Capítulo 3

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– Clarissa Bittencourt em uma festa, por essa eu não esperava. – ele alternava seus sorrisos com risadas e, como sempre, olhava profundamente em meus olhos.

– É, eu não sou muito de sair mesmo. Sou mais caseira. Já você é bem festeiro, né?

– Eu tenho que fazer jus ao meu status – disse enquanto ria. – Brincadeira. É que eu vejo a vida com outros olhos depois que certas coisas aconteceram comigo. Não me dou o direito de ficar triste.

– Que filosófico.

– É.

– É.

Ele me olhou por alguns segundos, respirou profundamente e chegou tão perto de mim que dava para sentir o seu coração pulsando rapidamente. Um largo sorriso se abriu em seu rosto e finalmente caiu a ficha de aquele garoto alto, magro, de olhos verdes e de cabelos castanhíssimos e lisos estava a apenas alguns centímetros de mim.

– Sabe de uma coisa? – ele perguntou enquanto se aproximava ainda mais. Ficou sério por alguns segundos para tentar me amedrontar e, cômico como era, não aguentou e voltou a rir.

– O quê? 

Victor ficou calado por alguns segundos e tudo passava pela minha mente: como ele iria rir da minha cara ou do meu jeito desengonçado; como ele iria dar um jeito de me desiludir na frente de todo mundo dizendo que nunca ficaria com uma pessoa como eu; como ele queria a presença de todo mundo naquela festa menos a minha.

– Eu nunca soube o quanto eu queria te ver nessa festa até o segundo em que vi você andar em minha direção e me cumprimentar.

Por um segundo, eu juro, o meu coração gelou e eu me travei toda. Victor, aquela paixão de quatrocentos e vinte um dias completados naquele dia, me disse palavras tão encantadoras que eu nunca imaginei ouvir de alguém um dia. 

Estávamos lá, nos dois, com milhares de pessoas em volta e era como se só tivesse nós dois ali. Olhos nos olhos, coração com coração. Ele passou os braços pela minha cintura e cada movimento dele era um motivo para eu me arrepiar ainda mais. Eu me afogava no brilho daqueles olhos esverdeados maravilhosos que estavam tão próximos como nunca estiveram antes. Meus braços se moveram involuntariamente para os ombros dele e nossos lábios se tocaram instantaneamente, num gesto rápido, até que o nosso beijo tomou um ritmo mais calmo, mais romântico e eu pude sentir a sincronia entre nós dois. O vento forte soprando sobre os meus cabelos já não me atrapalhava e tudo o que me passava pela mente era o quanto eu tinha esperado por aquele momento, o quanto eu tinha desejado que, pelo menos por um momento, eu fosse desejada por ele.

Nossos lábios se separaram por um momentos e nós dois sorrimos feito bobos. Ele avançava aos poucos para me beijar mais e cada vez que ele fazia isso aumentava a minha vontade de gritar para o mundo inteiro: "Victor, eu te amo! Eu te esperei por quatrocentos e vinte e um dias e eu seria capaz de esperar ainda mais se eu pudesse sentir o gosto da sua boca dessa exata maneira no dia que fosse. Não teve um dia sequer que eu pensei em desistir de você, porque foi como se alguém sussurrasse em meu ouvido que algum dia, em algum inesperado dia, você chegaria tão perto de mim como chegou hoje e me beijaria de forma tão intensa e, mesmo assim tão suave.".

Mas me contive. Eu não queria que me vissem como a garota iludida que, mesmo ao ter o seu sonho realizado, pode tê-lo destruído a qualquer momento. Hoje é hoje, o amanhã ninguém sabe. Não quis tirar aquele momento como garantia, quis apenas aproveitá-lo como se fosse o único da minha vida. Ele passava o braço pelas minhas costas e o apoiava no meu ombro esquerdo, me levando de lugar a lugar, me apresentando a todo mundo, até mesmo para aqueles que já me conheciam há tempos. 

– Você está maravilhosa hoje.

– Obrigada – agradeci muito tímida e ele passou mais uma vez os braços pela minha cintura, mas dessa vez me abraçou, e foi um abraço muito forte. Minha cabeça encaixava em seu peito por causa de sua altura. Em um momento, soltou-se do abraço me afastei de seu peito, e nossos lábios se encontraram mais uma vez, de uma forma que eu não seria capaz de enjoar nunca. 

– Eu não sei como nunca te notei antes. Acho que te notei a partir do momento em que você me viu de uma forma que nunca me viram antes.

– Existem milhares de garotas te notando a cada momento, Victor. Não seja bobo.

– Mas não da forma que você me viu. Elas me veem como corpo, como charme. Você me vê como um todo; vê principalmente o que eu tenho por dentro, o que jamais se deram o trabalho de notar antes. E eu me atraio cada vez mais a você por isso.

O vento soprou ainda mais forte naquela noite que estava mais escura do que qualquer outra noite. As estrelas brilhavam fortes e a Lua estava enorme, muito linda. Ficamos nós dois lá, olhando para a Lua juntos, com as mãos entrelaçadas. Eu me sentia diferente naquela noite, me sentia bonita de verdade, bonita como nunca antes. E eu sentia algo crescendo dentro de mim como eu nunca senti em meus plenos dezesseis anos de vida. Eu senti como se dentro de mim estivesse crescendo ainda mais a minha paixão por Victor Breviglieri, se é que isso é possível. Não por termos nos beijados de forma tão única, mas simplesmente por estarmos ali, juntos, um entendendo o outro, um sentindo o outro. E eu juro por Deus, eu faria de tudo para que esse sentimento não saísse de mim nunca, nunca mais.

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