Ele se jogou na cama, amassando todos os lençóis e eu pensava no quanto ele ficava perfeito com aquela calça jeans largada e aquela blusa vermelha nem-colada-nem-largada da Calvin Klein. Fui lentamente me aproximando, com medo do estado dele, me ajoelhei em sua cama de casal, ao seu lado, e fiz carinho em suas costas. Acidentalmente, algumas lágrimas caíram no colchão e eu me deitei ao lado dele. Passei o meu braço por trás de suas costas, abraçando-o, e não disse nada.

Nos mantivemos em silêncio por muito tempo. Ele virou para o meu lado, recolhendo os joelhos, e eu me ajeitei para nos encaixarmos. Passei as mãos em seu rosto e enxuguei suas lágrimas. Ele também colocou sua mão direita em meu rosto e me acariciou com o polegar.

– Eu sei que ela significa muito para você – eu disse e meus olhos se encheram d'água. – A gente precisa conversar.

– Sobre ela?

– Sobre nós.

Suas sobrancelhas se franziram e ele me olhou, desentendido. Seus olhos estavam tomados pelas lágrimas e aquilo me fazia sofrer ainda mais.

– Eu errei – eu confessei, abaixando os olhos e contraindo o meu rosto de dor.

Victor permaneceu calado e com a mesma expressão, então se apoiou sobre braço esquerdo, se levantando um pouco e ajeitou o cabelo para o lado esquerdo.

– Eu te amo, Victor.

– Eu também te amo, Clarissa. O que aconteceu? 

– Eu não fui a pessoa que você esperava que eu fosse. Meu ex-namorado apareceu. Voltou do exterior. E ele me beijou na frente do colégio inteiro.

– Ele te beijou ou você o beijou? – perguntou com muita raiva no olhar. Suspirou e, pela primeira vez em muito tempo de conversa, tirou os olhos de mim.

Aquele momento de negação e o fato de que ele não conseguia mais me olhar me doeu muito e eu me senti mais uma vez incapaz de ser amada, seja por Victor ou por Matheus. 

– Olha pra mim – eu disse e pus a mão em seu rosto, virando-o em minha direção. – Nós nos beijamos, ok? E foi totalmente sem pensar, mas eu te amo!

– Você o ama ainda?

– Não, eu te amo. Por favor, Victor, acredita em mim. Eu te amo.

– Eu estava precisando de você por causa da droga da caminhonete e os seus lábios estavam se encontrando com nem mais nem menos do que o seu ex-namorado?

– Foi uma coisa de um momento só, não me olha assim... – eu respondi aos prantos, tapei os meus olhos com as mãos e chorei a ponto de soluçar. – Eu não queria que fosse assim, eu não consigo ao menos me perdoar, e eu entendo que você não consiga me olhar mais da mesma forma.

Victor se levantou rudemente da cama e foi em direção a porta do seu quarto. Os pôsteres colados nas paredes se movimentaram por causa do vento que seu movimento brusco causou.

– Eu nunca me abri tanto para alguém – Victor disse, se virando para mim e apontando o dedo enquanto falava. – Eu não falo sobre a Isabela há anos, ninguém sabe como me sinto, e quando eu me abro para alguém, acontece isso?

– Me perdoa.

– Eu queria.

– Me perdoa, por favor – implorei, juntando as palmas das mãos, ajoelhada na cama. Me levantei da cama e fui em sua direção, mas ele se esquivou e desceu as escadas. Fui atrás. Ele parou no meio da sala, confuso, abriu a porta principal e enxugou suas lágrimas.

– Apenas me deixe ir.

– Eu não posso desistir de você assim, Victor.

– Apenas me deixe ir – repetiu.

Eu saí cabisbaixa e muito arrependida. O choro era incessante, quanto mais eu pensava em não chorar, mais fundo eu ia em minhas dores. Victor fechou com muita raiva a porta branca, em minha cara. Sentei-me mais uma vez na escada branca, recolhida.

Olhei para trás e encarei a porta fechada. Eu não fui justa com ele, fui a pior das namoradas e não havia um "tudo vai ficar bem" que pudesse curar a sensação péssima que dominava dentro de mim. Prendi o cabelo em um coque e passei a mão em meu rosto, respirando fundo. Me senti ainda pior do que havia sentido quando soube que Matheus viajou sem dizer uma palavra sequer, quando fiquei sozinha com as minhas dores no meu quarto e fiquei sem comer por dias. Dessa vez, eu havia partido o coração do garoto mais popular do colégio, o coração que estava a poucos passos de se curar. E o sorriso mais-que-perfeito de Victor Breviglieri dessa vez não tinha motivos para surgir em seu rosto.

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