Capítulo 5 - Crise de abstinência

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      Sem ter o que fazer, Karoline se jogou em sua cama de bruços. Sentiu-se injustiçada, desabou a chorar de raiva, quis sair às escondidas, fugir de casa, não aguentava mais sofrer com o tédio provocado pelas horas de ócio vividas dentro do seu quarto.
     Ela foi até a estante dos livros e apanhou algo para ler, mas não conseguiu se concentrar. Levantou-se novamente, abriu a gaveta onde havia alguns objetos escolares, pegou uma tesoura e foi ao banheiro.
     De frente para o espelho, Karoline se olhava e se dividia entre dois pensamentos. Na primeira tesourada, caiu uma mecha e conforme ia cortando seu longo cabelo ia dando lugar a um corte totalmente curto e desalinhado.
     Depois do que havia acabado de fazer, ela permaneceu se olhando por alguns instantes através do espelho, talvez um pouco arrependida ou não. Não obstante, tomou nas mãos um aparelho de barbear descartável que havia pego no banheiro de Arnaldo, seu pai, há uns dias, retirou a lâmina do mesmo e cortou um dos pulsos, caindo desmaiada porque tinha hematofobia.
     A hora do almoço se aproximava, Thereza foi ao lugar onde a filha estava e percebeu que ela tinha encostado a porta. Bateu a primeira vez, a segunda, como Karoline não respondeu, resolveu entrar. Não havia ninguém no quarto, a janela se encontrava fechada, aquela situação cheirava à coisa estranha.

- Karol...Karol - Disse Thereza caminhando pelo quarto.

     A porta do banheiro também estava encostada. Ela abriu lentamente a porta e teve uma grande surpresa.

- Ai, meu Deus! Arnaldo! Arnaldo! - Gritou a mãe da menina desperadamente.

     Os pais de Karoline a conduziram as pressas ao Hospital Souza Martins, onde a menina pode permanecer sob observação e ser atendida.

- Sua filha não corre risco de vida algum. Apesar da profundidade dos cortes, ela ficará bem. Como vocês estão vendo, nós já fizemos todos os procedimentos para estancar o sangue e o curativo para evitar o contato com algum objeto contaminado, desencadeando uma possível infecção. Mas fique de olho nela, pois esse não é o primeiro caso com meninas nessa faixa etária com este tipo de comportamento que prestamos socorro. - disse a técnica de enfermagem, uma senhora baixinha e gordinha, que fez questão de orientá-los nesse sentido.

- Pode deixar. Com exceção do banheiro do quarto dela, todas as portas estão proibidas de serem trancadas com chave. - Disse Thereza.

- Ela estava bem, mas a coisa desandou de uma hora para outra. - Disse Arnaldo. Todavia, estamos mais tranquilos por não ser algo grave.

     Na volta para casa, o carro foi tomado pelo silêncio. Aquele não era o momento mais apropriado para nenhum tipo de bronca ou coisa semelhante, todo cuidado era pouco, haja vista que as coisas fugiram do controle na última vez que decidiram chamar a atenção da menina.
     Os pais de Karoline decidiram ter uma conversa franca com ela no dia seguinte, realizando uma abordagem diferente e menos tensa. Ambos decidiram faltar o trabalho, acordaram cedo e preparam um café para ser levado na cama da filha.
     Eles não bateram na porta, entraram sem fazer barulho e tomar lugar na cabeceira da cama, um de cada lado.

- Karol, Karol. - Chamou Thereza.

     A menina foi despertando aos poucos sem dizer uma palavra, se espantou ao ver os dois ali e percebeu que a mãe furacão tinha dado lugar a alguém mais gentil, pensou até que estivesse sonhando acordada ao ver Thereza acordá-la daquela maneira.

A mente de uma adolescente incompreendidaOnde histórias criam vida. Descubra agora