8. Sizzle

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Um dos traços de minha personalidade que eu não apreciava tanto era o jeito como não precisava de muito para que uma ideia se tornasse fixa. Isso era muito útil em alguns momentos — afinal, tinha certeza que era minha teimosia, mais do que os milhões que ganhava, que me fazia continuar arrumando as lambanças de Stark —, mas havia outros, como agora, que pensava que poderia enlouquecer graças as milhares de vezes que a mesma coisa voltava a minha mente.

Por essa detestável obsessão, que conseguia desenvolver com não muita dificuldade, é que agora me perdia entre um parágrafo e outro do contrato que deveria estar avaliando. Batendo a caneta repetidas vezes em um tique nervoso que mal percebia, ao invés de juros e impostos, ponderava sobre como exatamente poderia conseguir uma punição de Bucky.

Bom... não exatamente isso.

Conseguir uma punição não era difícil, afinal, Barnes adora repetir sobre como era exatamente aquilo que esperaria por mim caso não obedecesse suas ordens no quarto.

Não.

O truque era conseguir uma punição sem que ele percebesse minhas intenções. Afinal, queria a emoção daquela experiência, não que ele me deixasse sem gozar pela maior parte da noite. Precisava ser algo na medida. Não sensível demais para que eu ficasse sem uma resposta "enérgica", nem capaz de cruzar uma linha de onde eu não pudesse retornar.

Aquela pequena charada é que consumia meu tempo.

Depois de mais alguns minutos sem uma resposta, e chegando ao ponto de irritar com o tic-tac que eu mesma estava fazendo ao apertar incessantemente o botão da caneta, soltei um muxoxo irritado. Frustrada comigo mesma por perder tanto tempo — e concentração — com aquele tema, usei toda minha força de vontade para me focar no que realmente precisava de minha atenção.

Foi só acabar o que pretendia fazer no dia de trabalho de hoje, entretanto, que lá estava de novo aquele pensamento. Acompanhou-me enquanto apagava as luzes, enquanto descia pelo elevador, e estava lá quando decidi que merecia um combo de fast-food — ou talvez tenha sido justamente por causa disso que fui até o McDonald's da esquina.

Com a bolsa sobre o ombro e abraçando a embalagem para viagem, voltei à Torre caminhando e comendo batata frita. Fazia tudo isso no automático, no entanto, a mente ainda embalada em bolar um plano.

Ciúmes era uma coisa infantil e mesquinha. Não me apetecia. Não tinha paciência para esse tipo de coisa.

Também não podia ser algo desencadeado já no quarto porque, verdade seja dita, não tinha autocontrole suficiente para seguir um plano quando ele estava me tocando. Era só Barnes colocar as mãos em mim e já estava tremendo

Não, não. Eu definitivamente precisava de algo que começasse em território neutro e terminasse no quarto — de preferência resultando em alguns orgasmos.

Tão concentrada estava, só percebi ter percorrido todo o caminho de volta para o andar quando Sam pulou na minha frente.

— Hey, Lis!

Seu tom excessivamente animado me disse imediatamente que logo viria algum tipo de pedido. Ele usava a mesma tática de Stark. Era de se imaginar que os dois já teriam aprendido que isso não funcionava comigo. Pelo amor ao debate, todavia, respondi:

— Olá, Sam. Como vai?

— Com fome. Sobrou alguma coisa aí? — usando toda delicadeza que um amigo com intimidade suficiente podia reunir quando estava com fome, Wilson pegou a embalagem e tirou o sanduíche embalado que tinha comprado. — Ah! Você é maravilhosa!

Um tanto quanto estarrecida, observei, em silêncio, meu amigo, bem rápido e em algumas mordidas, devorar o que seria meu jantar — e minha comida conforto.

Burning IceOnde histórias criam vida. Descubra agora