Capítulo 1 - Mudando de fase

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      No fundo, no fundo, ela queria ser adulta. Por isso, ao completar seus doze anos de idade, Karoline decidiu colocar seus muitos planos em prática. Dentro de si borbulhava um desejo de ser vaidosa igual a mãe e mesmo sem possuir um trabalho ou fonte de renda, sonhava ser independente. Ela achava que entendia das coisas, havia se tornado uma adolescente com resposta na ponta de língua e dizia não ter medo de absolutamente nada.
      A família dela estava passando por um processo de mudança, pois o lugar de onde saíram não oferecia a mesma segurança de antigamente. Morar no bairro Vila Verde tornou-se extremamente desafiador por conta do número de assaltos aos quais os moradores eram submetidos diariamente. O último caso ocorrido na porta da casa onde Karoline morava foi a gota d'água para que os pais dela decidissem partir para outro bairro e endereço. Consequentemente, foi preciso trocar de escola, fazer novos amigos e se adaptar à nova casa.

- Acorde, minha filha. - disse a mãe dela abrindo a janela

- Fecha isso. Eu quero dormir. - respondeu a menina colocando o travesseiro sobre a cabeça para se proteger da claridade do dia.

- Não. Hoje é o seu aniversário e eu juntamente com o seu pai resolvemos tomar um café à mesa contigo.

- Deixa para mais tarde. - sussurrou Karoline com voz de quem queria chorar.

- Não! Agora! - Exclamou Thereza, a mãe dela, puxando-lhe o coberto.
     
     Que maldade! Ela trabalhou a madrugada inteira conversando com os amigos na internet, acordar às 8 da manhã era cruel. Durante a semana, mantinha o hábito de acordar próximo ao meio-dia, horário em que se arrumava para ir à escola. Mas não teve jeito, a única opção que restou foi se levantar da cama, lavar o rosto, se trocar e comparecer na cozinha para desfrutar de uma saborosa refeição na companhia de seus pais naquela sexta-feira de sol.
      Ser convidada a despertar do sono daquele jeito não foi legal. Ela se colocou de pé irritada e foi caminhando rapidamente para o banheiro batendo à porta com violência após ter entrado. Quando se olhou no espelho, percebeu algo estranho, estava sem forças até para escovar os dentes e com um pouco de dor de cabeça, sintomas comuns, fruto do cansaço das noites mal dormidas. Como começou a se sentir muito indisposta, resolveu se sentar na privada para recobrar o ânimo. Todavia, tinha a consciência de que precisaria de um pouco de agilidade, porquanto havia sido convocada para uma reunião familiar.
     De repente, da cozinha ouviu-se um grito:

-Mãe! Mãe!

- Vigie a sanduicheira para mim, Julio - disse Dona Thereza largando o que estava fazendo e indo às pressas em direção ao banheiro.

     Quando ela chegou ao lugar onde a filha estava, percebeu que a porta tinha sido fechada com trinco.

- Abra a porta para que eu possa entrar.

     A menina se dirigiu lentamente à porta para atender ao pedido da mãe e no momento em que as duas se aproximaram, Karoline ficou com vergonha de contar o que havia acontecido.

- O que foi, minha filha? – Perguntou Thereza

- Algo muito estranho. Eu não sei explicar. Acordei sentindo uma dor de cabeça anormal, muito irritada, me sinto indisposta e com uma vontade de chorar sem motivo. Me esforcei para escovar os dentes, lavar o rosto, pentear o cabelo e no meio disso tudo acabei me assustando com isso.
    

     A menina mostrou a sua mãe o que tinha acontecido porque não sabia como lidar sozinha com aquele incidente, por isso acabou ficando nervosa, temerosa e um pouco desesperada. O escândalo que fez deu a ideia de que alguma coisa muito grave tivesse ocorrido. Coisa de mulher.

- Parabéns, minha filha. Você está virando uma mocinha.
    

     Karoline fez um cara de quem não gostou da forma como havia sido tratada, sentiu-se uma criança. Será que a mãe dela ainda não havia notado as mudanças em seu corpo que apontavam para uma adolescente na rota de fuga para uma fase adulta? Ela não queria ser tratada mais como uma menininha, uma juvenil qualquer, pois se achava descolada demais, para frente demais, dona do seu próprio nariz, uma pessoa madura que vivia de mesada.

A mente de uma adolescente incompreendidaOnde histórias criam vida. Descubra agora