Durante os três dias que se seguiram, Loren e eu passamos todo o tempo livre no telhado da mansão. Ela viajaria com tio Dimitri e tia Mia para Londres por uma semana, e adiantamos juntas os trabalhos e tarefas que ela devia entregar para não sofrer com a ausência ao colégio.
- Nem acredito que acabamos. Amy, ainda é manhã de sexta-feira, nem sob decreto teria conseguido sem você. - Suspirou Loren aliviada, jogando-se para trás.
- Eu sei, eu sei: ame-me. - Falei sem um pingo de modéstia.
- Quer alguma coisa de Londres?
- O de sempre: encontre alguma coisa que te faça pensar "Amy adoraria" e traga. Você sempre acerta.
- Tia Olivia colocou chocolate na minha mala. - Disse rindo, brincando com a ponta dos cabelos.
- Porque ela sabe que você não quer ir, Loren. Você odeia jantares formais.
- Ah, como odeio. Principalmente agora que minha mãe tem estado parecida com minha avó. Mas o que não faço pelo meu pai, não é?
- Wow, Miss Manske! Tia Mia têm agido estranho, mas não é para tanto.
Loren riu alto, repensou o que disse ajuntando seus materiais:
- Você tem razão, compará-la à vovó foi demais. A velha me tira do sério quando te trata mal, e é mexer com dona Olivia que meu pai fica vermelho, instantaneamente.
- Ela está em Londres, na casa do seu tio. Não está?
- Sim. - Bufou. - Minha mãe avisou que veremos os dois enquanto estivermos lá. Mas não quero pensar nisso agora, quando encontrá-los vou sorrir, acenar e pronto. - Disse estendendo a mão para me ajudar a levantar. - Quero pensar em ver Henri depois da aula hoje, mais nada.
A loura contentou-se em não vê-lo enquanto fazíamos seus trabalhos, mas como terminamos tudo a tempo, o casal combinou um passeio na sexta-feira à noite, já que ela partiria no sábado pela manhã.
Eu sei, moramos e estudamos juntas, e ela apenas esbarrou com o namorado pelos corredores de Aurore antes da viagem, mas sempre fora comigo que ela saía antes de viajar.
- Amy! - Ouvimos uma voz longe chamando por mim.
- Sim? - Respondi torcendo o rosto por não saber ao certo quem estava chamando.
- Querida, chegou uma carta de Rose para você, diretamente de Roma. - Tia Mia apareceu no telhado com um lindo vestido branco e esvoaçante, cabelos soltos, descalça, terminando de encaixar o brinco perolado que ganhou no aniversário de casamento passado.
- Rose! Loren, carta de Rose! - Disse virando-me para ela, pulando tão animada quanto uma criança que ganha de natal o presente que pediu para o Papai Noel. - Vamos, vamos logo!, eu preciso ler o que ela escreveu! - Passei pelas duas como um furacão, em um segundo já estava descendo as escadas. Nem sei se tia Mia tinha mais alguma coisa para dizer, se Loren precisava de ajuda com os materiais: tudo o que me importava naquele momento era a carta de Rose.
- AH! Amy!
- Tio Dimitri!
E papel voou por todo lado. Estava correndo, não prestei atenção, trombei com tio Dimitri depois do corredor, caímos os dois no chão. Ele trazia documentos nas mãos, aquela parte da sala ficou forrada de folhas. Ajudei-o a recolher tudo, e ele, vermelho, questionou minha pressa.
- Amy, por que diabos está correndo assim?
- Desculpe, tio, mil perdões. É que tia Mia acabou de avisar que chegou para mim uma carta de Rose e...
- E isso é motivo para sair descontrolada por aí? - Interrompeu-me.
Parei. E sentada no chão, imóvel como uma estátua, fitei aquele homem enorme de pé diante de mim. Ele tomou das minhas mãos os papéis que recolhi e encarou-me furioso.
- Mas que mer... Eu tinha acabado de organizar isso aqui! Saia da minha frente, vá ler a maldita carta enquanto eu arrumo a sua bagunça!
- Pai! - Loren interveio, batendo o que carregava nas mãos contra uma pequena mesa espelhada.
Ele saiu sem dar a menor atenção aos olhos indignados dela, ou aos meus olhos encharcados.
- Amy. - Começou enquanto levantei-me a caminhei apressada.
- É só a negociação de Londres, ele deve estar irritado.
Não parei de caminhar.
- Amy! - Ouvi Loren chamar, mas bati a porta mesmo assim.
O que foi aquilo, afinal?
O que deu nele?
Sempre trombei nele assim, nós dávamos risada disso, tio Dimitri nunca reagiu desse jeito, nunca!
"Maldita carta"?
É de Rose.
Rose!
Apesar do choque, assim que entrei em casa tratei de ler o que a mim foi escrito.
Nem mesmo a grosseria de tio Dimitri poderia fazer com que perdesse a vontade de ler as palavras de minha amiga italiana.
"Querida Amy,
Sinto tanta saudade de você e de dona Olivia que chega a doer.
Estou crescendo na vida, minha amiga! Comprei aquela casa na colina, aquela que descrevi para você antes. Meus pais me ajudaram, mas está entrando um bom dinheiro e devolverei em breve o empréstimo que me fizeram. Ainda não saí do apartamento, pois estou trabalhando na reforma e mobília da casa, o que ainda levará um bom tempo.
Tenho dois pedidos para lhe fazer, minha amiga.
Um primo muito amado está partindo para a França com os pais. Ele estudará em Aurore e morará próximo a você. Seu nome é Jean-Lucca, recepcione o rapaz. Ele já fala sua língua, não será difícil fazê-lo. Mio principe azzurro... Ele é como um irmão para mim, cuide bem dele.
Jean-Lucca voltará para cá por alguns dias, e gostaria muito que viesse com ele para a Itália. Amy, será uma curta viagem, não precisa se preocupar com hospedagem, comida: eu providenciarei tudo. Apenas venha ver-me por alguns dias. Estendo o convite à sua mãe, sem dúvidas.
Talvez seja muito o que estou pedindo, mas quero tanto estar com você, minha amiga. Ter por perto Mio principe azzurro, você e dona Olivia ao mesmo tempo, creio eu que será o mais próximo de uma família completa que posso chegar desde que... Bem, você sabe.
Com todo meu amor,
Rose."
Se vou para a Itália com um garoto que acabei de conhecer? Pode apostar que vou.
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Amiga, Se Eu Fosse Você...
Teen FictionComo seria trocar de vida com a sua melhor amiga? Em "Amiga, Se Eu Fosse Você..." isso acontece! Amy e Loren trocam de lugar, e passam a entender muito mais sobre a vida uma da outra.