Gostava do barulho que meus saltos faziam ao entrar em contato com o chão. Sentia-me poderosa. Salto alto me fazia sentir bastante poderosa. Aqueles Jimmy Choo vermelhos que estava usando, então... ah! Definitivamente o mais próximo da concretização da palavra "poder" que alguém poderia alcançar. Infelizmente hoje não era um daqueles dias em que podia apreciar os pequenos prazeres da vida.
Não. Aquele era o dia de, nas palavras precisas de meu chefe, "fazer valer cada um dos milhares de dólares que ele me pagava mensalmente". Realmente não tinha problema com essa parte, afinal, sabia o quanto era boa em meu trabalho. O problema é que Tony Stark não havia especificado nada além de onde eu deveria estar "o mais rápido possível".
Não importava quantas vezes lhe dissera que não era assim que as coisas funcionavam, que não podia consertar da melhor maneira as mil e umas confusões legais em que ele se metia se nem ao menos mencionasse sobre o que elas se tratavam antes que eu precisasse ir buscá-lo em qualquer agência governamental que ele havia irritado dessa vez. Normalmente esse comportamento de Stark era apenas irritante, mas dessa vez estava preocupada de verdade. Por pior que fosse a bagunça que ele aprontava, nunca havia sido levado para aquele prédio. No subterrâneo de Jersey. Não havia qualquer identificação de qual agência era aquela, apenas a bandeira dos Estados Unidos aqui e ali.
Assim, cá estava eu, andando mais rápido do que meus passos espertos estavam acostumados, sem apreciar os cliques que eles faziam. Nada em minha mente além de mil cenários sobre como o imbecil havia finalmente se afundado tanto em problemas que nem mesmo eu seria capaz de salvá-lo. Depois do que pareceu ter sido uma viagem completa - e a pé - por toda a Highway to Hell, finalmente o agente que me acompanhava parou em frente a uma porta e a abriu.
Percebi imediatamente que o lugar se tratava de um cômodo de observação de uma sala de interrogatório. Aproximei-me da janela de vidro que sabia só ser transparente para mim, impedindo que quem estivesse do outro lado me visse. Contrário ao que esperava, entretanto, quem estava sendo pressionado verbalmente por um homem claramente não era Tony. Stark não era tão forte, não tinha o cabelo mais comprido preso em um pequeno coque - que não poderia ser chamado de nada além de muito masculino -, tampouco meu chefe sustentava uma barba por fazer, e, por mais que ele gostasse de acreditar que sim, Tony Stark não tinha aquela aura do mais denso perigo. O homem na outra sala obviamente era perigoso, mais perigoso do que mesmo minha imaginação poderia criar. Talvez por isso ele não estivesse em uma cadeira normal, mas sim em uma pequena jaula de vidro, as mãos presas por enormes algemas modificadas que cobriam desde o antebraço até as mãos com espécies de cones de metais.
Fiquei tão surpresa que levei um minuto inteiro para reconhecer as feições inescrutáveis dele. Quando o fiz, entretanto, tudo imediatamente fez sentido. Sem perder mais nenhum segundo, fui até a porta ao lado do vidro e depois marchei para dentro da sala de interrogatório.
- Pode parar exatamente aí - com a voz nem um oitavo acima de meu tom normal, interrompi qualquer ameaça que o agente estava fazendo. - Você já está em problemas demais só com esse joguete idiota. Não precisa acrescentar mais nada a equação.
Certamente aquilo foi o suficiente para chamar a atenção não só do homem a quem me dirigia, como também dos outros três agentes armados no canto da sala e do prisioneiro.
- Quem é você? Moça, esse lugar é protegido pelo mais restrito dos acessos. Vou mandar prendê-la.
Cuspiu, surpreso, o homem que há segundos se sentia bem confiante tentando intimidar alguém preso e em menor número, levantando-se da cadeira. Como se seu metro e meio de altura e a barriga saliente fossem me colocar medo agora que ele estava em pé na minha frente. Esse era o problema dos burocratas: eles passavam tanto tempo enfurnados em seus escritórios mandando naqueles sob sua zona de poder, que, quando estavam no mundo real, ainda tinham a pobre crença de que todos se curvariam às suas ordens imbecis.

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Burning Ice
Short StoryNão que Dahra Lisbon pensasse que sua vida fosse ser comum, afinal, conhecer os avengers já seria um marco na vida de qualquer pessoa; ser a chefe da equipe legal deles, então, era quase uma pitada de insanidade a mais do que se poderia aguentar. O...