Deixe-me ir [COMPLETO]

Nosso primeiro filho.

Domingo, 13 de setembro de 2015.

Eu menti pra você durante 1 ano e meio, amor, mas calma, não fique bravo comigo, deixa eu explicar.

Logo depois que nos casamos e arrumamos a nossa casa direitinho, você começou a me cobrar um filho. Eu sei que um dos seus maiores sonhos era ser pai e um dos meus era ser mãe, mas eu ainda não estava preparada amor. Só tinha 19 anos, ainda estava na faculdade, tinha acabado de conseguir um emprego que me pagava bem e nós havíamos acabado de nos casar... Engravidar naquele momento não me parecia certo. Querendo ou não, eu teria que parar a faculdade por um tempo, teria que sair do emprego porque sempre te falei que depois que tivesse um filho, queria ficar com ele em casa até completar dois anos pra só depois voltar a trabalhar. Eu estaria colocando meus planos de lado pra satisfazer um desejo seu, Charlie. 

Por isso, enquanto você achava que eu não engravidava porque não era a hora certa, eu não engravidava porque o anticoncepcional era bom e funcionava do jeito certo.

Me desculpa por isso.

Mas me parecia egoísmo demais seu me fazer parar a minha vida pra satisfazer seu desejo.

Eu demorei pra engravidar até, amor e eu lembro de como você ficava nervoso quando alguém perguntava pra gente sobre filhos e você tinha que responder que "ainda era cedo" contra sua vontade. Mas qual é, Charlie, já éramos considerados estranhos por termos nos casado aos 19 anos, imagina se tivéssemos um filho? Eu nunca fui de me importar com o que os outros pensavam sobre mim, você também não, mas eu não conseguia nem imaginar alguém falar do nosso filho como se nós não soubéssemos criá-lo e tivessem pena dele por isso. Eu não iria aguentar.

Cerca de dois anos depois, eu esqueci, por acidente, de levar minha cartela de anticoncepcionais na nossa viagem de aniversário de casamento. Nós fomos para o Caribe, uma ilha maravilhosa, onde fizemos amor em todos os lugares possíveis – até os proibidos. Novidade nenhuma dizer que engravidei lá, não é?! Pois bem, acontece que eu não tinha esquecido meu remédio, você os escondeu de mim para que pudéssemos fazer sexo, pelo menos uma vez, sem proteção alguma. Eu quis te matar, porque ainda não me sentia verdadeiramente preparada, mas conforme o tempo foi passando, fomos conhecendo o nosso bebê, senti-lo se mexer e ver seu rostinho através do ultrassom de última geração, até me esquecia dos porquês de eu não querer ter tido filho antes.

Não sei nem descrever sua felicidade quando descobrimos que era um menino. Acontece que não nos importávamos com o sexo do bebê, mas você ficou tão animado com a descoberta que eu sempre desconfiei de que você no fundo queria muito que fosse um menino.

Mas sabe, me desculpa por não poder te dar mais um bebê. Esse ano você começou com a ideia de termos mais um, mas eu já sabia da doença e seria um risco muito grande para o bebê e para mim se isso viesse acontecer, por isso eu tive que dizer que não queria. Era mentira, eu queria muito ter mais um filho com você amor. Imagina se viesse uma menina? Teríamos o casal de filhos mais lindo do mundo, certeza! Porém, nem tudo é como queremos.

Você lembra a guerra que foi pra escolher o nome do Adam? Ah, Charlie, você me deixou louca com a lista de nomes que separou, porque vamos ser sinceros, era um pior que o outro. Quando eu sugeri que fosse Adam, foi sua vez de ficar louco, porque eu sempre fui fã de Maroon5 e do Adam Levine, então sabia que eu queria Adam por causa dele. Você ficou com ciúmes de um cantor famoso, amor. Sério, como você conseguiu? Não era como se eu não fosse fã dele, aceitasse colocar o nome Charlie Júnior no meu filho. Eu te convenci a deixar como Adam com uma condição: eu não faria você assistir o parto.

Pois é, meu fraquinho. Lembro que quando as contrações começaram e a bolsa havia estourado de madrugada, eu tentei te acordar delicadamente, porque sabia que você ia ficar agitado, mas acontece que você sempre teve o sono pesado, então eu tive que dar um berro, amor. E você caiu da cama com o susto e me olhou alarmado do chão. Você ficou desesperado quando eu falei que havia chego a hora, você saiu correndo pra arrumar os últimos detalhes, colocar as bolsas no carro e tudo mais, porém você esqueceu de uma coisa. Talvez a mais importante. Você tinha esquecido de mim, amor. Sério, como você consegue? Você pegou todas as coisas direitinho, mas saiu com o carro e esqueceu de me colocar nele antes. Quando voltou com lágrimas nos olhos e implorando o perdão, eu estava sentada nos degraus da escada da frente, já arrumada.

No hospital, você foi até o balcão e avisou que eu estava pra ter o bebê e a recepcionista pediu pra preencher uma ficha. Grande erro dela. Você ficou nervoso, porquê afinal, quem é que tem cabeça pra preencher uma ficha numa hora dessas?!

Quando escutamos o primeiro choro do Adam, você chorava muito mais que eu. Fiquei tão feliz e tão emocionada amor, eu tinha os dois homens da minha vida do meu lado e um deles ainda tem a minha cara.

E esse é mais um motivo pra você me deixar ir, amor, eu estou indo, mas você nunca estará sozinho.