7. Glowing

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Poucas pessoas podiam dizer com verdade que conseguiram me intimidar. Meu professor de processo penal no segundo ano em Harvard era uma delas, meu pai também é, às vezes, Teresa também conseguia me colocar certa apreensão. Um rol pequeno de pessoas, portanto. Nenhum juiz, promotor ou advogado tinha conseguido esse feito, nem mesmo nenhum cliente ou pessoa que eu estava processando. Era corajosa, e me orgulhava bastante disso. Não que fosse suicida ou coisa do tipo. Eu certamente não corri para o meio dos aliens na Batalha de New York nem nada parecido, mas era raro alguém conseguir gravar o nome na lista de pessoas de quem eu com certeza não queria encher o saco.

A dupla sentada no sofá à minha frente, entretanto, havia conseguido essa façanha.

Engolindo em seco, e retorcendo as mãos nervosamente na frente do corpo, resolvi quebrar o silêncio:

— Então... — estendi a palavra. — Você me chamou aqui?

Steve Rogers cruzou os braços e se acomodou melhor no sofá, muito sereno, nenhuma emoção em seu rosto perfeito. Cap, sentando no seu lado, estava igualmente imóvel e atento. Era quase como ficar de frente com um pelotão de fuzilamento, a diferença era que eles eram bem mais agradáveis aos olhos do que qualquer carrasco.

— Percebi que Bucky e você estão cada vez mais sérios.

Sabia que aquele era o assunto — afinal, o que mais seria? —, mas ouvir em voz alta tornava tudo bem mais real, o que me deixava ainda mais nervosa por ter que desbravar um caminho desconhecido.

— Sim — limpei a garganta e voltei a repetir com mais firmeza. — Sim.

Os próximos segundos foram preenchidos por silêncio, e tive a certeza de que Rogers poderia fazer uma dupla com Nat e interrogar os figurões da CIA para descobrir quem realmente matou o Kennedy. O jeito como não usava palavras para construir a antecipação, como sem dizer nada podia fazer com que alguém se contorcesse, era impressionante. Quase tinha vontade de confessar aquela vez em que tomei o whiskey do papai e coloquei a culpa em Ree, ou todas as outras coisas erradas que já fiz na vida.

— Não quero que pense que chamei você aqui para algum tipo de... não sei como dizer. Não estou tentando interferir.

Não estava? Então ele estava fazendo um péssimo trabalho, pois certamente parecia uma intervenção. Apesar disso, precisava apontar que continuava achando Steve Rogers a personificação de todos os valores que a América queria transparecer, mesmo quando sabia que ele estava prestes a, figurativamente, pular na minha jugular. Não era à toa que ele foi o garoto propaganda para arrecadação de fundos na II Guerra. Eu estava do lado dele, mesmo quando o outro lado era o meu lado.

Sacudindo a cabeça quase que de maneira imperceptível, tentei voltar ao foco.

— O que estou dizendo, é que eu me preocupo — lançou um olhar de canto de olho para o Golden ao seu lado. — Nós nos preocupamos com ele — acrescentou rapidamente.

— Okay...?

Também poderia acrescentar às peculiaridades daquele dia o fato de eu ter ficado sem saber o que dizer. Não era acontecimento comum.

— Bucky, ele... ele já passou por muita coisa, Dahra. Muita coisa.

Podia ver o esforço que era para Steve falar aquilo, como se ele mesmo estivesse sofrendo tudo sobre o que falava. As palavras eram arrancadas de sua garganta como resultado de um pensamento de que ele não conseguia se livrar.

— Eu só quero ter certeza — inclinou-se para frente, os cotovelos sobre os joelhos — de que você tem certeza.

— Que eu tenho certeza de quê? — franzi o cenho, confusa.

Burning IceOnde histórias criam vida. Descubra agora