Hal: Parte I

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28 de Novembro, 2069. 

Acendeu um cigarro antes de entrar na sala de seu chefe. Hal tinha sido chamado para conversar com seu superior mais próximo, Capitão Wilford. Homem gordo, careca, sempre de terno e sentado em sua cadeira atrás de um computador enviando ordens, mas era gente boa em alguns momentos.

- Bom dia, Hal! Espero que tenha tido uma boa noite de sono. – Wilford sorriu para Hal com seus dentes brancos perfeitos.

- Pode apostar que eu tive. E você, Will? Anda dormindo bem a noite? – Soltou a fumaça do cigarro para cima.

- Claro que sim, mas não foi pra isso que te chamei. – Se ajeitou na cadeira antes de lhe dar as notícias. – Você nos últimos tempos teve um desempenho absurdo aqui em Upper City, então o departamento e o Diretor Geral decidiram que suas habilidades são necessárias em Lower City. – Hal deu uma risada alta, quem estava do lado de fora da sala conseguiu escutar.

- Certo, ótima piada, Will. Sempre gostei disso em você. – Levantou e apagou o cigarro no cinzeiro da mesa de seu chefe. – Posso ir pra casa agora? Minha esposa quis que eu ficasse em casa hoje.

- Não é nenhuma piada, Hal. Sente-se que eu ainda não terminei de falar! Já arrumamos um lugar pra você ficar, prédio bom, apartamento bem equipado. Ganhará o dobro do que ganha aqui. Se recusar essa proposta pode se considerar demitido. Deixe sua arma e distintivo em minha mesa. – O sorriso de Capitão Wilford se fechou em um rosto sério e irritado pelo desrespeito de Hal.

- Capitão, o senhor leu todo meu histórico. Eu vim de lá, lutei para sair daquele poço buscando esse cargo. Não acha extremamente injusto fazer isso comigo?!

- Hal, são ordens de cima. Estou apenas te notificando. Me desculpe, rapaz, é como as coisas são feitas.

Sem deixar arma ou distintivo Hal andou para fora da sala, irritado, mas não teve outra escolha. Ser detetive sempre foi seu sonho desde criança e largar por causa disso agora seria burrice, ou não, Lower City era selvagem.

Avisou sua esposa Alaine, em algumas horas se mudou para Lower City. Foi transferido por um gigante elevador que conecta as duas cidades. O elevador tem o tamanho de um Estádio de Futebol, milhares de pessoas por dia sobem e descem nele. Alguns assalariados de empresas ganham finais de semanas com desconto em Upper City e aos domingos retornam para suas vidas duras lá em baixo. Quando o brilho do sol sumiu, dando lugar a um escuro imenso do Teto de Aço que dividia as duas cidades, seus ombros ficaram mais pesados.

O elevador parou, fazendo um enorme barulho ao encostar no chão. Lentamente todos foram saindo por um salão gigantesco de algum edifício do século passado, sua estrutura parecia que iria ruir a qualquer momento. Saiu de lá com Alaine e admirou a paisagem a frente dos dois. Não havia mais sol, não havia mais limpeza, não havia mais ar puro, não havia nada além de Aço e Concreto.

Deixou Alaine em seu novo apartamento sem tempo a perder, já havia sido chamado pro Departamento para se apresentar.

Sempre soube que o prédio da polícia era uma conexão das duas cidades, e ficou com vontade de esmurrar Wilford quando viu ele do lado de Lower City.

- Ainda sou seu superior, e eu também fui realocado para o Departamento daqui, então não reclame!

- Relaxe, Will. Eu vou me acostumar aqui com o tempo, já estava entediado lá em cima, um pouco de ação não faz mal a ninguém. – Acendeu um cigarro.

- Seu primeiro caso já está preparado. Vai funcionar exatamente como em Upper City, receberá tudo em seu computador de seu carro. O que te digo por hora é...um assassinato nada convencional, nada que você tenha visto lá em cima, então prepare-se. – Hal saiu da sala pensando nisso. Assassinatos em Upper City não eram, não viu muita gente morta.

Selva de Aço e ConcretoOnde histórias criam vida. Descubra agora