Capítulo 10 - O sucesso está em ser humano

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Ela esteve em sala de aula durante quatro anos até se formar e ser habilitada para desempenhar sua carreira. Queria ser bem sucedida, seu pai havia ganhado uma causa na justiça e recebeu uma quantia em dinheiro considerável capaz de presentear a filha com um consultório.

     Durante o primeiro ano, a expectativa entrou em contradição com a realidade. Os pacientes eram poucos e as despesas maiores do que a receitas. Eles haviam adquirido equipamentos e aparelhos, novidades do mercado e realizado um excelente investimento, mas as coisas não saindo conforme o esperado.
      E como se não bastasse, ela teve uma surpresa no início do segundo mês de funcionamento do consultório. Um moço mal vestido, tomou assento em um dos lugares da fila de espera do local do trabalho dela. Ele usava uma blusa azul muito desbotada, uma bermuda floral, sandálias e exalava um odor estranho.
      Percebendo a situação e com medo da reação dos pacientes que poderiam chegar a qualquer momento, a secretária de Karoline tentou dispensá-lo. Mas ele insistiu em ficar e disse:

- Eu não vou sair daqui enquanto não falar com a doutora.

     Notando que seria difícil remover a maltrapilho do local, entrou na sala onde a doutora estava e contou o ocorrido com muito cuidado a ela. Karoline saiu furiosa e ao se aproximar do homem, que a aguardava, indagou:

- Bom dia! O que o senhor quer?

- Bom dia, doutora. Eu gostaria de falar com a senhora.

- Tudo bem. Você está com fome? Porque dinheiro eu não irei lhe dar. Pegue um dos biscoitos e...

     Ele a interrompeu quando ela dava um comando a sua secretária:

- Me desculpe, doutora. Eu estou morando na rua, mas eu tenho família. Após, me envolver com álcool e drogas, eu fui de mal a pior e virei um mendigo. Sofro de depressão, desejo suicida e há dois anos, vivo essa vida miserável.

- Qual o seu nome? - Perguntou Karoline

- Pedro Henrique da Silva.

- Volte aqui na quarta-feira nesse mesmo horário. Enquanto isso, eu pensarei numa forma de ajudá-lo.

- Doutora, eu só quero ter meus dentes novamente, conseguir um emprego, ter uma vida digna e voltar para os braços da minha família.

     A situação financeira do estabelecimento não havia mudado e ajudar aquele pobre homem representaria gastos. Mesmo assim, ela decidiu cumprir com sua palavra a fim de devolver a dignidade aquele pai de família. Ela encerrou o expediente e só havia atendido apenas uma pessoa, interessada em fazer um orçamento.

     Era terça-feira, Karoline teve um dia intenso de trabalho. As coisas melhoraram de forma surpreendente e ela mal teve tempo para almoçar.

- Estou exausta, mas feliz. - Disse a doutora para Ester, a secretária

- As coisas estão começando a fluir. - Comentou Ester

- Vamos fechar tudo, porque amanhã tem mais.

- Sim, doutora. Mas o que você acha que irá acontecer se os pacientes chegarem aqui, virem o Pedro Henrique aqui - Perguntou a secretária

- Puxa, eu não havia pensado nisso. Acho que vou ter que desmarcar com ele. Mas como? Ele não tem telefone. - Respondeu Karoline

- Verdade. Ele é apenas um morador de rua, sujo e mal vestido.

- Não se preocupe, Ester. Amanhã, daremos um jeito.

     Elas chegaram cedo no dia seguinte e organizaram tudo para mais um dia de trabalho. O morador de rua foi o primeiro a chegar, outra surpresa. Ele estava bem vestido, de banho tomado, cabelo penteado, mais apresentável. Antes de tomar assento, cumprimento Ester e foi aguardar a vez de ser atendido.

- Seu Pedro. Nem parece o rapaz que esteve aqui ontem. - Brincou a secretária

- A mudança está chegando em minha vida. Vir aqui ontem foi o primeiro passo e saber que vocês estão me ajudando me deu forças para dar a volta por cima.

Não demorou muito e Karoline apareceu na recepção, onde ambos estavam:

- Bom dia, senhor.

Os dois sorriram. A doutora ficou sem entender coisa alguma e sussurrou para Ester:

- O que houve?

- Aquele moço que você acabou de cumprimentar é o Pedro Henrique

Karoline virou-se para conferir sem acreditar no que estava vendo.

- Perdão, eu não o reconheci.

- Tudo bem, senhora. Isso é um bom sinal. Como eu disse, a mudança está chegando na minha vida. Após ganhar os meus novos dentes, me internarei numa clínica para ex-moradores de rua e ficarei lá até me sentir limpo outra vez. Eu só estou aqui hoje porque um grupo de jovens resolveu acreditar em mim, me tornarei um novo homem.
     

     Pedro Henrique recebeu os cuidados odontológicos durante uma semana e foi internado logo em seguida. Hoje, ele tem uma casa, está reconquistando o respeito da família, ajudando outras pessoas e voltou a conviver com o filho, que há meses estivera distante. Karoline, adquiriu mais uma sala no prédio onde está situado seu consultório para atender gratuitamente a pessoa de baixa ou sem renda alguma.

     Karoline encontrou o segredo do sucesso.

A mente de uma adolescente incompreendidaOnde histórias criam vida. Descubra agora