Nosso primeiro beijo.

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Domingo, 6 de setembro de 2015.

Do nosso primeiro beijo você deve lembrar. Ou não. Vou levar seu ronco como resposta: duas fungadas é sim e uma é não. Rufem os tambores...

Fungou uma vez só. Filho da mãe.

Caso você realmente não lembre, foi em uma festa. Era a primeira festa que eu ia de alguém da escola — que a propósito já me conheciam como "a garota do Charlie". Sempre achei ridículo e engraçado como você fazia questão de mostrar que eu estava com você, como se alguém fosse me roubar ou sei lá. Mas a verdade é que não tinha como. Eu sempre fui sua, amor. Desde o primeiro momento em que seus olhos cruzaram com os meus.

Aquela noite foi uma das melhores da minha vida, sabia? Foi naquela noite que você disse que gostava de mim e eu, claro, não acreditei. Nem um pouco. É até engraçado isso, sabe? Eu sabia desde o começo, mas não acreditei.

Eu lembro que estava com Emily perto da cozinha, onde tinha as bebidas e ela queria muito beber, sério, mas eu tentei controlá-la um pouco, porque não sei cuidar de pessoas bêbadas, você deve saber disso já. Você estava junto com seus amigos e aquela mesma menina, que estava no seu colo quando nos vimos pela primeira vez, bem ao seu lado se exibindo com um vestido decotado até o umbigo. Aquilo me deu uma raiva tão grande dela — não o vestido decotado, foda-se ele, e sim a aproximação exagerada contigo —, mas agora eu entendo, é impossível ficar perto de você e não se apaixonar, ela foi só mais uma vítima fatal do seu charme.

Mas vê-lo enrolando seu braço na cintura dela pra mesma se esfregar em você enquanto dançava, foi o meu ápice. E eu beijei o primeiro menino que apareceu na minha frente porque sabia que você me olhava. Por sorte, era o Louis, um cara legal da minha sala e ele era muito bonito também, mas foi impossível não olhar em sua direção depois que o beijei. Nunca antes na minha vida tinha visto tanto ódio no olhar de alguém. Eu achei que você estava com raiva de mim, mas você nunca conseguiu ficar bravo comigo, não é?! Até quando eu pedia, você não conseguia. Foi só depois que a Emily me puxou que descobri que Louis e você eram de "bandos inimigos" e o seu ódio foi por eu ter beijado justamente o cara que você mais odeia no mundo e mais ainda por esse mesmo cara ter acenado sorrindo pra você depois que me beijou. Não lembro direito o que aconteceu depois, só lembro de você socando a cara dele e eu saindo correndo de lá.

Mas você veio atrás de mim.

Segurou minha mão e me puxou pra ti, praticamente me levitando até a parede da casa amarela que hoje veio a se tornar a nossa casa. Você me prensou lá, com os braços ao lado do meu ombro e encostou nossas testas. Você estava suado e tinha um corte no supercílio direito, suas mãos estavam sangrando devido ao tanto que bateu em Louis. Ergui minha mão até seu rosto, acariciando o machucado, você fechou os olhos e abriu um pouco a boca, me deixando fascinada em como alguém consegue ser tão bonito mesmo todo fudido.

— Não faz mais isso comigo – você disse entre sussurros.

— Foi você que começou.

— Culpado. Mas fala ai, você queria muito que fosse eu no lugar dele não?

— Só porque tem todas as meninas aos seus pés, Charlie, não quer dizer que eu também vou estar.

— E o que adianta ter todas elas, se a que eu quero, beija o cara que eu não gosto na minha frente?

— Tomasse atitude, ué. Não é você o Charlie fodão que consegue tudo o que quer?

— Angeline... Não me provoque.

Mordi o lábio inferior prendendo o riso e seus olhos foram diretamente até eles, surgindo nos seus um sorriso malicioso tão lindo que porra, molhei a calcinha.

— Não prefere que eu me encarregue de morder seu lábio por ti? Prometo que sou bom nisso.

Você levou meu riso como um sinal positivo pra, finalmente, acabar com o espaço que tinha entre a gente. Não foi nada romântico, afinal você estava suado, com um pouco de sangue na boca e cheirando a maconha, mas eu sempre gostei da combinação do nosso beijo, ele nunca era igual o tempo todo, começava de um jeito e terminava exatamente o contrário, mas naquele dia, foi como se precisássemos do contato dos nossos lábios pra sobreviver. Caso de vida ou morte.

Depois do nosso primeiro beijo, você não conseguiu manter seus lábios longe dos meus. E eu confesso que também não queria distância alguma entre eles.

É até engraçado pensar nisso agora, porque de 100% do nosso tempo juntos, 97% era gasto só com o contato dos nossos lábios e os outros 3% nós conversávamos ou só passávamos o tempo juntos.

Vou sentir falta disso, amor... Do nosso tempo junto, da expectativa de ter muito mais a viver com você e de curtir cada simples momento com a nossa pequena joia preciosa, o Adam... É difícil né?! Uma vez me perguntaram se eu preferia saber quando iria morrer ou como ia acontecer, eu respondi que preferia não saber nenhum dos dois e viver com esperança de que viveria para sempre, mas veja só a ironia: eu sei quando e como vou morrer, porém não consigo me sentir mal por isso. Se minha missão na terra era amar incondicionalmente, posso dizer que foi um verdadeiro sucesso. Graças a você e nosso filho e, por isso, só tenho a agradecer a vocês.

Você pode me deixar ir, amor, eu conheci o amor aos 17 anos e o vivo até hoje. Não há mais nada que possa desejar.

Deixe-me ir  [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora