Tears of joy

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Mike olhava apreensivo para Eleven como se a cada momento ela pudesse acordar, sair e sumir. Era irracional, mas ele segurava de forma firme a mão da garota até que ela despertou.

- Oi. – ele sussurrou. – Nós chegamos.

Desceram do carro, o xerife atrás, e seguiram para a frente da casa dos Wheeler. Mike abriu a porta e quase caiu para trás quando Dustin e Lucas pularam em cima dele e de Eleven, com perguntas e muita algazarra.

- Você tá bem?

- Como você não morreu?

- Você é a melhor, El!

-Caras, calma! – ele riu. – Vão assustá-la.

Will chegou com as mãos nos bolsos, sorrindo tímido:

- Prazer, Eleven, e... obrigado por tudo. Ah, eu sou o Will.

Ela sorriu um pouco:

- Amigos.

[...]

-Você quer mais Eggos? Você precisa provar esta torta de maçã! Mais leite com chocolate?

Os garotos paparicavam El ao redor de uma farta mesa que Karen e Joyce haviam preparado juntas quando souberam que a menina misteriosa e poderosa estava viva e de volta, mas, naquele momento, as mulheres mais o xerife debatiam onde El ficaria:

- Eu acho que, pelo menos por enquanto, ela pode ficar aqui, pois Mike passou um ano com aquele forte feito de lençóis armado na esperança de ela voltar...mas não sei se o Ted vai querer... vocês entendem... aqueles agentes federais reviraram a nossa casa...- Mrs. Wheeler argumentou.

- Entendemos, Karen. – Joyce sorriu. – Eu gosto muito dela. Eu apenas sinto uma conexão tão forte com ela, sabe? Eu adoraria criá-la.

Nesse momento, a figura de uma mulher catatônica que teve sua filha roubada pelo governo transpassou o cérebro de Joyce e ela sabia que criar El, ou Jane Ives, era uma espécie de dever, de tentar reparar um pouco o sofrimento de uma mulher que teve sua vida desgraçada e de uma criança que cresceu sendo maltratada e explorada.

Parece que foi isso o que passou pela cabeça de Hooper também, porque ele ergueu uma sobrancelha para Joyce e sorriu um pouco de lado.

[...]

Depois que todos foram embora, finalmente, finalmente, ele pôde estar a sós com ela no porão. Sentados na cabana que ele tinha montado, ele simplesmente sentia que poderia passar o dia inteiro olhando para ela.

- Mike? – ela sorriu. – Obrigada.

-Pelo o quê? – ele desviou o olhar, sem jeito.

- Tudo.

- Eu só... eu só sabia que você voltaria. Só isso.

Ele não esperava por isso, mas Eleven inclinou-se para frente e o abraçou, encostando o nariz em seu pescoço e chorando.

- O que, foi, El? – ele sussurrou carinhoso, esfregando ainda um pouco sem jeito as costas da garota.

- Eu não sei. – ela disse.

- Nada de mal vai voltar a acontecer com você, entendeu? – ele olhou no fundo dos olhos dela, de um jeito que a enchia de calor e certeza.

- Nós podemos... podemos chorar... sem tristeza?

Ele piscou, um pouco confuso, até que entendeu:

- Você quer dizer... chorar de alegria?

Ela levantou os ombros, sem saber. Eleven ainda estava tão magra e frágil, os olhos assustados, o reflexo aguçado de quem não podia ouvir um barulho que já estava pronta para fugir. Mas ela olhava para Mike como se aquilo tudo tivesse valido a pena, pois ele estava ali.

- A gente também chora quando fica alegre, El. – ele segurou a mão dela com delicadeza. A garota sentiu um arrepio bom subir pelo braço, que irradiou pelo seu corpo todo.

- Isso é bom. – ela murmurou.

- Você gosta? – ele falou um pouco mais baixo, o coração descompassando.

- Meu coração. – ela disse. – Bate forte.

- O meu também, El. E eu tô tão feliz que poderia chorar. – confessou, vermelho. – Sabe, El... você é muito importante pra mim.

Ela levantou a outra mão, que estava livre, e passou levemente os dedos finos pelos traços dele, como se quisesse fixá-los na memória, na ponta dos dedos, no fundo do coração.

- Aquilo... com a boca... –ela baixou os olhos, sentindo-se de repente com as bochechas ardendo. – Naquele dia...

- O... o beijo? – ele gaguejou, sentindo-se sobrecarregado de alegria, de amor, de adoração por aquela garota.

- Beijo? – ela repetiu a palavra, saboreando, tentando lembrar de como foi estranho e bom quando Mike colou a boca dele na dela, antes de ela enfrentar o monstro e sumir.

- Beijo. Isso se chama beijo. – e, sem raciocinar muito, insuflando o peito de coragem, Mike segurou delicadamente o queixo de Eleven e pousou docemente os lábios nos dela.

Eleven suspirou, sentindo uma lágrima rolar dos seus olhos ( agora ela sabia, lágrimas poderiam ser também de alegria), e, quando ele se afastou para tomar um pouco de fôlego, ela colocou a cabeça em seu ombro e fechou os olhos, sonhadora.

- El? – ele sussurrou, saindo de um estupor maravilhoso. – Você gostou de me beijar?

Ela sorriu e seus olhos brilharam:

- Sim... é como... como eu sonhava.

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