Hal: Parte III

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Os raios de sol artificial queimavam meu peito enquanto eu permanecia deitado naquela cadeira de praia. Sentir a areia entre meus dedos nos fins de semana sempre me passou tranquilidade. Na cadeira ao lado Dante permanecia na mesma posição, encarando o sol com o corpo todo. Nunca havia ido em nenhuma praia natural, todos seus pacotes de viagem eram caríssimos, tinha que me contentar com essas artificiais, o que não era nada mal para meu gosto.

- Você costuma ficar vindo nesses lugares sempre? - Dante virou a cabeça para minha direção e tirou os óculos escuros - Deveríamos ir até um bar!

- Não pode apenas aproveitar esse clima? Quando é que você consegue ter o prazer do mar na sua frente, a areia em seus pés e o sol te banhando?

- Não é de verdade, Hal. É só um tanque de água gigante, uma tela muito bem feita pra simular o sol e o horizonte com uma iluminação muito boa, apenas isso. - Deitou sua cabeça e colocou os óculos.

- E mesmo assim você está gostando...

- Só é entediante ficar aqui tanto tempo. Raujack nem vai vir mais, tenho certeza.

- Tá bom, então. Ligue para ele, diga que estamos indo para o bar. - Levantei e fui em direção ao vestiário.

Optei por levá-los ao bar Sunset City, do outro lado da rua. Dante reclamou da ideia até entrar no estabelecimento. Suas paredes tinham telas que reproduziam vídeos em loop para simular um bar no terraço de um arranha-céu, e ao longe o pôr do sol entre os prédios. Sentamos na mesa mais próxima esperando Jack.

- O que achou? Excelente, não? Podemos fazer esse o nosso ponto dos fins de semana. Boa localização e gosto das músicas aqui – De fundo não muito alta dava para se escutar uma batida eletrônica calma com leves acordes de guitarra.

- Chama isso de música boa, Hal? Um bom bar é um bem rústico com um bom jazz. Essas porcarias eletrônicas comem sua mente. - Dante sacou um cigarro de seu bolso na camisa e acendeu ali mesmo.

- Bares rústicos aqui em cima são uma facada no bolso por causa de opiniões como a sua, é coisa para irmos uma vez à cada dois meses. E Jazz? Eu prefiro muito mais músicas com estilos atuais. – Dante me ofereceu um cigarro. - Não, obrigado, sabe que não fumo.

- Dizem que os melhores bares desse gênero estão em Lower City, porque não damos uma passada em um qualquer dia? Você tá sempre indo por causa do teu irmão. - Selecionou com a ponta dos dedos em um painel embutido na mesa o pedido de um copo de conhaque, whisky e vodka.

- Eu vou para lá mas é apenas por isso, eu não fico nem um segundo a mais ou a menos se não for por ele. Não é um lugar bom de se viver. Às vezes eu só queria poder trocar de lugar...- Abaixei minha cabeça envolta dos meus braços.

- Ei, não se preocupe com isso! Você dá o seu melhor, parceiro, eu gostaria de ter um irmão como você. Em breve terá sua promoção e vai tirar ele daquele buraco. - Soltou a fumaça para cima que foi absorvida pelos silenciosos exaustores. Um garçom chegou com três copos dos pedidos e Raujack passou pela porta na mesma hora.

- Eu cheguei na hora boa! - Nem se sentou e já havia pego o copo de vodka da mesa e virado parte dentro da garganta – Nunca erram, meus amigos!

- Já achei que você tinha se perdido no caminho como sempre – Dante ofereceu um cigarro à ele que aceitou.

- Isso só ocorreu com um bar, Dante.

- Dois, Raujack, dois. Não tente eliminar a vez que você errou o endereço no GPS e foi parar do outro lado da cidade perguntando onde nós estávamos.

Selva de Aço e ConcretoOnde histórias criam vida. Descubra agora