25° capítulo - A confissão

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     "Bem, quando eu disse aos pais que estava grávida, como já te disse, o pai bateu-me e mandou-me fazer as malas e sair de casa. Enquanto isso ele  saiu para ir dar uma volta e espairecer e, acredita, se ele não o tivesse feito acho que ia acabar por me matar à porrada."- digo rindo sem humor - "Quando ele saiu, eu e a mãe ficámos sozinhas em casa e tivemos uma conversa "- digo e respiro fundo - "Ela disse-me que quando soube que estava grávida de mim nao contou logo ao pai pois queria abortar. Porém, os planos correram-lhe mal porque o pai descobriu que ela estava gravida antes de ela conseguir abortar. Ele falou com ela sobre isso e ela estava com a ideia fixa de abortar mas o pai ameaçou separar-se dela e pedir a tua guarda caso ela avançasse com o aborto. Como ela amava o pai e a ti, ela nao quis perder-vos e desistiu dessa ideia. Ela admitiu-me nesse dia qe nunca gostou de mim e só não interrompeu a gravidez porque o pai descobriu e ela seria incapaz de viver longe de vocês. Quando a ouvi dizer isso eu finalmente percebi o porquê de ela sempre me ter tratado tão mal." - digo e faço uma pausa. Tenho as calças cheias de pequenas manchas que as lagrimas vao fazendo ao cair. O Lou limpa-me a cara e dá-me um beijo na testa.
     "Calma pequena, não chores"
     "Sabes, apesar de eu sempre saber que ela te preferia a ti e que não gostava de mim, custou ouvir aquelas palavras  saídas da boca dela, porque apesar de tudo ela é minha mãe e é suposto os pais amarem todos os seus filhos por igual. Mas quando ela acabou de dizer tudo aquilo eu percebi que ela nunca me viu como uma filha, mas sim como uma obrigação para poder ter-vos ao lado dela." - digo sem conseguir parar as lagrimas que teimam em cair.
     "Ela tratava-te mal.... como é que isso é possível? Eu nunca me apercebi de nada" - ele diz acariciando as minhas bochechas
     "Claro que não, ela não é parva. À vossa frente apenas me ignorava e nunca ralhava, mas quando tu ias com o pai para o trabalho nas férias e fins de semana, era o meu inferno. Era o dia todo a ralhar comigo. Muitas vezes trancava-me no quarto o dia inteiro e so me abria a porta quando vocês estavam quase a chegar a casa. Lembro-me perfeitamente que às vezes eu ia pedir-lhe comida porque estava com fome e ela gritava comigo e mandava-me ficar no quarto sem me dar nada para comer"
     "Não acredito!Ela é um monstro!" - ele diz irritado - " Como é que ela foi capaz?!?!? E porque nunca nos disseste nada?" - ele pergunta olhando-me nos olhos
     "Ela ameaçava-me Lou. Eu simplesmente não podia fazer nada"
     "Mas então e depois dessa discussao foste para onde?"
     "Falei com a Sara e ela levou-me para casa dela"
     "E os pais sabiam que estavas lá?"
     "Inicialmente nao,  ate porque eu lhe pedi para nao dizer a ninguém, mas depois o pai descobriu. Mas ele nao contou nada à mãe e ainda hoje lhe sou agradecida por isso. Sabes, antes do pai morrer, quando ele ja estava muito mal de saúde, ele foi la a casa da Sara para falar comigo. Ele pediu-me desculpas pela maneira como me tratou e por me ter posto fora de casa. Disse que me amava muito, que estava arrependido e que nunca se perdoaria a ele próprio por me ter abandonado no momento que eu mais precisei dele." - digo relembrando essa conversa que tive com o meu pai
     "Princesa, desculpa por nunca me ter apercebido de nada. Desculpa, eu devia ter reparado, devia ter estado mais atento. Eu devia ter-te protegido."- ele diz deixando escorregar uma lagrima dos seus belos olhos
     "Boo, tu nao tens de pedir desculpa. Nao tiveste culpa em nada, tu nao tinhas como saber o que se estava a passar. Por favor, nao te culpes pelos erros da mãe." - digo abraçando-o
     "So mais uma coisa... depois da morte do pai, eu fui a Portugal para o funeral e para vos dar apoio e quando la cheguei a mãe disse-me que tu nao estavas porque tinhas ido para casa de uma amiga longe dali porque a morte do pai te estava a custar imenso e querias afastar-te um pouco. Segundo o que me contaste,nessa altura ja estavas em casa da Sara, certo?"
     "Tu estiveste em Portugal depois d morte do pai?? Eu nao soube de nada!! Mas respondendo à tua pergunta, sim, ja estava em casa dela."
     "Quando a mae me disse que estavas em casa de uma amiga eu tentei ligar-te, mas não deu"
     "Pois, eu desfiz-me do telemovel para evitar que me encontrassem. Mas eu não fazia ideia que tinhas estado em Portugal"
     "E eu nao fazia ideia do que se passou estes anos todos. Desculpa princesa"
     "Nao peças desculpa por algo que nao foste tu que fizeste" - digo e ele abraça-me.
  Após algum tempo abraçados conseguimos acalmar-nos e arrumamos a cozinha. Quando acabámos, dei um beijo ao Lou e fui para a cama. Estou exausta depois de tanto choro e memórias. Adormeço ainda a lembrar-me dos anos infernais que passei em Portugal.

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