3 - Warm

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- Porcaria - resmunguei baixinho, analisando aquela máquina super-tecnológica que parecia ter como única função me encher o saco. - Porcaria - inclinei-me um pouco para o lado, procurando algum botão ou qualquer coisa do tipo que pudesse reiniciar tudo e, quem sabe, fazer as coisas funcionarem. - Como é que v-

- Lis?

Endireitei as costas e olhei por cima do ombro para encontrar Mia caminhando em minha direção com um sorriso divertido nos lábios.

- Voight! Que bom que você está aqui! - suspirei aliviada. - Amiga, eu preciso que você faça aquela sua - movimentei os dedos - mágica com essa máquina horrorosa. Ela se recusa a me entregar o contrato que mandei imprimir.

- Ah, amiga - aproximou-se, sacudindo a cabeça e agora rindo abertamente. - Isso é ótimo. Acho impressionante como você consegue livrar alguém da pena capital, mas não sabe como imprimir um contrato - depois de remexer em uma bandeja de folha e apertar um botão que não tinha visto antes, finalmente aquela máquina demoníaca começou a imprimir o documento.

- A culpa não é minha se vocês só podem criar alguma coisa que algum super gênio tecnológico possa entender. Vou falar com Stark sobre isso. Além do mais, só tenho problemas com essa impressora.

- Ahan - murmurou de maneira condescendente. - Só a impressora, e a cafeteira, e o micro-ondas, a TV da sala, a TV do seu quarto, o-

- Ok, ok - sacudi a mão, interrompendo minha amiga. - Já entendi. Não sou nenhuma Stark tecnológica.

- Stark? Lis, amiga, você é quase tão ruim quanto Capitão Rogers, e ele esteve no gelo por setenta anos - pegou as folhas que finalmente ficaram prontas e me estendeu.

Ah! Eu não sabia sobre tecnologia, mas decididamente sabia quando havia alguma coisa a mais por trás de palavras simples e por certo havia alguma coisa por detrás do jeito como ela dizia o nome de Steve - e eu iria descobrir exatamente o que. Acho que foi o sorriso malicioso que deixei escapar que entregou minhas intenções porque logo o divertimento sumiu do rosto da loira na minha frente, sendo substituído por uma palidez quase preocupante.

- Pois é - falei lentamente, apreciando a reviravolta em nossa conversa. - Ouvi que você está ajudando o Capitão a se adaptar ao nosso admirável mundo novo. Como está sendo isso? Divertido? Interessante? Está correspondendo a suas expectativas?

- Minhas... expectativas? - engoliu em seco.

- É. Você sabe, expectativas - dei de ombros, abaixando o olhar para as folhas em minhas mãos. - Steve Rogers pode nos trazer expectativas, não? Afinal... tantos anos celebrando seu heroísmo. Nós acabamos criando certa imagem. Isso sem contar que ele é... - voltei a encará-la, arqueando a sobrancelha e trazendo de volta o sorriso malicioso para que ela entendesse a que me referia.

Precisei segurar a gargalhada ao ver como, de pálida como um papel, ela se tornava mais vermelha que um tomate, murmurando qualquer desculpa ininteligível para logo seguir apressada pelo caminho que fazia antes de parar para me ajudar.

Sacudindo a cabeça e segurando firme o calhamaço de folhas que consistia no contrato que estava escrevendo há meses, também segui meu caminho. Ao chegar no elevador, entretanto, já estava me sentindo um pouco culpada. Não queria constrangê-la trazendo à baila sua queda-não-tão-secreta por Rogers, até porque já tinha visto os dois conversando pelos cantos e eles formavam um casal realmente fofo, mas meu espírito competitivo havia levado a melhor - como acontecia frequentemente. Por sorte, nossa amizade era antiga e ela perdoava esses meus pequenos defeitos - bom, isso e uma grande caneca daquele caro chá inglês vendido na 8th Street.

Burning IceOnde histórias criam vida. Descubra agora