Capítulo 11

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Passado o choque, Josh resolveu se abrir sobre o que havia acontecido com ele. Estava triste, mas tentava não demonstrar para que eu não ficasse ainda mais abalada.

– Eu não vim até aqui apenas por causa do seu pai, por ele também, mas também porque vim pegar o resultado dos meus exames.

– O que você tem? – pus a mão em sua perna e ele pôs sua mão sobre a minha. 

– Eu tenho leucemia.

Eu não consegui responder. Uma expressão amedrontadora tomou conta do meu rosto e fiquei a olhá-lo. Ele correspondeu o olhar e ficamos conversando sobre o que ele faria:

– Vou começar as sessões de quimio semana que vem. Meus pais estão me ajudando muito e até agora não tive maiores complicações, graças a Deus.

– Graças a Deus.

Ficamos conversando durante horas, até que ele foi embora acompanhado dos pais e eu voltei para o quarto do meu pai. Observando-o sentada na poltroninha branca, acabei dormindo. Dormi pesado, estava cansada e precisando de um bom descanso. Acordei com a minha mãe me cutucando.

– Hmm – gemi por causa do sono.

– Filha, já está cedo e o outro ônibus sai em poucas horas – passou a mão sobre os meus cabelos e eu me esforcei para abrir os olhos.

A claridade me incomodava, sempre odiei ser acordada por luz, preferia mil vezes ser acordada com barulhos a acordar com uma luz acesa. Levantei vagarosamente da poltrona, toda dolorida por causa da posição, peguei minha bolsa e fui até o meu pai, que ainda estava repousando. Dei um beijo em sua bochecha e me despedi da minha mãe. Peguei a minha bolsa, juntamente com o meu celular e andei até a porta do quarto.

– Vai com Deus, minha filha. Não se preocupa com o seu pai.

– Amém. Se Deus quiser ele vai melhorar – eu disse, me virando e então fui embora.

No caminho para a porta do colégio, chovia muito e as árvores balançavam sem parar por causa do vento forte. Os monitores colocavam as bolsas dentro do ônibus e corri para entregar a minha, improvisada, e então entrei no ônibus.

O local onde seria o Campeonato não era longe, ficava a poucos quilômetros da nossa cidade e isso me tranquilizava ao pensar no caso de acontecer alguma emergência por aqui. Fui a viagem inteira ao som de uma playlist que acabara de fazer e na estrada, felizmente, parou de chover. Olhando pela janela, me lembrei da forma como estava com Elisa. Quando iria pegar o meu celular para ligá-la, olho para a frente e a vejo entrando no ônibus.

– Elisa! – gritei-a.

A minha surpresa é que a minha melhor amiga estava, sem mais nem menos, me evitando. Fingiu não ter me ouvido e se sentou ao lado da Júlia. Fiquei boquiaberta com a sua atitude e encostei minha cabeça na janela.

– A minha garota é linda – uma voz surgiu do banco de trás. – Tem alguém sentado aqui? – para o meu espanto, era Victor, que em poucos segundos se sentou ao meu lado.

– Mas... mas... – gaguejei e pus a mão em minha testa, sem entender nada. – Você não tinha ido ontem?

– Você achou mesmo que eu ia te deixar sozinha aqui na cidade? Fiquei em casa por precaução.

– Victor!

– Clarissa – ele pegou o lado esquerdo do meu fone e colocou em seu ouvido direito. – Lifehouse, tá brincando? – Victor exclamou. – É uma das minhas bandas favoritas!

Nós rimos juntos. Eu achava engraçado o quanto a nossa risada era sincronizada e sempre no mesmo tom. O vento da janela contrária batia perfeitamente em seu cabelo, que, como sempre, era uma bagunça organizada.

– "You And Me" me lembra você – ele disse e sorriu, tímido. – Ah, eu preciso comentar com você que vi a situação com Elisa. O que houve?

– Eu gostaria de dizer que sei, mas ela ficou assim do nada.

– Não se preocupe, tá? Eu tenho certeza que vocês vão acertar as coisas, afinal, são amigas há tanto tempo.

– Pois é, mas não vamos falar disso. Vamos falar do jogo de hoje. Animado?

– Ansioso.

– Não fique – passei a mão sobre a sua barba e meu polegar acariciava seu rosto. Apoiado sobre o braço direito, relaxou-o e virou-se de frente, entrelaçando sua mão com a minha.

– Você tem sempre a minha mão, lembre-se disso – eu sorri e minhas bochechas coraram. – Você me lembra muito a Isabela – ele completou. – Principalmente quando fica envergonhada assim.

Eu sorri, mas no fundo fiquei chateada. Não que eu não ache bonitinho ele ter me comparado com alguém que ele amou muito nessa vida, mas por um momento passou pela minha cabeça que ele só me ame porque talvez eu seja um reflexo da garota que ele mais amou. E que quem eu sou, na verdade, não o interessava, interessava apenas o que eu tinha em comum com a Isabela.

– Ela era bonita? – arrisquei perguntar.

– Ela era linda. Tinha os cabelos castanhíssimos, bem escuros que nem os seus. Mas quando o Sol batia, apareciam uns fiozinhos assim, meio ruivos, que destacavam os olhos negros dela. Era teimosa, também. Batia o pé quando as coisas que ela sonhava não aconteciam. E era sonhadora, ah, como era... sonhava tanto que muitas vezes ficava com a cabeça no mundo da Lua. Tinha que chamar uma, duas, três vezes: "Isabela... Isabela... Isa...", aí sim ela saía da distração e passava a nos ouvir. Os seus braços eram tão fininhos que a pulseira que eu dei para ela no nosso primeiro aniversário de namoro ficava larga. Eu perdi a conta de quantas vezes ela perdeu a maldita pulseira simplesmente porque ela atravessava o seu pulso.

Eu o ouvia atentamente, tentava procurar os detalhes que combinavam com quem eu era e, eu juro, era tudo igual. Por um instante, parei de olhá-lo e fitei a paisagem através da janela. Ele continuava a falar, mas nesse ponto eu já estava chateada por ele me comparar daquela maneira. Passei o resto da viagem sem falar uma palavra sequer e milhões de imagens passavam pela minha mente. As dúvidas tomavam conta de mim.

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