II

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Durante a semana, Loren e Henri acertavam os detalhes do encontro, coisas como horário de ida e de volta, se encontrariam-se na entrada do parque ou na entrada do Museu, detalhes do gênero.
Acompanhei de perto e vivi com ela a euforia de seu primeiro encontro com Henri Carter.
Loren me contava todos os detalhes, e até mostrava as mensagens trocadas quando sentia que não estava sendo detalhista o suficiente.
Estávamos entusiasmadas.
O sábado se aproximava.

- Amy...
Encostada na parede, com névoa triste perambulando o rosto, Loren me chama. Achei aquilo estranho.
Era dia seguinte, quinta-feira. Estávamos saindo da biblioteca do colégio onde nos escondemos para falar sobre qual roupa Loren deveria usar e, de repente, Loren para, apoia-se na parede e me chama, com a cabeça baixa.
- O que houve, Loren? - Digo ao erguer seu rosto, com os dedos em seu queixo. - Você parece triste.
- Posso dormir na sua casa? - Indagou mais animada, tentando disfarçar a névoa anterior.
- Como? - Espantei-me com a pergunta, permaneci calada por alguns segundos.
- Eu sei, eu sei, mas não me custa tentar. Amy, não me importo e você sabe.
- Por que quer ir para lá, Senhoria Manske? Não que eu me importe, sabe que adoraria, mas sua mãe não vai querer deixar. Não é melhor que eu vá para a sua casa?
- Quero estar fora.
- Mas Loren, sua casa é...
- Não só da minha casa, da minha realidade. - O olhar de Loren tornou-se fixo, sério, centrado.
- Hoje?
- Sim, por que não? Mora na casa dos fundos, Amy, não sei porquê é tão complicado.
- Sua mãe receberá visitas hoje, quando chegarmos em casa ainda estarão lá, tia Mia não vai deixar. - Falei induzindo passos avantes à saída da biblioteca.
Irrefutavelmente surpresa, calei-me por alguns segundos novamente, pensando, tentando entender a fala e a expressão de Loren.
Ela costuma andar sorrindo, mas dessa vez estava tão séria... Algo errado também estava. Achei melhor não perguntar ali. Pessoas em volta, tempo curto, nada colaborava para o desenvolvimento da conversa naquela hora.
- Então vamos fazer assim: eu falo com a minha mãe primeiro, para ela não se espantar com a sua visita em nossa casa, e você com a sua. Caso a tia não deixe, insistimos juntas. Tudo bem para você se for assim?
Sinal.
- Ótimo! Combinado, Amy. Eu te ligo hoje a noite dar a primeira resposta de minha mãe.
- Ligar? Ora, moro na casa dos fundos! - Loren entortou o nariz, espremeu os olhos, sinalizando a referência que fiz às suas palavras e me chamando de idiota em pensamento - isso é só para usar o telefone novo? - Continuei.
- Sim! - Respondeu a loura sorrindo.
- Vá, o sinal já tocou. Ligue quando as visitas da tia saírem de sua casa.
Ao invés de ir à diante e sair da biblioteca, apenas disse a Loren que fosse para a aula; encontrei por ali um dos clássicos da literatura brasileira, Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis - não aguentei e aluguei. Loren foi para a sala de matemática, desci pouco depois dela.

Somos, Loren e eu, melhores amigas. Fato.
Porém, partilhamos de realidades um pouco diferentes.
Os Manske são uma família requintada, alemã. Esse sobrenome pertence à família da mãe de Loren, à tia Mia. Já seu pai, Dimitri Ivanov, um russo invocado, homem de negócios, pertence à uma família mais séria, mas sempre tratou suas mulheres muito carinho (mãe, esposa, filha, sua ama, e eu).
Deve ter achado estranho que a ama do tio Dimitri e eu estejamos na lista.
Pois é, a ama, Olivia, é ninguém mais ninguém menos do que a minha mãe. Loren e eu crescemos juntas: ela como filha da patroa, e eu como filha da empregada.

Amiga, Se Eu Fosse Você...Onde histórias criam vida. Descubra agora