Epílogo

762 60 18
                                    

Domingo, 29 de novembro de 2019.

Já faz 4 anos que eu deixei você ir e você se foi, amor e hoje, a saudade está tão grande que chega a doer e eu me peguei pensando em escrever pra você. Sei que será um papel que não sentirá a maciez da sua mão e palavras que nunca encontrarão o tom certo, se não o seu.

Mas eu preciso te contar que eu e Adam já não moramos mais na casa amarela, mas calma, eu não a vendi, não precisa de escândalo. Eu só não conseguia mais ver você em cada canto dela e não tê-la por lá.

Você sabe que nunca acreditei em anjos, espíritos ou o que quer que seja "de outra dimensão", mas eu me pego acreditando que você está aqui, de algum modo. Eu sinto você, amor. Várias vezes.

Nossa casa está vazia de pessoas, mas lotada de lembranças.

Aluguei um apartamento pequeno para nós dois e vivemos bem por aqui. A casa amarela está da mesma forma que você deixou, amor, eu não fui capaz de mexer em nada. Sua mãe foi lá depois de um tempo e doou suas roupas mais novas e as que você mais gostava fiz questão de guardar. O resto já continua igual. Adam me pede pra levá-lo lá, às vezes, mas eu não consigo, não consigo nem ao menos passar perto. Quatro anos se passaram, mas ainda dói como se tivesse sido ontem.

Caso esteja curiosa, não me envolvi seriamente com mais nenhuma mulher. Quando a dor ficava forte demais, me afogava em algum bar e no corpo de alguma desconhecida, mas nem isso aliviava. Eu procurava mulheres parecidas com você, mas não eram você, nunca foram e eu sei que nunca existirá outra. Você é e sempre será única para mim, amor. Ah, pode ficar tranquila que eu, Adam, seus pais e meus pais mantemos a tradição de nos juntarmos em duas quartas-feira do mês pra jantarmos pizza. Sei o quanto você ficava feliz com isso e não seria capaz de acabar com algo que trazia tanta alegria pra gente.

Adam ainda me pergunta de você. Todos os dias ele me pede pra contar algo de ti, mesmo que seja algo que ele já sabe.

Noite passada contei sobre sua estranha mania de limpar a casa sozinha. Você sempre me expulsava, nem que eu tivesse que ficar no jardim, mas não podia ficar dentro da casa e lá você fazia uma festa particular com a vassoura. Sempre achei graça nisso, na forma que você cantava e dançava como se o mundo fosse acabar, ou quando escorregava depois de passar pano e ria sozinha do próprio tombo.

Eu ainda não consigo pensar em você sem sentir esse aperto no peito. Você se foi e levou meu coração junto, amor. Sei que me deixou ir, me deixou livre, mas eu não consigo ir sem você aqui. Sei que por não ter mais você aqui, posso morrer sozinho, mas não é algo ruim, eu vivi tudo o que tinha pra viver com você. Hoje me mantenho forte por Adam e pela promessa que fiz a você.

Meus pais tentaram me levar numa psicóloga, achando que eu estava com depressão, ou algo do tipo, mas eu não preciso de uma médica pra dizer que o que tenho é saudade. Muita saudade.

Me desculpa, amor, mas eu não consigo deixar você ir por completo. Eu sou o homem que sou hoje por você e pelo nosso filho. A propósito, a carta que você escreveu para o Adam está dentro de um baú que fiz pra ele com várias coisas suas. Várias coisas nossas. Achei um jeito legal de dar de presente pra ele, assim ele sempre terá você por perto também.

Acho que você ficaria feliz em saber que Adam cada dia que passa fica mais parecido com você. Os mesmos cabelos ruivos, os mesmos olhos azuis, a mesma sobrancelha que ergue uma só e o mesmo sorriso que quando aberto, faz os olhos fecharem. Sinto falta de ver esse seu sorriso. Sinto falta de ser o motivo pra você dar esse sorriso.

Eu sinto sua falta, Angeline e eu ainda amo você. Talvez até mais do que antes.

Com amor, Charlie.


FIM

Deixe-me ir  [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora