Em minha opinião, uma das coisas interessantes do mundo era a capacidade que ele tinha de te surpreender. De todas as surpresas, todavia, a que mais me fascinava era o comportamento humano. Você pode conhecer milhares de pessoas em dezenas de países e, por certo, seriam milhares de personalidades diferentes. Talvez fosse por isso que tivesse escolhido o Direito, ou talvez, como Stark adorava repetir, eu apenas gostasse de uma boa briga. Qualquer que fosse o motivo, entretanto, o fascínio pela sociedade sempre esteve presente. Nada, porém, era tão incrivelmente interessante quanto Bucky Barnes.Pensei que depois de nossa conversa na cozinha, poderíamos ser amigos, mas, apesar de não mais me evitar a cada passo, não conseguia manter uma conversa remotamente estável, apenas respostas monossilábicas. Levou certo tempo para que eu superasse a decepção por aquele tratamento de silêncio, e talvez não teria superado de jeito nenhum não fossem os anos observando o comportamento humano, o que me possibilitou fazer isso inconscientemente. Desse modo, mesmo em meio a minha ansiedade mal controlada, consegui perceber que o problema não era eu. Barnes não conversava com basicamente ninguém. Somente Steve e sua paciência infinita — ou Sam e sua vontade infinita de irritar o ex-assassino — conseguiam arrancar frases inteiras dele.
Verdade seja dita, paciência não era a maior das minhas virtudes. Só me mantinha quieta, observando, até obter a informação que precisava. Depois vinha ação, minha parte favorita. Dessa vez, entretanto, não podia seguir meu comportamento normal, então me forcei a ficar quieta, trabalhando devagar cada passo. Barnes fazia meu coração repuxar de um jeito bom, e eu queria que ele se sentisse bem em minha companhia, como me sentia na dele. Assim, ao invés de forçá-lo a se sentar perto ou a conversar sobre qualquer assunto que lhe interessasse, tinha passado a cultivar o silêncio, deixando-o se aproximar ao seu próprio tempo.
Quando estava assistindo um filme na imensa sala de cinema de Stark, limitava-me a lhe dar um sorriso e um aceno de cabeça quando meu sargento favorito resolveu se juntar a mim.
Na biblioteca, enquanto trabalhava em algum caso sobre a incrível e centenária mesa de madeira que tinha manipulado Stark a comprar e renovar, Bucky geralmente chegava silencioso como uma sombra e passava o tempo ali comigo, lendo algum livro que trazia consigo ou que pescava na estante.
Nas manhãs de dias úteis, no começo, mal conseguia murmurar um corrido "bom dia", por ele só aparecer quando eu já estava correndo para a porta, porém, com o passar das semanas, Bucky gradualmente começou a chegar mais cedo na cozinha, até que estivéssemos tomando café da manhã juntos todos os dias.
Depois de dois meses de passos tão pequenos que mais parecíamos imóveis, mal pude acreditar quando, em uma tarde de sexta-feira aparentemente como outra qualquer, enquanto andava no corredor com a atenção na tela do meu celular, quase trombei com Sargento Barnes. Fui salva apenas por aquele reflexo que te faz olhar para frente no último segundo antes de bater em algo.
— A-Oh! — Por instinto dei um passo para trás, tomando um segundo antes de perceber quem era. — Bucky, hey.
— Dahra — assentiu.
— Hmm... Tudo bem? — murmurei depois de perceber que ele não iria falar mais nada.
Foram precisos mais alguns momentos de silêncio antes de ele finalmente respirar fundo e falar:
— Você vai ao centro hoje?
Das muitas coisas que imaginei que ele poderia falar, aquela definitivamente não era uma delas.
— No centro? — franzindo o cenho, murmurei, incerta, mas, como tinha a nítida impressão de qual resposta ele queria ouvir, continuei: — Sim, claro. Preciso passar no tribunal para pegar alguns documentos.
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Burning Ice
ContoNão que Dahra Lisbon pensasse que sua vida fosse ser comum, afinal, conhecer os avengers já seria um marco na vida de qualquer pessoa; ser a chefe da equipe legal deles, então, era quase uma pitada de insanidade a mais do que se poderia aguentar. O...