Capítulo 9

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Ir à aula no dia seguinte foi um desafio. Eu não tinha vontade de fazer mais nada, pensar em ficar na frente de todo mundo depois do que eles viram me parecia impossível. O pior de tudo é que eu com certeza esbarraria com Victor em algum dos corredores da escola mais uma vez, e eu não sabia como olharia em sua cara depois de ter visto sua reação.

Ao chegar no colégio, fiquei alguns minutos parada na portaria da escola, enrolando para que desse tempo de todos entrarem nas salas, mas não tão tarde a ponto de perder o primeiro horário e ter que entrar sozinha na frente da turma inteira.

O sinal bateu e vi todos entrarem. Alguém me tomou a mão me levando para dentro da escola e, quando fui ver, era Matheus.

– Chega de ficar se escondendo, Clarissa. Você já admitiu seu erro para o Victor e era o único para o qual você devia explicação.

– Eu sei, mas... é difícil.

– Olha, eu não vou ficar em cima de você o tempo todo. Se você quiser, podemos tentar ser amigos. Mas não adianta você ficar me culpando o tempo todo – ele disse enquanto caminhávamos para o pátio da escola.

– Me desc... – comecei a me desculpar, mas interrompi a minha fala quando vi Victor atravessar o corredor.

Ignorei totalmente Matheus e apressei o meu passo para alcançar Victor. Era estúpida a forma como eu estava correndo atrás dele, mas, naquele ponto, eu não havia mais nada a perder.

– Victor! – gritei-o.

Aquele rosto magnífico virou-se em minha direção e me mirou. Sua turma de amigos surgiu poucos segundos depois, um pouco atrás, me observaram e começaram a me olhar, enojados.

– Vamos, Victor – um dos amigos o gritou, mas ele estava tão distraído que não escutou. – Vamos! – repetiu e dessa vez Victor piscou os olhos rapidamente depois de fixar o olhar por tanto tempo em mim.

– Eu preciso falar com você – disse, me aproximando.

– Pode ir, galera. Eu falo com vocês depois – Victor os dispensou, e então andou vagarosamente até mim.

Com a sua boca semiaberta que destaca suas covinhas, ficou a me olhar sem dizer uma palavra sequer. Em uma fração de segundos, parecia que eu tinha esquecido tudo o que queria dizer. Ele sorriu e desviou o olhar, me fazendo rir também. Não entendi o motivo pelo qual ele riu, mas seu sorriso é daqueles contagiantes, que você pode fazer o que quiser, pode estar morrendo de raiva, você sempre vai sorrir junto.

– Eu entendo você – comecei. – E quero que você saiba que eu vou respeitar o seu tempo, acho que com o tempo somos capazes de cicatrizar todos os machucados que foram causados, principalmente porque já houve amor entre nós dois.

– Não tem essa de "já houve" – Victor disse, me deixando boquiaberta.

– Não entendi – confessei.

– Eu ainda te amo, Clarissa. Estou machucado, mas ainda te amo. 

Tive um acesso de amor e não resisti. O abracei com tanta força que devo ter o deixado com os braços machucados. Aquele momento me deixou esperançosa.

Eu o beijei. Irresistivelmente o beijei, e aquela sensação serviu de explicação para tudo o que eu sentia por dentro: ficar sem o seu beijo me matava por dentro.

Era uma abstinência absurda. O calor de seu corpo nessa época de frio me era essencial e me machucava saber que não o sentiria por um bom tempo. 

– É melhor não – ele interrompeu o beijo, com um sorriso leve em seu rosto e com os olhos fechados. Vê-lo abrir os olhos e sua pupila dilatar me lembrou de um fato que diz que quando olhamos para a pessoa que amamos, nossa pupila dilata. Não pude evitar: abri um largo sorriso e ignorei totalmente sua recusa.

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