6. Smouldering

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Depois de uma pequena discussão sobre cada um pagar seu ingresso, deixei que aqueles olhos azuis me convencessem a deixá-lo comprar a pipoca e o refrigerante. Era engraçado com minha personalidade feminista do século XXI se chocava com a sua de cavalheiro do século XX.

Sempre fui aquele tipo de pessoa que quando vai ao cinema, vai ao cinema. Queria ver o filme, não queria conversar ou comentar as cenas. Bucky, por sua vez, levava essa filosofia a outro nível. Durante a primeira metade de A Pedra Filosofal, ele não desgrudou o olhar da tela, e eu, hipócrita e pateticamente, me senti deixada de lado.

Não, não, não. Aquilo não era aceitável.

Usando a desculpa de que queria me apoiar melhor para pegar do balde em seu colo, coloquei a mão esquerda sobre sua coxa e com a direita peguei a pipoca. Ao voltar a me endireitar em meu lugar, mantive a mão em sua perna. Não pude evitar o sorriso satisfeito ao senti-lo se retesar sob minha palma. Seu olhar queimou a parte do meu rosto que ele podia ver, mas foi a minha vez de manter a atenção na tela gigante. Esperei por um momento antes de fechar um pouco os dedos, aumentando o aperto.

E... nossa... Barnes... uau. Nossa. Era óbvio que ele estava em boa forma, mas colocar as mãos sobre...

Passei a língua por meus lábios secos e, ao perceber que não seria repelida, decidi ser mais corajosa e passei a também movimentar a mão em pequenos círculos.

O restante do filme foi perdido enquanto me concentrava apenas em Bucky. Em sua coxa forte, em sua respiração pesada.

Quando as luzes voltaram a se acender, levantei-me, andando um pouco a frente para lhe dar um pouco de espaço — tanto literal quanto figurativamente. Só do lado de fora da sala de cinema foi que me voltei para ele.

— Gostou do filme?

Ele piscou devagar, parecendo voltar à órbita.

— Sim, sim — assentiu, meio ausente ainda. — Bem interessante.

Mordendo o sorriso malicioso que queria dar, comentei:

— Que bom que gostou, porque ainda temos outros sete dele!

— Sete? — perguntou em um gemido estrangulado.

Dessa vez não pude evitar uma pequena gargalhada. Franzindo o cenho, ele estreitou os olhos e me analisou como se tivesse uma boa ideia do que eu estava fazendo. Como ser pega em meio aos meus estratagemas nunca foi algo que apreciei — e saber que eu estava tentando fazê-lo tomar uma iniciativa não era algo que ele provavelmente apreciaria —, dei um passo para frente e estendi a mão no espaço entre nós.

— Estou com fome. Que tal um hambúrguer?

Ele olhou para minha mão direita, tão perdido, tão incerto, que meu coração se apertou. Demorei um momento para perceber que sua hesitação era porque ele teria que usar a mão esquerda para corresponder ao meu gesto, sua mão biônica... a mão que ele cuidadosamente tinha mantido longe de mim.

Bom. Aquilo simplesmente não servia para mim.

Inclinando-me para o seu lado, entrelacei nossos dedos. Com um sorriso, tomei um momento para apenas observar nossas mãos juntas, bastante satisfeita. Ao levantar o olhar, encontrei-o outra vez me analisando, só que agora era como se aqueles olhos azuis estivessem me puxando para o infinito, para a profundeza dos mil segredos que ele trazia... tão impressionante quanto o mar.

Não percebi que estava prendendo minha respiração até que Bucky estreitou o aperto em meus dedos por um momento de maneira reconfortante e me puxou delicadamente para que voltássemos a andar. Ele não sorriu e eu não esperava por isso. Sabia que os passos lentos eram necessários, e também sabia bem quando empurrar e quando recuar. Barnes havia me deixado avançar hoje e estava agradecida por isso.

Burning IceOnde histórias criam vida. Descubra agora