Ela correu o olho no corredor, viu alguns alunos de outras classes transitando por ele, voltou-se novamente para a sala, tentou ver se tinha alguma coisa escrita no quadro, porém nada encontrou. Teve a ideia de ligar para o telefone celular de uma amiga, mas a ligação caia na caixa postal; discou o número da mãe, do pai e só dava ocupado.
- Para onde foi todo mundo? – Reclamou consigo mesma. – Não é possível! Eu devo merecer isso mesmo, justamente no dia do meu aniversário.
- Karoline, este é o seu nome? – Disse a diretora da escola, parada na porta da sala, interrompendo o monólogo dela.
- Sim, sou eu. – Respondeu ela
- Me acompanhe, por favor.
O medo bateu-lhe a porta, pois todas as vezes que aquela mulher se dirigia a alguém da turma fazendo esse tipo de convite era sinal de advertência ou convocação para que os pais comparecessem na escola para uma reunião. Ela tentou se lembrar de alguma coisa errada que havia feito, mas não conseguiu, sua mente ficou perturbada de tantas hipóteses ruins. Viu sua cabeça rolar no momento em que chegasse em casa, ficou preocupada com as notas das provas no primeiro semestre, ouvia seu coração bater a cada passo dado em direção à sala da diretoria.
Quando realmente se deu conta de onde estava, percebeu que já tinha passado da sala da diretora há poucos minutos. As duas continuaram andando pelos corredores até o final dele. Cruzaram junto o pátio que fica entre o prédio da escola e o local destinado à prática de esportes. Karoline queria entender para onde estava sendo levada, pensou ter se esquecido de anotar algum recado de um dos professores a respeito da alteração do local de aplicação da matéria naquele dia, se esforçou para encontrar o motivo daquela convocação, afinal, não era o dia do professor de educação física dar aula.
No momento em que elas entraram no ginásio, um espaço coberto e bastante amplo, Karoline se assustou. As luzes estavam apagadas, o ambiente escuro, a voz delas ecoava no lugar. De tão amedrontada, chegou a pensar que sua diretora fosse matá-la e esconde-la em algum canto ali dentro.- Não havia outra data para morrer, tinha que ser no dia do meu aniversário? – Pensou consigo mesma.
Ela se esforçou para voltar e sair correndo dali, mas seus pés não conseguiam se mover em outra direção senão para frente. Foi conduzida até o centro da quadra, andando a alguns centímetros de distância da mulher que agora lhe assombrava os pensamentos.- É aqui. Fique parada! Não se mova! – Ordenou a diretora
- Aqui? Aqui o quê? – Indagou Karoline
- Você não sabe? – Perguntou a diretora
- Não. – respondeu a menina tremendo dos pés à cabeça
- Feche os olhos e vire-se. – Ordenou Carmen, a diretora dela.
Aquela pobre adolescente queria gritar por socorro, mas não seria ouvida se tentasse. Se pudesse telefonar para polícia poderia...dar ocupado também pela falta de sorte. Dizia para si mesmo que tudo estava dando errado naquele dia na medida em que ia ficando mais assustada. Mas ela precisou se sujeitar à voz de comando da diretora e assim o fez, foi fazendo a volta lentamente e quando ficou de costas, pensou em fugir, sabia que se corresse a mulher que havia lhe conduzido para aquele cenário de terror não seria veloz o suficiente para alcançá-la.
Depois de alguns segundos exposta a tensão do lugar e momento, Karoline resolveu abrir um dos olhos apenas a fim de observar o que estava adiante e nas laterais dela. Ouviu os passos de Carmen ficarem cada vez mais distantes até que não pode mais ouvi-los.
Como estava no centro da quadra qualquer um dos lados para os quais tentasse correr apresentavam a mesma distância. Enquanto pensava nisso, os refletores do ginásio foram acesos. Ela se esforçou o máximo para perceber o que estava acontecendo porque quando a luz se acendeu, o som de muitos passos, risos e pedidos de silêncio adentraram no ambiente.
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A mente de uma adolescente incompreendida
Genç KurguComo uma menina qualquer, Karoline retrata bem a juventude feminina. Ela tem seus conflitos, seus complexos, sua mudanças, suas aventuras, seu desenvolvimento. Como todo adolescente, vive baseado na ideia de que é sempre incompreendido e injustiçado...