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- Acho que tenho novidades... - Disse Loren, quase que cantando liricamente, passando os dedos em meus ombros, saindo de trás de mim para olhar meu rosto.
Minha expressão de surpresa e curiosidade fez com que ela sorrisse, e então Loren saiu correndo pelo corredor, balançando seus cabelos ondulados, compridos e louros; mais à frente, misturou-se aos alunos espalhados por ali, entre os armários e salas de aula, por pouco quase a perco de vista.
- Loren, espera!
Apressei os passos pelo corredor do colégio, tentando alcançar minha amiga.
Sempre tentando alcançar Loren.
Em tudo.

Sou Amy.
Amy Morgan Blanc.
Loren e eu somos melhores amigas desde que nos entendemos por gente. Apesar dos pesares, nossas famílias são amigas; somos, basicamente, primas que, ao invés de se verem apenas em casamentos e velórios, possuem um laço eterno de amizade, mergulhado em amor fraternal.
Você deve estar pensando "que coisa doce; que lindo". De fato. Mas não nos resumimos a isso, apenas.
Acontece que amizades não são feitas única e exclusivamente de bons momentos, de palavras doces.
Loren e eu passamos por certas turbulências na amizade, principalmente durante e depois de um acontecimento extremamente inusitado que vivemos.

- Loren! - Chamei por ela rindo. Ao estender os braços, acariciei os cabelos longos de Loren. Ela tomou uma das minhas mãos e saiu me puxando até um corredor isolado que descobrimos no colégio.
- Lembra de quando falei para você sobre Henri? Henri Carter? - Ela sorria com os olhos ao introduzir a novidade.
- Claro! - Empolgada e gesticulando, queria que Loren contasse tudo! Mas o sinal estava prestes à bater.
Henri Carter é, simplesmente, um dos garotos mais bonitos e bem apessoados que conhecemos, crescemos juntos, de vista; ele entrou no colégio depois de nós.
- Estávamos conversando e...
- Fato, Loren! Detalhes depois!, o sinal já vai tocar. - disse ao interrompê-la.
- Ele me chamou para sair!
- AAH! - Gritando e pulando, nos abraçamos. Éramos as admiradoras mais secretas de Henri Carter desde sempre, e agora ele e Loren sairiam juntos! Pode imaginar o tamanho da nossa felicidade?
O sinal toca.
Os corredores começaram a ferver com alunos indo para lá e para cá.
Em nosso colégio, quem muda de sala toda vez que o sinal toca é o aluno, as salas são divididas por matéria.
- Mais tarde conversamos, tenho aula de redação agora.
- Vou para a sala de filosofia... Espero que a professora Olga não me enxergue dessa vez. Não quero pensar em filosofia por agora, Amy. Quero rir atoa por causa de Henri!... - Loren ria da bobagem dita. Era uma forma de zombar meu romantismo, e ao entender a ironia também ri.
- Vá, menina! Vá ter aula sobre amor eros! - Respondi quase que de costas, caminhando para a sala 14, sala de redação.

Nunca fiz questão de alimentar sentimentos por Henri que passassem de "aprecie com moderação", mas Loren depois de certo tempo passou a cultivar um algo a mais.
Minha amiga começou a enxergar detalhes no rapaz além dos belos olhos, da boa estrutura física, dos cabelos louros, quase castanhos e sempre muito bem penteados, do sorriso cativante.
A mãe de Henri, dona Lisetta, namorava a ideia de ter Loren por nora um dia, achava muito boa a menina. Boa o suficiente.
Dona Lisetta é uma bela senhora, rica, com um padrão de vida pouco melhor que o da família de Loren e achava que, mesmo com mils a menos, seria boa a união dos dois.
Ela é um dos tipos de pessoa que me faz pensar.
Ainda temos 16, 17 anos. Qual a necessidade de, com o filho nessa faixa etária, já pensar em uni-lo a alguém?
Status?
Eu compreenderia.
Dona Lisetta zela por seu status, por sua boa postura e reputação. "É pelo bem da família". "Os Carter são... Os Carter". E essa definição bastava não apenas para ela, mas para todos os que, por conta do poder aquisitivo da família de longa linhagem, imponente, e raça quase "pura", sustentavam os Carter em uma das posições mais altas de um tipo de pódio social.
Com toda certeza Henri não pensava em casamento. Loren e eu sabemos bastante sobre essa área da vida de Henri, e por mais belo que seja, é o mais sossegado do seu grupo de amigos no que diz respeito ao mulherio.
Parte de mim pensava que ele devia ser um babaca nesse assunto. Mas por ser ele "tuuudo" aquilo, desviava o pensamento dessa ideia sobre ele, porque passaria a enxerga-lo como um desperdício de beleza, ainda mais agora que Loren começou a se envolver com ele.
Henri não pode ser um babaca. Que adianta um corpo bonito se a cabeça não faz jus ao resto?

No fim do dia, Loren e eu voltamos para casa juntas, como de costume.E ela contou todos os detalhes. Disse tudo. Mesmo que a conversa entre eles tenha sido breve, a descrição de Loren fez com que o assunto rendesse durante o caminho todo.
- Vamos para o Museu de Fotografias Contemporâneas, perto do parque. Estou nervosa - Dizia Loren, ao rir de si mesma. Ela é apaixonada por fotografias.
- Quer que eu vá te buscar no meio do caminho, quando estiver voltando para casa? - Sugeri. - Assim você me conta tudo, com todos os detalhes, e desconta a euforia contida durante o encontro em mim.
- Eu adoraria! Obrigada, Amy! - Agradeceu, dando-me um abraço apertado.

Amiga, Se Eu Fosse Você...Onde histórias criam vida. Descubra agora